Ainda faltavam horas para o jogo e o Jamor já estava em festa. Grupos imensos e intermináveis de adeptos dos clubes, com claro destaque para a presença das cores vermelhas e brancas, faziam a festa daquela que é a “Prova Rainha” de Portugal. Foi assim, perante este espírito incansável dos adeptos de ambas as equipas, que Rio Ave e Benfica se encontraram no Estádio Nacional (quarta vez esta época) naquele que foi o 75º aniversário da prova. Depois de três vitórias por parte do tento vermelho e branco, a história repetiu-se – a equipa de Jorge Jesus tornou-se detentora do troféu, numa vitória por 1 bola a 0, conquistando a 25ª Taça da história do clube.

Numa partida que denotou um Benfica cansado depois de uma época excessivamente ativa, com o culminar dos 120 minutos disputados em Turim, foi graças ao golo de Gaitán aos 20 minutos de jogo que o título foi conquistado. No início da partida um Benfica determinado mostrava não pretender repetir o cenário do ano passado e “morrer na praia”, mas não fosse Oblak e a segunda parte poderia ter mudado completamente o rumo dos acontecimentos – uma equipa desgastada fisicamente não conseguia dar o seu melhor frente a um Rio Ave cheio de energia e motivação, mas que ainda assim não conseguiu o empate que prolongaria o jogo – um prolongamento que certamente a equipa de Jorge Jesus não suportaria. Acabou, assim, o sonho do Rio Ave, mas o voo da águia chegou ao topo – não só a vitória na prova chegou 10 anos depois, como o clube voltou a fazer a “dobradinha”, 27 anos mais tarde.

Primeiro bloco não oferece hipóteses

Após a cerimónia de abertura, Carlos Xistra apitava para o início do jogo, saindo da equipa de Vila do Conde. Ainda assim, a bola não tardou a chegar aos encarnados – desde cedo que a equipa de Jorge Jesus se impôs no jogo, albergando o domínio do meio campo adversário, onde esteve praticamente todos os 45 minutos iniciais. Numa entrada com força, que demonstrou a vontade das águias em contrariar a desgraça da época passada e em oferecer aos adeptos um último título antes do final da época, o Benfica não registou um largo leque de hipóteses flagrantes, mas demonstrou-se sempre imensamente ofensivo e a procurar a criação de espaços, perfurando a defesa do Rio Ave de forma a encontrar as suas fraquezas e utilizá-las a seu favor.

Longe da eficácia nos primeiros minutos, o golo acabou por não tardar – o cronómetro marcava os 20 minutos de jogo quando os compatriotas Enzo Pérez e Gaitán realizaram uma jogada extremamente ofensiva e eficaz, que acabou por resultar num magnífico golo do médio ofensivo argentino, à boca da área. O remate forte e conciso de Gaitán, realizado com o pé direito, não ofereceu qualquer hipótese de defesa a Ederson, que ainda se atirou para defender mas longe de o conseguir. Ficava então consumado o perigo que as águias já vinham a demonstrar ao longo do jogo, naquele que foi o único golo na primeira parte da partida e um exemplo claro do que se passou em campo.

Pouco tempo depois, era Garay que cabeceava forte na sequência de um livre marcado por Gaitán, mas destaque para Ederson, cujo instinto não permitiu novo golo à equipa lisboeta. Rodrigo tentava a sua sorte pouco depois, mas as diversas oportunidades da equipa da luz não trouxeram frutos ao marcador. No que ao Rio Ave diz respeito, destaque para um lance pouco perigoso de Tarantini aos 13 minutos, mas a primeira ocasião para a equipa de Vila do Conde no jogo. De resto, só no fim é que a equipa de Nuno Espírito Santo parecia acordar – foi nos últimos 10 minutos de jogo que o Rio Ave realmente criou algum perigo a Oblak, ainda que a defesa eficaz e organizada do Benfica não o permitisse em pleno. Por outro lado, não foi só a ofensiva nortenha que melhorou, já que a defesa também se mostrava mais apertada e eficaz. Estas melhorias, contudo, não foram o suficiente para o empate no primeiro bloco de jogo.

Luta até ao último segundo

Um Rio Ave completamente modificado iniciou os 45 minutos finais, tornando claro que o cenário da primeira parte não se ia repetir. Se foi o discurso de Espírito Santo ao intervalo ou a vontade de ganhar, o que é certo é que uma equipa muito mais determinada, consistente, ofensiva e organizada tomou o lugar do Rio Ave ofensivamente apagado da primeira parte. Jogavam-se os 47 minutos quando a primeira oportunidade de perigo surgiu, com Tarantini a rematar à figura de Oblak. Era o início da ameaça de um Rio Ave muito mais perigoso, pronto a criar mais dificuldades aos vermelhos e brancos, seguido por vários ataques que deixaram a defensiva encarnada a tremer. Neste cenário, o Benfica também entrava com uma atitude modificada – o destaque físico tornou-se claro, e a formação benfiquista parecia ter perdido ritmo de jogo. O entusiasmo dos encarnados só voltou quase a meio da segunda parte, mas estava longe de corresponder às perigosas investidas da equipa de Vila do Conde.

Neste quadro imperativamente ofensivo por parte dos nortenhos, destaque para o guardião do Benfica, sempre a oferecer muita consistência, segurança e eficácia ao clube da Luz. Foram diversas as ocasiões em que Oblak brilhou, nomeadamente aos 69 minutos, quando o golo do Rio Ave esteve, provavelmente, mais perto do que nunca – um potentíssimo remate de Ukra ameaçava o guarda-redes, e com o Rio Ave a ganhar canto, novo perigo surgiu com Marcelo, que saltou e cabeceou, atirando a bola demasiado por cima. Aos 73 minutos, o guardião voltava a destacar-se com um remate de Edimar, a sair exemplarmente com os 2 punhos. Exemplos claros de um Rio Ave perigoso e modificado, mas também de um guarda-redes que não sabe o significado da derrota, sempre impecavelmente seguro e frio perante lances complexos e perigosos. O guarda-redes brilhou até ao fim, mas só porque a equipa de Vila do Conde não estava nem perto de estar disposta a desistir – penetrando a defesa do Benfica, rematando, criando ocasiões, o Rio Ave foi exemplar no segundo tento da partida.

Foi assim, após mais quatro minutos disputados após os 90 e perante 37150 adeptos, que o Benfica voltou a fazer história – voltava a conquistar a Taça após dez anos, mas também repetia a dobradinha depois de 27 anos e conquistava todos os títulos Nacionais, algo nunca antes concretizado. O estádio da Luz receberá, então, a sua vigésima quinta Taça de Portugal, naquele que foi um ano de ouro para o Benfica. O estádio, pintado de vermelho e branco, festejou o título pelo presente e ano e pelo passado, sendo o culminar da festa quando o capitão da formação vermelha e branca, Luisão, levantou a tão desejada Taça.

Gaitán e Luisão levaram mais um título

Já no fim do jogo, Luisão e Gaitán foram premiados com outro título – Gaitán com o de Homem do jogo, eleito pelos jornalistas acreditados, enquanto que Luisão ganhou o prémio “fairplay”, atribuído por uma comissão designada para o efeito. Após receber o prémio, Gaitán afirmou estar muito contente, por si e por toda a equipa.

Nuno Espírito Santo: «Esta foi a melhor época de sempre do Rio»

O técnico do Rio Ave não se mostrou nada satisfeito com o resultado final. Embora reconheça que o Benfica foi superior na primeira parte, controlando o jogo apesar da boa defesa do Rio Ave, Nuno Espírito Santo afirma que o seu clube foi consideravelmente superior no segundo bloco de jogo. O técnico realçou como o prolongamento foi procurado até ao último minuto de jogo, reforçando a sua crença de que era possível o resultado ter sido outro se tal se verificasse.

Defendendo aquela que diz ser a melhor época de sempre do Rio Ave, essencialmente devido à presença em duas finais (Taça de Portugal e Taça da Liga), o técnico elogiou os seus jogadores, dizendo que «foram fantásticos». Demonstrou também acreditar no futuro do Rio Ave, que acredita que será cada vez mais forte, e onde diz ter consciência de que a “perspetiva de crescimento tem de ser sustentada”. O técnico aproveitou ainda para demonstrar a sua apreciação perante os dois anos passados no clube, declarando que se iria sentar com a direção para falar de um possível futuro no mesmo. Já em fim de conferência, elogiou o Benfica, que denominou como “um grande clube” com «grandes jogadores», a quem deu os parabéns «não só pela taça, mas pela excelente época».

Jorge Jesus: «Estou extremamente feliz e satisfeito por ter conquistado o meu primeiro título da Taça de Portugal»

O técnico da formação encarnada descreveu o jogo como «sofrido» e «muito difícil», reconhecendo a sua consciência de que a equipa não tinha capacidade física para suportar uma segunda parte muito intensa, não tendo «muito mais para dar» nesse período de jogo. Jorge Jesus não deixou, contudo, de felicitar os seus jogadores, afirmando que os mesmos “estão de parabéns porque não tinham muito mais para ganhar nem para fazer”.

Sabendo que o «Rio Ave teve algum comando do jogo», Jesus não deixou de se mostrar satisfeito com a conquista, visto que, nas palavras do técnico, «em termos sentimentais a Taça de Portugal diz-me muito». Quando confrontado relativamente a uma possível saída do clube, o treinador nada acrescentou, apenas garantido que está «extremamente satisfeito no Benfica» e que está pronto para preparar a pré-época, visto que, após um ano excelente, considera que os adeptos se habituaram a ganhar tudo, indo ser mais exigentes na próxima época. A temporada acaba assim para as duas equipas, que se voltarão a encontrar no início da próxima época para disputar a Supertaça.