Duplamente eliminado pelo rival Benfica em duas competições (Taça de Portugal e Taça da Liga), o FC Porto não só foi derrotado dentro do campo como averbou, nos dois encontros diante dos encarnados, duas pesadas derrotas anímicas que golearam o orgulho portista: nas duas ocasiões, os «dragões» foram ultrapassados...mesmo estando em superioridade numérica. Não bastando o facto de terem sido afastados de duas provas internas diante do visceral rival, os portistas tiveram ainda de assistir a tal derrocada mesmo com a sua equipa a jogar com mais um elemento em campo, realidade que expôs as fraquezas da formação de Luis Castro e denunciou, limpidamente, o culminar de uma temporada mal elaborada desde o começo.

Dois falhanços com tudo a favor

Facto incontornável: o FC Porto dispôs de duas situações extremamente cómodas para bater o rival encarnado mas, por inércia, inépcia e falta de atitude, falhou redondamente o objectivo de atingir as duas finais que lhe restavam. Na Taça de Portugal, visitou a Luz com uma vantagem de um golo (golo de Jackson Martínez no Dragão) e mesmo com a expulsão de Siqueira foi incapaz de se superiorizar ao Benfica, acabando por capitular nos minutos finais.

O Benfica empatou a eliminatória com um golo de Salvio, mas o vermelho mostrado ao lateral esquerdo vermelho veio dar ao Porto todas as chances de voltar a liderar a contenda e, em superioridade, finalizar o tira-teimas a seu favor. Varela empatou mas, mesmo com 10 elementos, o Benfica marcou dois golos, a quantia certa para jogar borda fora o rival. Enzo, de grande penalidade, e André Gomes, pleno de classe, foram os marcadores da desgraça portista.

Na Taça da Liga, o jogo do passado Domingo voltou a narrar-nos uma história muito similar. O Porto, enfrentando um Benfica embrenhado nas exigências da Liga Europa, jogou na sua máxima força, apostando as suas fichas numa competição que sempre desprezou. Já o Benfica, preocupado com o empolgante objetivo europeu, deixou jogadores cruciais (Enzo, Luisão, Garay, Markovic, Maxi, Fejsa, Gaitán e Rodrigo) fora do onze titular, dando a entender a secundarização (pontual) da Taça da Liga.

Em pleno Dragão, o Porto tinha a responsabilidade de se superiorizar a um Benfica longe da proficiência da sua equipa mais rodada, mas tal não aconteceu. Apesar das várias chances de golo de Jackson (todas desperdiçadas com displicência) e da partida esforçada e competente de Herrera (várias assistências para golo cantado), o Porto não foi capaz de aproveitar a expulsão de Steven Vitória, logo ao minuto 31, permitindo ao Benfica um controlo passivo do jogo.

Pouco assertivo no balanceamento ofensivo, o FC Porto circulou a bola mas nunca lhe deu vazão, usando da monotonia para quebrar uma defensiva encarnada bem organizada (a entrada de Garay estabilizou o sector) e que subiu de rendimento à medida que os «dragões» esgotavam as suas ideias atacantes. O passar dos minutos apenas beneficiava a equipa mais apta a lidar com a pressão: o Benfica. No duelo das penalidades (que está longe de ser uma 'lotaria', como muitos lhe chamam...) venceu, logicamente, quem mais arcaboiço competitivo (aspecto mental incluído) apresentou durante a época.

Goleadas anímicas: último acto de uma época trágica

Num certo aspecto, a actual época portista possui muitos traços de tragédia similares à temporada transacta do Benfica: ambas as épocas foram pautadas pelo azedume da derrota generalizada. Se no Benfica a catástrofe chegou perto do fim, no Porto a catástrofe chegou amiúde, com pés de lã, queimando toda a temporada em lume brando. Paulo Fonseca suplicou pela rescisão (reportam-se vários pedidos, que começaram depois da derrota frente à Académica), Lucho abandonou o barco (rumores apontam para descontentamento pessoal) e Otamendi saiu pela porta pequena; Em 2014, a fúria dos adeptos inconteve-se.

«Não existe mística», apontou Vitor Baía

As 11 derrotas vieram agudizar as críticas quanto às prestações da equipa, mesmo já com Luis Castro ao comando. A goleada sofrida ante o Sevilha (4-1) e consequente expulsão da Liga Europa endureceu o caminho portista, repleto de declives, derrotas e actuações monótonas e sem garra. As duas eliminações contra o rival Benfica, opulento novo campeão, foram a capitulação de um Porto triste, fraco, desmotivado e amedrontado demais para resistir às provações da competitividade.

No passado Domingo, cada minuto que passava pesava mais na mente (e nas pernas) dos jogadores portistas do que na dos benfiquistas. O 0-0 penalizava a ineficiência azul e envergonhava a equipa perante uma plateia de adeptos naturalmente descrentes. Chegados às grandes penalidades, o desfecho antecipava-se igualmente natural: a sorte protege quem menos precisa dela. Garay falhou mas Jackson acertou nas nuvens. André Gomes falhou mas Maicon não lhe ficou atrás. Este Porto, por vezes, até parece que não quer saber vencer.

Para além do sofrimento próprio de uma época má, que pode até ter implicações directivas, o FC Porto parece sofrer de stress pós-traumático alheio, projectado na alegria do Benfica consagrado campeão, um aparente trauma que fortaleceu ainda mais a anemia portista. Daí podermos avançar com uma questão que ao autor não parece de todo descabida: terão estas derrotas (Taça de Portugal e Taça da Liga) sido provocadas pelo trauma do Benfica campeão?