Depois das partidas a contar para a Taça de Portugal e para a Taça da Liga, Porto e Benfica voltaram a encontrar-se, desta feita, para a derradeira ronda do campeonato português e, num jogo em que os treinadores deram oportunidade a jogadores menos utilizados durante a época, foram os dragões a levar a melhor, com uma vitória por 2-1. O extremo Ricardo inaugurou o marcador pouco depois do apito inicial mas Enzo Pérez beneficiou de uma grande penalidade que voltou a repor a igualdade no marcador.

O único foco de interesse digno de registo para este jogo foi o tento de Jackson Martínez, também de grande penalidade que, assim, balanceou a rede pela 20ª ocasião no campeonato, sendo, ao que tudo indica, o melhor artilheiro da prova. O Futebol Clube do Porto fecha, portanto, uma das épocas mais negras da sua história com uma vitória frente ao campeão Benfica e finaliza o campeonato na 3ª posição da tabela, com 61 pontos. As águias terminam como começaram, ou seja, com uma derrota, o que não mancha a regularidade que imprimiram, principalmente, na 2ª volta do campeonato, concluindo a prova na 1ª posição, com 74 pontos.

Ricardo supersónico para um Benfica em gestão de esforço

Para a 30ª jornada do campeonato o estádio do Dragão foi palco do último clássico da temporada e, com Lopetegui na bancada a assistir ao último jogo de Luís Castro à frente do comando técnico dos dragões, o primeiro tempo foi dominado inteiramente pelo conjunto azul e branco, com destaque para o jovem Ricardo, que mexeu com o jogo desde início. O extremo ameaçou as redes de Paulo Lopes, logo nos primeiros minutos e, depois de um primeiro ensaio, aproveitou a passividade da defesa encarnada e inaugurou o marcador aos 4 minutos, com o guardião benfiquista a não ficar isento de culpas. O FC Porto acentuou o domínio após o golo, com relevo para o estreante Mikel, Defour e Herrera que, com pressão alta e intensidade de jogo, conseguiram contrariar a habitual classe e dinâmica que Enzo Pérez e André Gomes costumam dar ao miolo benfiquista.

Com um Benfica longe de estar a jogar com o onze base, ainda assim, Enzo Pérez, com a calma e a classe que lhe são características, converteu uma grande penalidade, aos 26 minutos, de forma irrepreensível, com o esférico para um lado e o guarda-redes Fabiano para o outro. O conjunto azul e branco reagiu ao tento sofrido e, com um pénalti a seu favor, aos 38 minutos, o colombiano Jackson Martínez bateu o guarda-redes, Paulo Lopes e festejou assim pela 20ª vez no campeonato. As equipas foram para as cabines com o Porto a vencer por 2-1.

Para a segunda metade do encontro, o Benfica regressou dos balneários com maior agressividade, com Jorge Jesus a pedir mais pressão ao meio-campo, que estava a ser engolido, pelo trio portista. As peças do Porto apagaram-se, em parte pela dinâmica que André Gomes e Enzo Pérez conseguiram exercer. Apesar do maior domínio das águias na 2ª parte, foi o Porto a assustar novamente as redes de Paulo Lopes, com Jackson a isolar Reyes que, perante a pressão de Jardel, acabou por desperdiçar a oportunidade de ampliar a vantagem. Depois deste lance, o Porto não mais incomodou de forma significativa a defesa encarnada e foi o Benfica a beneficiar da melhor ocasião de todos os segundos 45 minutos.

Ao minuto 48, depois de um bom envolvimento ofensivo dos comandados de Jorge Jesus, Djuricic rematou forte e colocado, tão colocado que o esférico acabou por embater na trave da baliza de Fabiano e na recarga Funes Mori foi de todo ineficaz, como tem sido seu apanágio. Até ao final, o Benfica continuou a dominar mas sem grandes chances para repor a igualdade. O jogo ficou manchado de forma negativa por uma entrada à margem das leis de Alex Sandro sobre Salvio, com o árbitro a admoestar o jogador azul e branco, apenas com a cartolina amarela, quando seria de todo justo expulsar o internacional brasileiro. A história da 2ª parte resume-se a um domínio territorial do meio-campo benfiquista e o empate ajustar-se-ia ao que aconteceu dentro das 4 linhas.

Boa estreia de Mikel com cha cha cha em destaque

O brasileiro Fabiano esteve regular, como tem sido desde que substituiu o lesionado Helton e nada pôde fazer perante a grande penalidade convertida de forma soberba por Enzo Pérez. Os laterais Danilo e Alex Sandro têm sido as excepções no marasmo que foi a equipa do Porto esta época e, nesta partida, demonstraram o porquê de poderem ter merecido a chamada à convocatória para o Mundial do Brasil. Apesar da conduta pouco desportiva de Alex Sandro neste jogo é inegável que os dois laterais dão um rigor técnico-táctico à equipa, que lhes permitiu também neste jogo, sair rapidamente para o ataque sem desguarnecer a defesa. Os centrais Reyes e Maicon não tiveram muito trabalho para travar Funes Mori e Djuricic.No miolo, destaque para o estreante Mikel que rendeu Fernando no onze inicial e logo num clássico, o jovem não tremeu e, juntamente com Defour e Herrera, deram equilíbrio e segurança ao 4x3x3 dos dragões, principalmente na 1ª parte.

Na frente de ataque, Quaresma foi uma sombra do que tem sido desde que chegou no mercado de Inverno e o relevo vai inteiramente para Ricardo e Jackson, que deram vida ao marcador e o colombiano, em particular, depois da sua equipa estar arredada de qualquer título colectivo, acaba por ser galardoado como o melhor marcador do campeonato, atingindo a marca de 20 golos em 30 jornadas.

Enzo não sabe jogar mal

A defender as redes encarnadas, esteve Paulo Lopes e, numa tarde pouco inspirada, o experiente guarda-redes, acabou por ter influência directa no golo sofrido aos 4 minutos. Os laterais André Almeida e Cancelo (jovem de qualidade que poderá ter futuro na selecção nacional) estiveram compactos nas tarefas defensivas e, no caso de André Almeida, saltam à vista as qualidades de um jovem que, apesar da sua idade, demonstra uma maturidade futebolística que lhe permite sonhar com a chamada à selecção nacional. Ao contrário dos laterais, os centrais Jardel e Steven Vitória, mostraram pouca sintonia e, numa partida desinspirada, estiveram desconcentrados nas marcações e permitiram algumas investidas dos atacantes portistas.

A dupla André Gomes e Enzo Pérez demonstrou o que realmente vale na 2ª parte e é assinalável realçar o rigor técnico-táctico que os dois conseguiram imprimir, mesmo tendo na frente de ataque jogadores que normalmente não actuam em conjunto. O caso do argentino é ainda mais evidente, na medida em que, numa fase tão avançada da época, o médio mantém a regularidade, a velocidade e o critério no passe, como poucos conseguem imprimir no mundo do futebol.

Na frente de ataque, Ivan Cavaleiro, Djuricic e Funes Mori estiveram, mais uma vez, aquém do esperado e, não fosse a velocidade e a imprevisibilidade de Salvio, com dribles constantes e a manobra ofensiva do Benfica teria sido inexistente. Destaque ainda, nesta derrota, para o golo de Enzo Pérez e para a estreia de um dos jogadores mais promissores do futebol português, o médio ofensivo Bernardo Silva que, aos 19 anos, promete encantar os adeptos do Benfica e a selecção nacional.

Um campeão irrepreensível e um dragão decepcionante

A equipa do Sport Lisboa e Benfica termina a Liga Zon Sagres na 1ª posição, tendo amealhado ao longo das 30 jornadas 74 pontos, com a particularidade de ter perdido apenas na 1ª e na última ronda, ambos os encontros por 2-1 (com o Marítimo e, nesta tarde, com o FC Porto). A equipa de Jorge Jesus conseguiu 23 vitórias, 5 empates e 2 derrotas, sagrando-se campeão com a melhor defesa e o melhor ataque da prova (58-18). O Benfica termina o campeonato sem sofrer qualquer derrota em casa e empatou apenas por 3, tratando-se de uma estatística fantástica para o conjunto das águias.

O FC Porto encerra a época 2013/2014 com uma vitória mas, na memória dos portistas, ficará para sempre o desnorte da formação de Paulo Fonseca e, mais recentemente, de Luís Castro. Os azuis e brancos terminam esta Liga no 3º posto, com 61 pontos conquistados e garantiram apenas a presença na pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Os «invictos» alcançaram 19 vitórias, 4 empates e 7 derrotas. Estes números ditam que os portistas perderam pontos em 11 jogos, mais que nas duas épocas de Vítor Pereira. Os dragões marcaram 57 golos e sofreram 25, o que, para um candidato ao título, não indicia grande estabilidade defensiva. Analisando os desaires dos azuis e brancos, é fácil concluir que 6 das 7 derrotas foram fora do Dragão, o que contraria os registos de Benfica e Sporting, que se mostraram mais regulares durante a época.

No confronto directo entre os dois grandes do futebol português, o saldo é ligeiramente favorável ao Benfica e, das 5 vezes que se encontraram, os encarnados venceram por 3 e os portistas por 2. Perante o Benfica campeão e superior ao Porto, mesmo tendo em conta a derrota desta tarde, destaque também para a reacção dos comandados de Jorge Jesus à derrota na 1ª mão da Taça de Portugal no Dragão, quando, na Luz se superiorizaram, carimbando o passaporte para o Jamor, com uma vitória por 3-1. O embate das meias-finais para a Taça da Liga foi também favorável aos encarnados e, esta época, contrariou a supremacia evidente que os dragões haviam tido nas últimas temporadas.