2014 assistiu a uma das maiores revoluções da história da Fórmula 1, no que às directrizes técnicas diz respeito, com a maioria das novidades a incidir sobre as unidades motrizes. Um efeito secundário da alteração aos motores é o ruído produzido pelos mesmos, que são hoje mais silenciosos do que os seus predecessores, e este ponto tem levantado um coro de críticas, integrado por alguns dos principais protagonistas da modalidade.

Os motores V6 de 2014

A FIA decidiu-se pelo abandono dos motores V8 de normal aspiração, de 2,4 L, em prol da implementação de motores V6 turbo de 1,6L, híbridos – com crescente percentagem da potência a resultar do sistema ERS (Energy Recovery System), uma evolução do KERS (Kinetic Energy Recovery System) existente no passado, que agora recupera e transforma em energia eléctrica a energia gerada pela travagem e ainda o calor produzido pelo turbo.

A alteração na configuração dos motores resulta numa perda de cerca de 150 cavalos (dos 750 para os 600), que se procura compensar com o maior apoio eléctrico, agora podendo gerar até 160 cavalos disponíveis durante um máximo de 33 segundos por volta, e estando ainda limitados a 15 mil rotações por minuto. (Foto: Mercedes)

Muito barulho sobre pouco ruído

 

Pese embora a grande quantidade de alterações e imposições introduzidas nos motores, não é tanto a potência disponível nem o suporte eléctrico que tem incomodado pilotos e engenheiros. De facto, é a diminuição do ruído produzido pelos motores que tem merecido maiores e mais frequentes críticas, com o próprio Bernie Ecclestone (CEO da Formula One Management) a mostrar-se desagradado com o volume produzido pelos novos monolugares. No início da temporada, Ecclestone afirmara-se «horrorizado» com o baixo volume, tendo chegado a dizer que era necessário pôr os carros a «soar como carros de corrida». No rescaldo do GP da Malásia, o patrão da F1 moderou o discurso e confessou que «afinal [o som] é melhor do que eu pensava», mas alertou para que talvez muitos espectadores pensem já não se tratar de F1.

Vettel foi também muito crítico da sonoridade dos V6 turbo. Para o tetra-campeão mundial, a pitwall é agora «menos barulhenta do que alguns bares». No rescaldo do GP da Malásia, Vettel foi ainda mais duro, dizendo abertamente que «o som dos V6 é uma m****» e que é uma pena que os motores já não rujam como anteriormente, recordando ainda que o barulho dos monolugares foi uma das coisas que aos seis anos o entusiasmou na F1.

Se o som dos novos motores turbo híbridos tem sido muito criticado, várias vozes têm igualmente saído em defesa desta nova Era da Fórmula 1. Nico Rosberg concordou que a mudança é positiva para a modalidade, e Button foi mesmo mais longe, dizendo que não importa o som, mas sim a condução: «Quando ganhas uma corrida ganhas uma corrida, nã

o interessa como soa [o motor].», e acrescentou: «Vão correr para outro lado, se não estão satisfeitos.» Da mesma opinião é Claire Williams, chefe da equipa que lhe dá o apelido: «Pessoalmente gosto do som dos motores (…) Penso que as pessoas rapidamente se habituarão àquilo a que soam os motores de F1. Tivemos tantas mudanças ao longo de tantas décadas de corridas e muito depressa se esquece o que o anterior motor soa; acho que as pessoas só querem ver uma boa corrida.»

Toto Wolff, o famoso dono da Williams, foi também peremptório ao marcar a posição da equipa, fazendo coincidir a sua visão com a opinião ultimamente expressada por Bernie Ecclestone, de que a equipa que melhor trabalho tem realizado com os novos regulamentos não seja agora penalizada: «Estamos a oito décimos do tempo da pole do ano passado com um carro que tem menos 25 por cento de apoio aerodinâmico, pneus mais duros, consome menos 30 por cento, é mais pesado, tem mais potência e binário e por fim anda muito mais depressa em recta. Portanto, estamos a falar de quê? Atravessamos uma enorme revolução técnica e há quem faça declarações a deitar a modalidade a baixo. Regras são regras, foram implementadas há muito tempo. Acham que faz sentido vir alguém duma equipa dizer para se aumentar a quantidade de combustível desculpando-se com o facto de não terem feito o seu trabalho?», questionou Wolff, sentenciando: «Acho esta discussão totalmente absurda.»

No rescaldo da emocionante corrida no Bahrain, Nico Rosberg declarou que se presenciou um grande dia para a F1, depois das recentes críticas: «Acho que amanhã [os críticos] estarão em silêncio, e isso é algo bom.»

Menos barulho e menos gasolina

Mais grave do que o som, porém, serão as limitações de combustível impostas. Recordemos que, no GP da Austrália, Daniel Ricciardo (Red Bull) foi desclassificado por não respeitar a limitação no fluxo de combustível (100kg/h), uma das novas restrições da temporada de 2014, assim como o máximo de 100kg de combustível por corrida. Este tecto de gasolina disponível tem forçado os pilotos a uma gestão mais cuidada, queixam-se algumas equipas, que assim os impedem de atacar tanto quanto desejado. As mais recentes críticas a esta situação vieram da scuderia italiana: Luca di Montezemolo, Presidente da Ferrari, veio afirmar que «Na F1 temos de ir aos limites da primeira à última volta. (…) O público não quer ver um piloto como se fosse um taxista, que tem de estar preocupado com os consumos; isso não é a Fórmula 1.» (Foto: Autoevolution.com)


Sobre este assunto, Bernie Ecclestone também já declarou o seu desagrado, e afirmou que esse tecto deveria ser aumentado em 10kgs, por exemplo, ainda que tenha feito questão de lembrar que a Mercedes está a fazer um excelente trabalho e que não deve ser punida com alterações nas regras por causa disso. Um tal aumento do tecto de combustível não deverá, porém, vir a verificar-se, uma vez que a maioria das equipas terá construído os seus monolugares com um tanque a pensar nos 100kgs.

Ainda sem quaisquer decisões à vista, com vozes discordantes sobre as diversas matérias e com os intervenientes a expressar o medo de perder fãs e espectadores da modalidade, o desenrolar da época trará certamente novidades no que a eventuais decisões sobre estes regulamentos diz respeito.