O Benfica recebeu na Luz a Juventus e, debatendo-se contra o favoritismo da «vecchia signora», logrou acabar os 90 minutos com uma estóica vitória de 2-1. Ontem, na primeira mão da meia-final da Liga Europa, os encarnados entraram a surpreender, com um golo madrugador do central Garay, que subiu mais alto que Bonucci para adiantar o Benfica no marcador, logo ao terceiro minuto de jogo. A pressão benfiquista na primeira fase de construção da Juventus obrigou, tanto a linha média como a retaguarda italianas a perder bolas e a cair em alguns sobressaltos estruturais. Rodrigo, Sulejmani, Markovic e até Enzo, souberam asfixiar o perímetro de Pirlo e dos três centrais, quebrando-se assim a ligação entre a saída de bola dos jogadores mais recuados (Bonucci, Cáceres e Chiellini) e o meio-campo de Pogba e Marchisio.

Pirlo errava passes e, por conseguinte, também a Juventus emperrava quando tentava ultrapassar a linha do meio-campo, abusando dos passes longos para Asamoah e das combinações precipitadas em zonas mais adiantadas do terreno. André Gomes e Enzo controlaram grande parte das operações durante a primeira metade, enchendo o relvado com classe e supervisão competente: Pogba deve a isso o seu fraco início de jogo, assim como Marchisio. Nem pelas alas os italianos conseguiram desmanchar o domínio territorial do Benfica: Asamoah e Lichtsteiner foram inofensivos nos primeiros 45 minutos. No segundo acto, a Juventus reconfigurou-se e tomou conta do jogo, usando os corredores laterais com maior acutilância, a par da velocidade de Tévez. O pequeno argentino foi decisivo no golo bianconeri.


Benfica - Juventus 2 -1 All Goals Semifinals...

Garay volta a mostrar à Europa o que é um central goleador

O central argentino voltou a marcar, erguendo-se oportunamente e ganhando com facilidade o duelo com o imponente Bonucci. Garay marcara já frente ao Tottenham, nos oitavos-de-final da competição. Ontem, quando o Benfica beneficiou do seu primeiro canto, logo aos três minutos, o central subiu pelo meio do arvoredo de jogadores italianos, cabeceando para o golo inaugural após passe de Sulejmani. Garay conta com 8 golos esta época, seis apontados na Liga Zon Sagres e dois no contexto europeu.

Cardozo foi a surpresa mas a exibição esteve longe de surpreender

Jorge Jesus voltou a apostar no gigante Cardozo para o ataque à Europa, mas o paraguaio esteve longe de poder participar com efectividade na partida. O ponta-de-lança de 30 anos foi um elemento a menos na manobra ofensiva, apresentando-se imóvel, incapaz de acompanhar o ritmo acelerado de Markovic e Sulejmani, nas alas, e muitos furos abaixo da agilidade e dinâmica de Rodrigo, seu companheiro de ataque na ocasião. Pouco pressionante e fácil de marcar, o paraguaio passou ao lado do jogo, uma hora de corpo presente, logo corrigida por Lima: o brasileiro entrou e vinte minutos depois marcava para dar a vantagem aos encarnados.

Depois de Alkmaar, Artur repete exibição categórica

Já o tinha demonstrado em Alkmaar e voltou a brilhar no âmbito europeu: Artur realizou um punhado de belas defesas, mantendo o Benfica na luta. O guarda-redes brasileiro não precisou de ser espectacular mas ainda assim demonstrou segurança, concentração e coordenação, qualidades que negaram o golo aos adversários: a sapatada na bola, depois de um cabeceamento de Pogba, aos 55 minutos, ficou na retina e provou que o agora habitual suplente encarnado está a voltar à sua melhor forma. Opôs-se com firmeza a remates de Chiellini e Marchisio.

Lima é o homem-golo dos momentos cruciais

Entrou e vinte minutos depois, aos 83, marcou um golo de belo efeito, um tiro colocado que deixou Buffon com feições de inapelável desespero. Lima entrou para o lugar de Cardozo e rapidamente aproveitou os espaços entre as linhas defensivas da Juve para desequilibrar o forte italiano. Servido por Cavaleiro após toque subtil do extremo luso, Lima desmarcou-se com o intuito de disparar de primeira, fuzilando Buffon e colocando os encarnados na liderança da eliminatória - excelente movimento ofensivo das «águias», com um movimento da lateral para o interior. Pirlo não patrulhou a fuga de Lima e Rodrigo «agarrou» dois defesas no coração da área, conjugando-se tudo a favor do brasileiro, que voltou a ser decisivo.

Essencial na eliminatória contra o PAOK, ao marcar o golo solitário do 0-1 na Grécia, e igualmente fundamental no 2-2 diante do Tottenham (concretizou a penalidade que acalmou o Benfica), Lima voltou a ser importante, finalizando da melhor forma um lance que poderá fazer toda a diferença no final da contenda com a favorita Juventus. Com 21 golos em toda a época, Lima é o artilheiro mais forte dos encarnados: este golo apenas sublinha ainda mais o peso do avançado na expressão ofensiva do Benfica 2013/2014.

Tévez foi uma ameaça constante

Obrigado a recuar no terreno para ajudar a povoar o meio-campo e a carregar jogo para a frente de ataque, o furtivo e virtuoso Tévez foi sempre a maior ameaça italiana às redes de Artur. Rápido a fugir pelas alas, tecnicamente capaz de driblar qualquer marcador, o internacional argentino pisou diferentes zonas, explorando debilidades e oscultando a capacidade encarnada para parar o seu ímpeto atacante. As ameaças da primeira parte ficaram por concretizar mas, na segunda, o golo acabou mesmo por surgir: entrada pela zona interior, recebendo a bola proveniente do flanco, finta sobre dois precipitados defesas (Luisão e Maxi), concluíndo depois com um remate certeiro.

Juventus intensificou jogo pelos corredores

A maior dinâmica flanqueadora da Juventus na segunda parte obrigou o Benfica a estar mais vigilante, mais cauteloso. Jorge Jesus tirou um extremo puro, Sulejmani, e colocou André Almeida, de modo a tapar os caminhos da baliza de Artur com maior apetência defensiva no meio-campo. André Gomes descera de produção e Enzo não se expandia como anteriormente. A pressão da Juventus era clara e o golo acabou por se tornar realidade: passe esticado de Pirlo para Asamoah, colado ao flanco, novo passe, agora interior, para a entrada de Tévez, já dentro da área vermelha.

Benfica decidirá em Turim o passaporte para...Turim

Com este resultado tudo se mantém em aberto para a derradeira partida da eliminatória, em Turim. O Benfica parte em vantagem e terá de dissertar sobre uma estratégia que passe pela rápida obtenção de um golo forasteiro que coloque a Juventus num sobressalto complicado de resolver. O golo de Tévez abala as pretensões benfiquistas e poderá ser o tónico necessário para a remontada biaconeri, que terá a seu favor o factor casa. Em Turim, daqui a uma semana, o Benfica decidirá se estará presente na grande final da Liga Europa...em Turim. Desse ponto de vista, a pressão da vitória estará do lado da «vecchia signora», que tem a oportunidade de jogar o jogo de todas as decisões na sua própria casa.