Tal como em 2010 aquando do apuramento para o Mundial da África do Sul, e em 2012 na qualificação para o Europeu na Polónia e Ucrânia, a selecção portuguesa voltou a precisar de recorrer play-off para garantir a sua presença no Brasil. Na fase de grupos Portugal ficou na segunda posição do grupo F, somando 21 pontos menos um que a líder Rússia. A derrota em Moscovo e três empates comprometedores com Israel por duas vezes e Irlanda do Norte, obrigaram Portugal a jogar uma eliminatória a duas mãos frente à Suécia de Ibrahimovic e aí a experiência lusa e um Cristiano Ronaldo inspirado fizeram a diferença, com a equipa nacional a vencer por 1-0 no Estádio da Luz e por 2-3 em terras nórdicas.

Cristiano Ronaldo é expoente máximo de uma selecção, que tem ainda em João Moutinho e Nani a capacidade de dar uma maior dinâmica, criatividade e organização de jogo, contrastando porém com a pouca capacidade ofensiva dos seus pontas-de-lança. Analisando os prós e contras de Portugal e num grupo onde o primeiro adversário se chama Alemanha, favorita à vitória final, facilmente se percebe que os jogos com Estados Unidos e Gana serão decisivos na caminhada para os oitavos-de-final.

Transições rápidas e segurança defensiva

Olhando para as escolhas de Paulo Bento percebe-se que a aposta passa pela capacidade de criar mudanças de velocidade no jogo, por forma a apanhar as defensivas contrárias em contrapé, priveligiando por isso a mobilidade dos extremos, alinhada com a subida dos laterais. É com estes argumentos que Portugal espera passar a fase de grupos.

Desde cedo que o 4-3-3 se implementou como o esquema tático a usar por Paulo Bento e como tal, a aposta passou pelo futebol apoiado nas alas e são vários os extremos capazes de dar velocidade e dinâmica no ataque português, com um meio-campo que nem sempre avança em demasia no apoio ao ataque, já que necessita de compensar as subidas dos laterais para não descurar a defesa.

Se no ataque Cristiano Ronaldo terá os maiores cuidados por parte dos rivais, é no centro do terreno que tudo se decide e aí João Moutinho terá sem dúvida um papel fundamental, pois é o único com capacidade para pautar os ritmos de jogo e com capacidade de rasgar as defesas com passes entre linhas, como se viu de resto no jogo do play-off com a Suécia. Raul Meireles vai procurar ocupar os espaços vazios de maneira a parar as saídas do ataque, ainda na sua fase de construção.

Miguel Veloso é o trinco que ajuda na compensação das saídas dos laterais, mas a sua lentidão não lhe permite aumentar a velocidade do jogo à saída da área, além de que pode ser facilmente ultrapassado pelos médios adversários, por outro lado tem a seu favor o facto de ser um bom executante em lances de bola parada. Aqui William Carvalho seria a opção mais pausível, pois consegue levar a bola em progressão e a sua condição física principalmente com equipas musculadas como são o Gana e Alemanha, é sem dúvida uma mais valia para a selecção portuguesa. Tal como Veloso, também William devido à sua altura pode fazer a diferença nas bolas paradas.

É certo que Paulo Bento não mudará o 4-3-3, a não ser em casos em que tenha de apostar tudo nos últimos minutos do desafio. O facto de durante a fase de qualificação o onze inicial ter sido sempre o mesmo, variando apenas na posição do avançado, deixa antever que esta possa ser uma equipa demasiado previsível para os nossos adversários e como tal uma hipótese a considerar seria a de jogar sem um homem fixo na área, jogando com três alas rápidos na frente de ataque com Cristiano Ronaldo a fazer de ponta-de-lança, tentando assim disposicionar as defensivas contrárias.

Capacidade de finalização débil

Pode parecer um contrasenso falar de fraca capacidade ofensiva em Portugal com um jogador como Cristiano Ronaldo, que recentemente se tornou o melhor marcador da história da selecção. O facto é que o extremo português consegue ter mais golos sozinho, do que os três pontas-de-lança convocados para o Mundial juntos, por isso a finalização é um dos pontos mais fracos da selecção nacional.

Helder Postiga com 27 golos, Hugo Almeida 17 e Éder zero, perfazem um total de 44 remates certeiros, enquanto Cristiano Ronaldo já leva 49 golos apontados. Tendo em conta estes números depressa se conclui que a presença do camisola é fundamental para o rendimento ofensivo da equipa, já que olhando para os três avançados, vemos que Postiga não marcou um único golo ao serviço da Lázio em 2014 e Hugo Almeida marcou no último fim-de-semana pelo Besiktas, mas antes o seu último golo havia sido em Fevereiro.

O certo é que pensando friamente vemos que não há muito por onde escolher no que toca aos homens de área, e isso é algo com que Portugal já se vem debatendo há vários anos, nem mesmo no tempo de Pauleta os problemas estavam resolvidos na hora de finalizar, apesar do açoriano ter chegado aos 42 golos. Mais problemática se torna a questão, visto que ao olharmos em volta não se vislumbra nenhum nome que possa ser sinónimo de golos num futuro próximo.

Jogadores a ter em conta

O LÍDER: Cristiano Ronaldo

É o melhor jogador do mundo da actualidade e só isso diz tudo de Cristiano Ronaldo. O «comandante», tem no seu pé direito uma mira sempre apontada e afinada às redes adversárias, seja em bola decorrida ou de livre, dele podemos esperar sempre o melhor. Rápido, com uma técnica muito acima da média, um finalizador nato, transmite confiança aos seus companheiros de equipa, que olham para CR7 como um exemplo a seguir dentro de campo, pois sabem que no momento da decisão ele não os deixa ficar mal.

O ÁS: João Moutinho

É pequenino, mas não se deixa intimidar pelos grandes, nunca está parado e a bola nos seus pés sai sempre com precisão e qualidade. Tem uma grande capacidade física que lhe permite jogar sempre a um nível elevado, a uma excelente visão de jogo alia a forma como mede os ritmos do mesmo e contemporiza a bola, permitindo à equipa organizar-se quer defensivamente, quer nas saídas para o ataque.

A NÃO PERDER: Rafa

Foi a grande surpresa da convocatória de Paulo Bento. Em pouco mais de um ano, Rafa passou do Feirense da Segunda Liga para a selecção nacional e para isso contribuiu o Sporting de Braga, clube pelo qual realizou esta época 33 jogos e marcou nove golos. Uma lesão deixou-o de fora durante um mês e meio, numa altura em que era peça fundamental no clube minhoto, mas voltou ainda a tempo de mostrar ser opção para o Brasil. Veloz e de drible fácil, tem no seu pé direito a arma mais forte e poderá ser uma das revelações deste Mundial, visto ser um jogador desconhecido no panorama internacional.