A ironia tem destas coisas: o FC Porto, clube que se habituou a secundarizar (o termo é até ligeiro) a Taça da Liga, vê-se agora perante a hipótese de apenas poder conquistar...a Taça da Liga. Na sequência de uma temporada trágica, repleta de más exibições, conturbações e protestos da massa adepta, o Porto, afastado da Liga Zon Sagres precocemente, atirado borda fora da Taça de Portugal (pelo rival Benfica) e goleado na saída da Liga Europa, apenas vê restar a Taça da Liga no caminho de um ano 2013/2014 penoso.

Menorizada e habitualmente desprezada pela instituição portista, a Taça da Liga é agora a última hipótese de conquistar um troféu, que, a ser arrebatado, se juntará à Supertaça. vencida ainda pelo demissionário Paulo Fonseca. A pressão estará do lado portista: jogando em casa frente ao rival que se veste actualmente de sucesso, o Porto estará obrigado a vencer para não passar nova humilhação frente ao Benfica - depois do 2-0 na Liga e da reviravolta na Taça de Portugal, perder novamente significará a terceira derrota às mãos do Benfica, esta temporada.

Taça da Liga nada salva

Chegados aqui, os portistas pouco poderão a mais almejar, já que todos os seus objectivos foram riscados da lista, não havendo forma de salvar uma época que a todos surpreendeu, pela negativa. Sabendo-se da tradicional desvalorização do troféu por parte da direcção azul e branca, uma vitória na competição não beliscará a péssima temporada realizada, não salvando a má memória aziaga de tiro que saiu pela culatra ao clube nortenho: a contratação do treinador falhou, o planeamento do plantel foi insuficiente, a gestão da crise de resultados foi fraca e o plano exibicional deixou sempre a desejar.

«Não me importo de perder todos os jogos na Taça da Liga», afirmou em 2011 o presidente do Porto, Pinto da Costa, no rescaldo de uma derrota frente ao Benfica, a contar para a Taça da Liga. O histórico dirigente chegou a declarar que a competição «é a Taça do Benfica», caracterizando ainda a prova como «o grande objectivo» encarnado. Como encarará agora o FC Porto a Taça da Liga e o duelo ante o rival, novo campeão nacional? Jogará na máxima força, contrariando a tradicional filosofia actuante, ou desvalorizará de novo a contenda?

Benfica poupa em Taça que já venceu 4 vezes

O Benfica poupará vários jogadores no jogo de hoje, pensando já no grande desafio de Turim, frente à poderosa Juventus. Depois da vitória em casa, por 2-1, a formação da Luz encarará esta partida como um objectivo secundário já que o duelo europeu, esse sim, poderá, em casa de vitória encarnada, carimbar o passaporte para a final que os benfiquistas tanto almejam. Entre a final da Taça da Liga e a final da Liga Europa, a escolha será fácil: Jorge Jesus vai descansar activos como Fejsa, Gaitán, Luisão e provavelmente Enzo Pérez, de modo a contar com um onze fresco em Itália.

O Benfica tem uma tradição triunfante na competição, com quatro consagrações consecutivas, de 2008/2009, com Quique Flores, até 2011/2012, já com Jesus aos comandos. Nessas quatro finais, o Benfica apenhas encontrou o FC Porto numa ocasião, precisamente na temporada do título nacional de 2009/2010. A vitória, folgada, coroou os encarnados e castigou os portistas: 3-0, com golos de Amorim, Carlos Martins e Cardozo. Na primeira edição vencida pelo Benfica, a final controversa deu-se contra o rival lisboeta Sporting.

Luis Castro: terceiro duelo contra a armada vermelha

Em pouco tempo, este será o terceiro duelo do treinador Luis Castro contra a equipa das «águias»: dois jogos para a Taça de Portugal fazem por enquanto o histórico do técnico que sucedeu a Paulo Fonseca. Uma vitória em casa, por 1-0, e uma potente reposta do Benfica na Luz, com um 3-1 que esmagou as pretensões portistas em levantar o troféu. Agora, no Estádio do Dragão, o Porto pode equilibrar as contas do duelo directo, empatando a batalha pessoal dos dois clubes.

Quintero pode ser trunfo do Dragão

Utilizado diante do Rio Ave, o jovem ex-Pescara poderá ser o trunfo portista para baralhar o meio-campo encarnado e desequilibrar a sua composição defensiva. Quintero entrou na segunda parte da partida contra os vilacondenses e rapidamente assumiu o papel de quebra-cabeças, assistindo inclusivamente Herrera para o segundo tento azul e branco. Rápido com a bola nos pés e imprevisível na tomada de decisões, Quintero tem as potencialidades necessárias para dar vida ao enfadonho meio-campo do FC Porto, demasiado preso à mecânica empregue por Defour, Herrera e Carlos Eduardo.