Cambalhota épica na eliminatória, três golos vermelhos pintaram a Luz de festa vibrante, deixando o FC Porto afastado da Taça de Portugal aos pés do rival Benfica. Os portistas vieram para Lisboa com uma vantagem de um golo mas foram trucidados pelo coração encarnado, que lutou até obter a vantagem necessária para seguir em frente. Quando o golo de Varela empatou a contenda de hoje, aos 52 minutos de jogo, a eliminatória ganhou fortes contornos de azul, mas nem o tento portista nem a expulsão de Siqueira travaram e embarcação benfiquista de navegar rumo à final da competição, remetendo o Porto ao naufrágio humilhante de perder por 3-1 com um jogador a mais.

Pleno de emoção e incerteza, o clássico teve todos os ingredientes para um suspense inquietante: golos, batalhas individuais e marcações cerradas, duelos ferozes, cânticos, fervor e um golo de bandeira como clímax derradeiro: André Gomes recebeu a bola de peito, já no interior da área, picou sobre Fernando e rematou para um golo decisivo que levantou todo o estádio. O golo tão desejado chegou aos 79 minutos e decretou uma derrota que lança o Porto para um fim de época penoso. Depois do apito final de Pedro Proença, a Luz explodiu de alegria e os festejos contagiaram a equipa, que assim vingou a eliminação imposta pelo Porto na meia-final da Taça de Portugal na época 2010/2011, quando os portistas viraram estrondosamente um 0-2 com um 1-3 em pleno relvado benfiquista.


Salvio deu esperança e Siqueira fez por tirar

O primeiro golo da partida surgiu por intermédio de Salvio, depois de um passe milimétrico de Gaitán, que serviu o compatriota na perfeição: Salvio saltou entre a passiva defesa portista, cabeceando para o fundo das redes de um Fabiano mal batido. Minuto 17 e logo a primeira explosão de felicidade por parte dos 44 mil adeptos benfiquistas. De ressalvar o contributo essencial de Rodrigo, que desce até ao meio-campo para carregar a bola até a deixar nos pés de Gaitán. Com a eliminatória empatada, Siqueira resolveu perder o discernimento e derrubar Quaresma de modo agressivo - segundo cartão amarelo, vermelho para o lateral esquerdo ainda antes da meia hora de jogo.

O Benfica cedeu terreno e lidou com a natural expectativa, tirando Cardozo e colocando André Almeida, mirando nos olhos um Porto que subia as linhas e elaborava o golo que daria a liderança na eliminatória. Tal golo nasceu dos pés de Varela, que com um jogo de pés trocou os olhos ao recém-entrado Almeida, disparando depois com assertividade para o 1-1, aos 52 minutos. A Luz antevia mais uma eliminação, olhando para um cenário negro: perdendo a eliminatória, precisando de marcar dois golos e, ainda para mais, com menos um jogador em campo.

Salvio deu esperança: parte dois

A chave da reentrada do Benfica no jogo deveu-se dois factores: à grandiosidade da exibição de Salvio e à rapidez com que os encarnados respoderam ao golo de Silvestre Varela. Volvidos apenas 6 minutos, o extremo argentino correu para a linha de fundo, penetrando na área em duelo corporal com Reyes, acabando por ser derrubado pela inexperiência do central mexicano do Porto. Grande penalidade concretizada por Enzo Pérez, renovando a esperança dos adeptos vermelhos. Com 30 minutos para se jogar, o Benfica precisava ainda de mais um golo para seguir adiante na prova...

Posse de bola para nada se possuir no final

O futebol do Porto nunca conseguiu ser incisivo o suficiente para baralhar a calma benfiquista, mesmo quando a equipa da casa esteve por baixo na eliminatória. A estratégia de posse de bola e controlada circulação nunca desposicionou o desenho encarnado, que mesmo sem Siqueira, expulso, permaneceu sólido. O Porto tentava ludibriar o Benfica, apelando à pressão, mas nunca dispôs de engenho para perfurar possíveis espaços dados pela formação oponente, prova disso é o golo azul e branco, que nasce de uma jogada individual e não de uma manobra colectiva.

Com Herrera tímido e Defour com tracção à média defensiva, o Porto não foi lesto a explanar o seu jogo a meio-campo, atrevendo-se poucas vezes com esses dois médios. Quaresma tentava desequilibrar nas extremidades, mas o avançado Jackson, longínquo, não se conectava com o jogo vindo das alas. No período em que o 1-1 foi vigente, foi do Benfica a melhor ocasião para marcar, com Rodrigo a falhar à boca da baliza, depois de um mimoso passe de Gaitán.

André Gomes inventou o 3-1 e aniquilou os restos de um Porto naufragado

Decorria o minuto 79 quando André Gomes, surpresa do onze, inventou um lance genial que coroou uma vitória excelente. Recepção de peito, chapéu sublime a Fernando e tiro de glória para o 3-1 final, sentença de morte deste débil Porto na Taça de Portugal. O golo ergueu o estádio num júbilo que ansiava por ser libertado. André Gomes exultou, vibrou, tirou a camisola e festejou o momento mais marcante da sua ainda curta carreira profissional. O brilhantismo do lance não esconde a passividade reincidente da defesa portista, estática demais para parar a perícia de Gomes.

O Porto, perdido na Luz, acentuou a má época e perdeu um último título prestigiante que lhe restava. Em três jogos, 8 golos sofridos, uma péssimas actuações em duas dessas partidas (Sevilha e Benfica) e a certeza de que este ano é o pior das suas últimas décadas. De relembrar que desde 1993 que o Benfica não batia o Porto duas vezes num ano civil. Vestígio de que algo estará para mudar no modo hegemónico como o Porto tem-se exibido?

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