Ao relembrar os oitavos-de-final da Liga Europa, ficou na retina a fantástica eliminatória do Porto diante do Nápoles, onde Quaresma brilhou e, assim, tornou mais real o sonho da final de Itália. Para os quartos-de-final calhou em sorte aos dragões uma das equipas mais consistentes da Liga BBVA, o Sevilha, que luta pela presença na Champions da próxima época. A teter por parte dos azuis e brancos, jogadores como Reyes, Bacca, Marín mas, sobretudo, a grande estrela da companhia, Rakitic. Este croata, cobiçado pelos grandes de Europa, tem uma resistência física acima da média, aliada a uma técnica invulgar e um forte remate de meia-distância. Esta formação que tem na sua defesa o ponto fraco, quando pressionada acaba por ceder e, caso o Porto mantenha a postura de Nápoles, poderá ultrapassar este obstáculo, sendo preponderantes as acções do meio-campo, com Fernando e Defour, a ter que exercer uma pressão alta do primeiro ao último minuto. Conheça quais os pontos fracos deste Sevilha que, na última década, já conquistou 3 provas europeias.

Sevilha, o 5º grande espanhol

A lutar pela classificação para a Liga dos Campeões, a formação orientada pelo técnico Unai Emery espera repetir as gloriosas vitórias do Sevilha nas edições de 2005/2006 e 2006/2007 da já extinta Taça UEFA. Nessa equipa e a título de curiosidade, jogavam estrelas como Daniel Alves, Jésus Navas e os avançados Kanouté, Luis Fabiano e Saviola, astros estes que, por exemplo, venceram a Supertaça Europeia diante do Barcelona de Ronaldinho, Deco ou Messi, por 3-0, levando ao delírio os fiéis aficionados do Sevilha. Esta época de 2013/2014 tem sido claramente positiva em relação às últimas épocas e é com grande optimismo que irão defrontar o Porto nesta eliminatória.

(foto: GETTY)

A nível interno, serve como alerta ao Porto, a extraordinária sequência vitoriosa que o Sevilha alcançou recentemente, com 5 vitórias consecutivas na Liga Espanhola e, entre elas, um triunfo importante, frente ao colosso Real Madrid, de Ronaldo, Bale e Benzema. Até ao momento, os espanhóis já conquistaram 50 pontos e ocupam um confortável e merecido 5º lugar no campeonato. Este conjunto tem sido uma surpresa e o seu maior trunfo é a forte organização táctica que imprime com o seu 4x2x3x1, que lhe tem permitido ombrear de forma digna, com os grandes do futebol mundial, Real Madrid ou Barcelona. O ataque sevilhano já fez balançar as redes adversárias por 55 vezes mas, se há sector que o Porto tem que aproveitar para superar este rival é o frágil sector defensivo, que sofreu na Liga BBVA, uns consideráveis 46 golos, o que, para uma equipa que luta pela Liga dos Campeões, não deixa de ser uma estatística interessante para Quaresma, Jackson e companhia.

Contra o Real Madrid, as virtudes e as fragilidades

A contar para a 30ª jornada do principal escalão do futebol espanhol, o Sevilha recebeu os galácticos do Real Madrid, depois dos madrilenos terem sofrido a derrota frente ao rival Barcelona. Nos primeiros 20 minutos da 1ª parte, o Real Madrid superiorizou-se e, nesse período, Ronaldo bateu um livre, de forma irrepreensível, colocando o Real Madrid em vantagem por 0-1. Para os responsáveis portistas, estes primeiros 20 minutos deverão ser levados em conta, já que foi apenas neste período que o meio-campo madrileno se superiorizou ao miolo do Sevilha. Ao perspectivar um meio-campo composto por Fernando, Defour e Herrera, é essencial que estes 3 elementos pressionem o Sevilha, na 1ª fase de construção dos centro-campistas espanhóis. O Real Madrid, depois do golo marcado, perdeu esse poder de pressão, com os sevilhanos a conseguirem destronar as iniciativas de Xabi Alonso, Bale e Ronaldo e, na restante partida, foi a estrela Rakitic, que conseguiu imprimir dinâmica que permitiu, não só pressionar o apático miolo do Real, como surpreender, com passes longos, os laterais Fabio Coentrão e Carvajal. A enfrentar estes laterais, esteve em destaque Reyes, um velho conhecido do futebol português, que já jogou de águia ao peito e que, neste partida, frente aos galácticos, fez o que quis dos laterais do Real Madrid. Sem surpresa, o Sevilha aumentou o ímpeto ofensivo na 2ª parte, com destaque para o ponta-de-lança Bacca (14 golos na Liga Espanhola), que deu a volta ao marcador e bisou no encontro, apanhando desprevenidos todos os responsáveis de Barnabéu.

Neste jogo, o Sevilha alinhou com Beto (que já representou o Porto e que, neste Sevilha, ganhou destaque) na baliza, Coke, Pareja, Fazio, Moreno na defesa e Iborra e Mbia como duplo pivot no meio-campo, com Rakitic a servir como médio ofensivo, os atacantes Marín, Reyes e Bacca. Para o Porto contrariar o ponto forte deste Sevilha que é, sem dúvida, o poder de pressão que o meio-campo e o ataque conseguem imprimir às defesas contrárias, é essencial que Fernando, Defour e Herrera pressionem, desde logo, a saída dos portentosos médios, Mbia e Iborra que, na vitória frente ao Real Madrid, foram preponderantes para evitar as saídas para o ataque que Xabi Alonso costuma introduzir habitualmente. Caso este duplo pivot seja anulado, por parte do Porto, a relevância que Rakitic costuma ter, numa 2ª fase de construção do Sevilha, torna-se menos eficaz, principalmente se o Porto conseguir pressionar, da forma intensa que se verificou nas vitórias frente ao Nápoles e ao Benfica. O croata Rakitic (11 golos na Liga BBVA) é mesmo a grande estrela da equipa e, com uma boa noite europeia de Fernando, o médio criativo dos espanhóis pouco ou nada poderá fazer para servir os velocistas e tecnicistas atacantes Reyes, Marín e Bacca.

Recapitulando, caso os dragões consigam ultrapassar o sector mais forte do Sevilha, jogadores como Quaresma, Varela ou Jackson poderão encarar o frágil reduto defensivo que é composto por centrais lentos, como são Pareja e Fazio que, perante jogadores tão rápidos como o Porto tem na frente, terão grandes dificuldades para ultrapassar os portugueses. Comparando o Nápoles com o Sevilha, é inegável que os italianos têm melhor conjunto mas os espanhóis têm claramente mais organização e, como a eliminatória se joga em duas mãos, o Porto terá que apresentar índices de concentração máximos porque a mínima distracção poderá ser fatal, perante tanta qualidade dos jogadores espanhóis da frente. Perante tudo isto, os azuis e brancos têm todas as condições para ultrapassar este rival e permanece bem vivo o objectivo de chegar à final de Maio.

Foto 2: Cordon Press