Nenhum outro treinador das ligas da elite do futebol europeu começou a temporada tão pressionado como Jorge Jesus. O comandante benfiquista iniciou esta 2013/2014 com uma missão um tanto complicada, que era a de reerguer o clube após perder três taças ao final da última temporada em um intervalo de apenas 15 dias.

A primeira se foi contra o arquirrival Porto, pela Liga Sagres. O jogo, que foi realizado no Dragão, era praticamente a final da competição nacional. Como o Benfica estava a dois pontos na frente do rival, com uma vitória, a taça seria das águias. No caso de derrota, o time azul assumia a liderança. E o resultado não foi outro: vitória do Porto por 2 a 1, com aquele gol do jovem brasileiro Kelvin já nos acréscimos do segundo tempo. Até um empate servia para o Benfica, que apenas necessitaria vencer seu próximo jogo para se tornar o campeão português. Mas sofreu este gol que até hoje dói na alma encarnada.

A segunda derrota foi pela Europa League, contra o Chelsea. Outra traumática perda. Empatava em 1 a 1 até os acréscimos do segundo tempo e o jogo já se encaminhava para a prorrogação, quando, no último minuto do jogo, saiu, da cabeça de Ivanovic, o gol que tirou qualquer chance de título continental das mãos encarnadas. Esta, mesmo em uma competição a nível europeu, foi menos traumática que a perdida para o Porto - por incrível que possa parecer.

O terceiro troféu fez a ira benfiquista explodir. Era o troféu que poderia salvar a temporada, o troféu da Taça de Portugal, contra o Vitória de Guimarães. O Benfica tinha time para vencer com sobras. Mas não venceu. Mais um 2 a 1 para o adversário, só que desta vez de virada. Perder de virada a última e única possível taça da temporada? Nem o próprio plantel acreditou. Oscar Cardozo, inclusive, protagonizou uma cena lamentável, porém totalmente compreensível, levando em conta o clima de tensão e desespero que todos se encontravam após perderem esta terceira competição.

Após o apito final, quando os torcedores do Vitória comemoravam a inédita, Cardozo partiu para cima de Jesus e o empurrou com força, gritando "O culpado és tu!". O paraguaio explodiu por vários fatores, que foram as perdas da Liga Sagres, Europa League, Taça de Portugal e por ter sido substituído neste último jogo, tendo em mente que ainda poderia ajudar o Benfica a salvar a temporada. Se arrependeu do que fez e pagou por isso, perdendo quase que toda a primeira parte da temporada.

As três derrotas motivaram toda a torcida benfiquista e também parte da imprensa a saírem contra Jorge Jesus. Pediam sua cabeça de forma desesperada, afinal, na visão dos adeptos, não havia mais como sentir-se humilhado após perder três taças em um espaço de tempo tão curto. Luís Filipe Vieira o segurou, para a revolta da maioria. Reconheceu o trabalho de Jesus, em conseguir transformar este time em uma equipe competitiva, e lhe deu mais uma chance. Foi um tiro certeiro do presidente das águias.

Jesus precisava de tempo. Como eu havia dito, oito meses atrás, o comandante benfiquista precisava de um pouco mais de tempo e paciência para trabalhar. É revoltante perder três finais consecutivas, mas nessas horas, pensar com a cabeça fria é vital. Jesus tinha muito a oferecer ao Benfica. Teve a infelicidade de perder as três finais que disputou - como dissemos acima, a derrota contra o Porto, pela Liga Sagres, era considerada uma final -, porém, tínhamos que lembrar do seu excelente trabalho até aquelas três decisões.

O futebol não é um esporte justo. Dos três títulos perdidos na última temporada, o Benfica merecia levar os três. Foi como o Bayern de Jupp Heynckes, na temporada 2011/2012, quando perdeu tudo o que disputou. Não que merecesse levar todos os títulos, a Bundesliga deveria ser de fato do Borussia Dortmund. Mas isso não vem ao caso. O que importava, naquele instante, era como Jorge Jesus colocaria seu time nos trilhos para que na próxima temporada disputasse novamente os títulos que havia perdido na última. E o que ele fez foi exatamente o que Jupp Heynckes fez com o Bayern: trabalhar com a parte emocional da equipe, motivá-los a vencer.

Mas o Benfica não possui o orçamento que o Bayern tem para manter seus jogadores na Luz. Durante a temporada, foi sofrendo baixas, mas também contou com gratas surpresas. Jesus resolveu não apostar na base benfiquista nesta temporada, mas sim nos jogadores provenientes da Sérvia, como Fejsa, Duricic, Sulejmani e Markovic. Foram mais um tiro no alvo dado por Jesus, já que eles corresponderam bem às expectativas - principalmente Markovic.

Com o brasileiro Lima marcando inúmeros gols, Rodrigo, jovem promessa espanhola, logo atrás dele, com com Oscar Cardozo marcando seus gols decisivos - algo característico do paraguaio, pelo menos com a camisa do Benfica -, também com o argentino Gaitan dando suas assistências, Maxi Pereira, o zagueiro-artilheiro Garay e o capitão Luisão dando muita segurança lá atrás, não deu outra: o clube conquistou seu 33º título português, na Páscoa, data perfeita para marcar a 'ressurreição' do técnico Jorge Jesus e também do gigante clube da capital portuguesa no cenário lusófono.

O clube da capital portuguesa atingiu o topo de sua nação com duas rodadas de antecedência, sete pontos de vantagem para o segundo colocado - Sporting - e 18 pontos à frente daquele que o fez chorar na rodada anterior e hoje está muito mal das pernas, o Porto

O título foi extremamente comemorado, um misto de sentimentos invadiu o coração do torcedor e também dos jogadores o Benfica. Não era só felicidade que estava no ar, era o sentimento de alívio, de finalmente poder voltar a gritar campeão. A alegria foi tanta que Jorge Jesus até foi confundido com um torcedor do Benfica, na comemoração do título. Veja só a alegria do comandante das Águias:

Esta conquista veio em uma temporada complicada para os encarnados, que perderam dois de seus grandes ídolos recentemente: o monstro sagrado Mário Coluna e o maior de todos, Eusébio. É claro que a conquista foi dedicada aos dois mitos que marcaram seus nomes não só no Benfica, como também na seleção portuguesa e na história do futebol daquele país.

E a temporada benfiquista, que já foi coroada com o título da Liga Sagres, pode ficar ainda melhor. Novamente, Jesus colocou o Benfica na final da Taça de Portugal - enfrentará o Rio Ave na decisão -, e também está na final da Uefa Europa League, onde tem a complicada missão de derrotar a Juventus, apontada por muitos como a favorita ao título do competição. Um título menor, que é o da Copa da Liga, também poderá ser conquistado, já que o Benfica está na semifinal e terá que passar pelo Porto para enfrentar o mesmo Rio Ave da decisão da Taça. Mas o grande foco benfiquista mesmo, na temporada, são Liga, Taça e Europa League.

Será que o Benfica conseguirá conquistar esta trinca de títulos? Um já veio, restam outros dois, que são bem distintos. Na Taça de Portugal, os encarnados são considerados francos favoritos, enquanto na Europa League, o que vier é lucro. Uma coisa é certa. Se depender da motivação dos jogadores e também de seu técnico, a Juve correrá sérios riscos de não realizar o sonho de disputar a final da UEL em seu estádio.

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Sobre o autor
Bruno Secco
Jornalismo. Apaixonado por uma boa música e pelo bom futebol.