Época atípica, planeamento incompleto, estratégia técnica falhada, derrotas e falhanços competitivos: assim se pode resumir a época portista e o rendimento dos «dragões» em 2013/2014. Agora que a temporada está prestes a atingir o clímax com o triunfo nacional do Benfica, o Porto vê-se rendido às cruas evidências: apenas com a Taça da Liga no horizonte, a turma portista nada mais tem a ganhar. Afastada da discussão do título e eliminada da Liga Europa e da Taça de Portugal, a formação ainda campeã termina a época numa depressão exibicional raramente vista antes.

Onze derrotas até à derrota geral

A temporada até começou com festejos azuis: um claro 3-0 diante do vencedor da Taça de Portugal levou os portistas a afiançarem-se na pujança da equipa. Conquistada a Supertaça Cândido de Oliveira, o campeonato até começou de feição para a turma azul, com o Benfica a tropeçar sucessivamente e o Sporting a recusar candidaturas ao título. Com 5 pontos de vantagem sobre o rival Benfica, o título parecia encaminhado mas, a crise instalou-se no reino do Dragão. Paulo Fonseca, que nunca foi capaz de convencer os mais exigentes adeptos, sucumbiu à pressão e, à data da saída do ex-treinador pacense, o Porto já tinha desbaratado a vantagem pontual: estava virtualmente fora da luta pelo campeonato. Luis Castro, o sucessor, pouco poderia fazer para travar o comboio nortenho desenfreado.

Além da medíocre actuação na Liga Zon Sagres, o Porto nunca convenceu nas competições europeias: a primeira derrota portista surge contra o Atlético de Madrid, por 1-2 no Dragão, chegando a segunda de novo no contexto europeu, 0-1 contra o Zenit, novamente em casa. A 30 de Novembro chegou a primeira derrota nacional, diante da Académica, 1-0 em Coimbra. No dia 11 de Dezembro o Atlético de Diego Simeone voltou a bater o Porto, agora por 2-0, sendo a primeira derrota de 2014 contra o rival Benfica, na Luz, por 2-0, numa partida do campeonato. Seguiu-se o Marítimo (1-0 nos Barreiros à 17ª jornada) e o Estoril (0-1 à 20ª jornada).

A derrota contra o Sporting, em Alvalade, foi a capitulação do sonho do título e um derradeiro passo atrás na luta pelo segundo lugar. O mês de Março não acabou sem nova derrota para a liga nacional: 3-1 diante do Nacional, na Choupana. A época aproximava-se do fim e as humilhações maiores estavam para vir: 4-1 contra o Sevilha e agora o 3-1 na Luz - dois pesados resultados que eliminaram o Porto das duas competições ainda no horizonte.

A ironia da Taça da Liga

Sem nada mais para ganhar, à excepção da subestimada Taça da Liga, o Porto vê-se obrigado a lutar por um troféu que nunca granjeou importância no seio do clube portista. Longe de poder salvar a época, a dignidade da equipa e da instituição não poderá, ainda assim, descurar a conquista de mais um título. Caso vença a Taça da Liga (terá de ganhar ao Benfica ou sofrer nova humilhação às mãos do rival...) somará dois troféus (os menos cotados), não conseguindo, mesmo assim, disfarçar o péssimo momento atravessado.

Dada a fraca «performance» geral da equipa, à qual não poderá nunca ser alheia a má preparação da época e a construção de um plantel assimétrico, o Porto precisará de rever os seus processos de trabalho e alterar a incongruente dinâmica de gestão que impôs durante esta temporada: falta de extremos logo no início da temporada (com Kelvin na B, Iturbe emprestado e Sebá dispensado), falta de opções nas laterais da defesa, vendas inoportunas (Otamendi, Lucho) e apostas tardias em alguns valores da equipa, caso de Ghilas, Herrera, Reyes ou Fabiano. Caso a tendência atípica venha para ser tornada norma, não haverás dúvidas que a hegemonia do Porto poderá ser abalada pela competitividade dos outros concorrentes, que não escondem a sua renovada vontade de dominar.