Amanha, quando a partida começar e a bola rolar no relvado do Juventus Stadium, o peso da história estará todo nos ombros dos jogadores benfiquistas. O Benfica marcará presença na sua décima final europeia em toda a História do clube, jogando com a responsabilidade de quebrar um enguiço duradouro e persistente que atormenta a antologia encarnada: desde 1962, portanto, há 52 anos, que o clube da Luz não vence um troféu europeu. Longe está a dourada e inolvidável década de 60, onde a armada benfiquista deu à instituição a aura internacional com que esta ainda se exibe e da qual muito se orgulha, mas, amanhã, a glória poderá estar ao virar da esquina. Uma vitória significará uma batalha ganha diante da besta negra europeia, que tantos títulos já roubou ao clube lisboeta.

Besta negra europeia e a maldição de Guttmann

Depois de erguer o troféu em 1962, não mais o Benfica festejou uma conquista europeia. Longe estariam os benfiquistas de imaginar que, nas próximas cinco décadas, o máximo que conseguiriam, no contexto europeu, seria o gosto amargo das finais perdidas, finais essas que tanta bravura, mérito e esforço custaram a obter. O Benfica permaneceu na alta roda do futebol, demonstrando ser um dos melhores clubes mundiais, mas a pilha de derrotas em finais foi aumentando. Logo em 1963, o Benfica, então bicampeão da Taça dos Campeões Europeus, perdia frente ao Milan, por 2-1, com dois golos de Altafini contra um de Eusébio. Depois, em 1964/1965, as «águias» voltavam pela quarta vez a uma final da TCE, perdendo de novo para a facção italiana, agora do Internazionale: 1-0, com um golo de Jair.

Na temporada 1967/1968, o Benfica caiu aos pés do Manchester United, 4-1 após prolongamento: Bobby Charlton marcou primeiro, Jaime Graça igualou. No período extra, George Best, Charlton e Kidd condenaram o Benfica a nova derrota na final - a terceira da História encarnada. As «águias» demoraram vinte anos a regressar aos palcos de uma final da Taça dos Campeões Europeus, perdendo em 1988 para os holandeses do PSV na decisão por grandes penalidades. De seguida, em 1990, os encarnados voltaram a estar perto de voltar às glórias internacionais, mas o carrasco Milan voltou a decepar a vontade benfiquista - um golo de Rijkaard matou as esperanças lusas. A maldição do húngaro Guttmann, lançada pelas suas palavras proféticas, continuava viva.

Taça Uefa e Liga Europa aumentam série negra

Não só de disputas finais na Taça dos Campeões Europeus é feita a série negra do Benfica. A juntar a essas cinco finais perdidas consecutivamente pelas «águias», outras partidas derradeiras entram no álbum de má memória para os encarnados: em 1982/1983 a formação lisboeta perdia a final da Taça Uefa diante do Anderlecht, numa final disputada a duas mãos. A presença na final de Amesterdão, na época passada, aumentou para nove a contagem de presenças benfiquistas em finais europeias: o Chelsea acabaria por ganhar (2-1, com Ivanonic a decidir no último minuto), elevando para sete os desaires consecutivos. Amanhã, a formação de Jorge Jesus (treinador que repete uma final da Liga Europa) terá nova oportunidade de destruir o infortúnio da derrota, voltando a vencer na Europa, quebrando um jejum que parece interminável e que já destroçou equipas encarnadas que, ao longo destas décadas, mereciam terminar as suas carreiras com condecorações europeias na lapela.

Equipas espanholas foram sinónimo de vitória

Curiosidade factual: as duas únicas vezes que o Benfica celebrou a conquista de uma prova europeia, fê-lo às custas de formações espanholas. Tanto Barcelona como Real Madrid foram as vítimas do Benfica brilhante do início da década 60. Agora, o destino da competição quis que os encarnados voltassem a defrontar uma equipa espanhola num tira-teimas pela final. A milhas de ser um tubarão do país vizinho, o Sevilha personificará, ainda assim, a besta negra europeia, uma espécie de obstáculo terrível que se tem intrometido entre o Benfica e a conquista de troféus internacionais, sempre adiada. Entre o poderio sevilhano e a barreira histórico-psicológica que envolve a partida de amanhã, o Benfica de Jesus terá a tarefa de exorcizar a má sorte, chutando a «maldição» de Guttmann para o esquecimento.

Benfica de Jesus insiste na vitória final

O percurso europeu de Jesus no Benfica tem sido forjado pela vontade de vencer mas também pela insistência. Apesar de nada ter vencido no âmbito europeu, os encarnados atingiram uma meia-final da Liga Europa e agora, duas finais da mesma competição: depois da derrota em Amesterdão e do terrível mês de Maio de 2013, as «águias» ergueram a cabeça e voltaram a repetir o feito de jogar uma final da prova, afastando para tal o colosso Juventus, favorito à conquista do troféu em Turim, sua casa. Com o ataque mais concretizador da História da Liga Europa, o Benfica está perto de voltar à glória e, Jorge Jesus, pertíssimo de fechar o ciclo vitorioso de uma das mais profícuas épocas do clube nos últimos tempos.

Sevilha nunca perdeu uma final

A formação palanga tem dois troféus europeus, vencidos já neste novo milénio logo consecutivamente: tanto em 2005/2006 como em 2006/2007, o Sevilha arrebatou a então denominada Taça Uefa, primeiro batendo o Middlesbrough FC por 4-0 e depois o Espanyol após grandes penalidades. Cem por cento vitoriosa, a formação espanhola poderá, amanha, vencer a terceira taça sucessiva. Não obstante, irá enfrentar o adversário mais complicado que alguma vez encontrou numa final europeia.

Salvio, Enzo e Markovic de fora

O Benfica não se poderá apresentar na máxima força amanhã: o flanco direito estará coxo, sem o brilhantismo de Salvio e as incursões super-sónicas de Markovic. Ambos estão castigados e não serão opção para o onze de Jorge Jesus. Apesar de existir uma ténue esperança numa hipotética despenalização do jovem sérvio, a verdade é que Sulejmani deverá ser o dono da faixa direita do ataque encarnado. No lugar de Enzo, igualmente castigado, deverá actuar André Gomes, incorporando-se no miolo do terreno com a companhia de Amorim, caso Fejsa não recupere da sua lesão.

Sevilha não conta com Samperio, Cristóforo e Cheryshev

A baixas do Sevilha não pesam, em teoria, tanto quanto as do Benfica. Cristóforo e Cheryshev não se tratam de jogadores cruciais na manobra nervionense, já Samperio conta com 35 aparições (5 golos) na temporada presente. O luso-francês Kévin Gameiro, que esteve em dúvida devido a lesão, recuperou a tempo para poder ser, a par de Carlos Bacca, ameaça à defensiva encarnada.

Onzes prováveis