É costume dizer que grandes jogadores não formam necessariamente uma grande equipa; no caso do Atlético de Madrid temos o caso de uma grande equipa criar grandes jogadores. A equipa de Simeone poderá não ter, à primeira vista, grandes estrelas do futebol mundial, contudo, se há paradigma do valor colectivo do futebol, esse paradigma chama-se Atlético de Madrid. Nomes como os de Courtois, Godín, Gabi ou Diego Costa não seriam certamente os mais presentes nas listas de preferência dos especialistas no início da época, contudo a liderança e espírito de Diego Simeone transformaram os colchoneros em referências, jogadores temidos e respeitados pelos adversários.

À semelhança da Liga Espanhola, o trajecto do Atlético de Madrid na Liga dos Campeões fez-se de forma consistente e surpreendente. Regressados à liga milionária quatro anos depois, a equipa da capital espanhola realizou uma fase de grupos praticamente imaculada. A partir daí, o Atlético arrancou para uma fase final de competição absolutamente fantástica. Clubes históricos como o AC Milan, Barcelona e Chelsea foram as vítimas dos rojiblancos, que não registaram qualquer derrota diante destas equipas.

Sem espaço para grandes egos e individualidades, a equipa de Simeone apoia grande parte do seu jogo na garra e espírito colectivo, fazendo-se valer de jogadores que, para além da sua qualidade, revelam-se verdadeiros guerreiros, lutando pela vitória das suas cores. Apesar de alguma rotatividade promovida pelo técnico argentino, Simeone apresentou um onze-base durante a temporada que lhe permitiu ao Atlético de Madrid conquistar o campeonato espanhol e chegar à primeira final da Liga dos Campeões da sua história.

Quando o melhor jogador são onze

Thibaut Courtois

​O jovem guarda-redes belga surge como uma das revelações do futebol europeu dos últimos anos. Se no ano passado prometia, esta temporada confirmou todo o seu valor, fazendo-se valer dos seus 2 metros de altura para guardar a baliza do Atlético. Ao longo da época, Courtois sofreu 33 golos (26 no campeonato, 6 na Liga dos Campeões e 1 na Taça do Rei). O destaque do gigante belga levou o Chelsea, detentor do passe do guardião, a chamá-lo de volta para o plantel inglês na próxima temporada, isto após três anos de empréstimo ao Atlético de Madrid.

Com apenas 22 anos de idade, Courtois é agora uma das certezas do futebol mundial, sendo, com toda a certeza, o dono da baliza colchonera na final de Lisboa.

Felipe Luís

O lateral esquerdo brasileiro terminou este ano a sua quarta temporada no Atlético de Madrid, tendo chegado oriundo do Deportivo da Corunha. O trajecto ascendente de Felipe Luís no clube madrileno valeu-lhe a presença na Taça das Confederações do ano passado ao serviço da selecção brasileira.

Com capacidade para fazer todo o corredor esquerdo, o lateral de 28 anos apresenta grande propensão ofensiva, servindo frequentemente de apoio ao ataque da equipa através das suas chegadas à linha e respectivos cruzamentos. Todavia, o brasileiro apresenta bom posicionamento defensivo e leitura de jogo que lhe permite dobrar os companheiros de equipa sempre que necessário. Felipe Luís terá de estar ao mais alto nível para travar Gareth Bale; o galês é jogador de qualidade inegável e muito habituado a procurar terrenos interiores em busca do seu temível pé esquerdo, ou a fazer-se valer da sua enorme velocidade.

Apesar da concorrência de Insúa, é de esperar que Felipe Luís seja o dono da posição no jogo de sábado.

Juanfran

Também terminando a sua quarta temporada no Vicente Calderón, Juanfran é um exemplo de consistência. O lateral direito formado nas escolas do Real Madrid é um dos jogadores mais utilizados por Simeone ao longo da temporada, em muito devido à sua fiabilidade e capacidade tática.

Tal como Felipe Luís, também Juanfran gosta de atacar; apesar do seu bom cruzamento, o espanhol não se mostra tão afoito como o companheiro de equipa do flanco oposto. O seu metro e oitenta permite uma boa presença na área quando se trata de dobrar os colegas centrais, sendo um dos imprescindíveis na defesa do Atlético. O lateral foi fundamental para a equipa chegar a Lisboa, tendo sido eleito o melhor em campo no jogo da segunda-mão das meias finais, diante do Chelsea.

Se Felipe Luís terá de estar atento na esquerda, o que dizer de Juanfran na lateral direita? O defesa espanhol terá pela frente, muito provavelmente, Cristiano Ronaldo, jogador que dispensa qualquer tipo de apresentações. Uma exibição perfeita será o mínimo que se pedirá a Juanfran para que este consiga travar o melhor jogador do mundo.

Miranda

​ ​Depois de já ter estado no Atlético de Madrid em 2007/2008, Miranda regressou há 3 épocas atrás e nunca mais saiu. Não é um central goleador, mas é um dos esteios da defesa do Atlético, fazendo-se valer da sua agressividade e posicionamento. Juntamente com Godín formou a dupla de centrais menos batida da Liga Espanhola (26 golos sofridos em 38 partidas).

Miranda é um daqueles centrais que podemos apelidar, no melhor dos sentidos, de limitado. Com isto enfatiza-se a sua simplicidade de jogo; é um jogador que não sai a jogar, não inventa, e, apesar de não ser excepcionalmente alto para um central, apresenta um grande jogo aéro defensivo. O brasileiro será escolha certa de Simeone para a partida da Luz.

Godín

Ao contrário do seu companheiro de posição, Diego Godín apresenta uma veia goleadora mais apurada. O uruguaio conta com seis golos nesta temporada, o último dos quais acabou por dar o título de campeão espanhol ao Atlético de Madrid.

O defesa sul-americano conta já com sete temporadas em Espanha, as últimas quatro em Madrid ao serviço do Atlético. Tal como o colega no centro da defesa, Godín não se destaca pela sua estatura imponente, contudo, o uruguaio apresenta um excepcional poder de impulsão, capaz de ombrear com qualquer "torre" que lhe se depare. Godín e Miranda formam uma dupla muito sólida, mormente devido à sua experiência e entrosamento ganho com o tempo, um exemplo de um par de jogadores que, sem nome sonante no panorama futebolístico, formam uma das duplas de centrais mais sólidas da Europa.

Tanto ele como Miranda terão pela frente uma das frentes de ataque mais temíveis da Europa, razão mais do que suficiente para ambos manterem o espírito de solidariedade que têm vindo a construir ao longo dos anos. É pelo centro da defesa que passa um dos constituintes da espinha dorsal do Atlético de Madrid, algo que Simeone não deverá alterar.

Tiago

O médio português chega ao final de uma das melhores temporadas da sua carreira. O português completa a sua quinta temporada em Madrid e parece só ter beneficiado com a chegada de Simeone.

A dada altura da sua carreira, Tiago parecia um jogador esquecido, não só pela equipa, como pela própria selecção portuguesa, acabando o médio por renunciar à mesma. Contudo, a chegada de El Cholo ao comando técnico dos madrilenos como que deu uma segunda vida ao português, que agora é parte influente na dinâmica da equipa.

Tendo alternado ao longo da temporada com Mario Suárez, o médio luso é o principal ponto de equilíbrio do meio-campo do clube espanhol. A sua leitura de jogo e elevadíssimo sentido tático impede que a equipa se desiquilibre quando perde a bola no ataque, garantindo assim uma recuperação mais rápida do posicionamento defensivo colectivo.

Dada a rotatividade implementada por Simeone, não é garantido que Tiago faça parte do onze inicial para a partida de Lisboa, contudo a boa forma do português põe-no em excelente posição para ocupar um lugar no meio-campo do clube de Madrid.

Gabi

O seu nome é Gabriel Fernández Arenas, e é sem dúvida alguma o líder da equipa. A braçadeira de capitão que apresenta não é apenas um adereço estético e distinto, é sinónimo de responsabilidade. A carreira do espanhol é composta, quase inteiramente no Atlético de Madrid; durante esse período, Gabi aprendeu e desenvolveu o seu amor à camisola, e a história e grandeza do Atlético de Madrid.

Gabi é a personificação do ideal e filosofia de jogo do Atlético de Madrid: um jogador aguerrido e destemido, que nunca dá nenhum lance por perdido, e cujo espírito empurra a equipa em busca da vitória. A juntar a isso, o capitão dos colchoneros apresenta uma capacidade técnica muito desenvolvida, a qual lhe permite ser muito perigoso na execução de bolas paradas.

Um Atlético de Madrid sem Gabi não é o mesmo, já que a equipa perde uma das principais referências da sua dinâmica global. O capitão é mais um dos indiscutíveis de Simeone, constituindo outra parte da coluna vertebral da equipa. A sua presença na partida de sábado é essencial para travar as investidas ofensivas do Real, ao mesmo tempo que lança a equipa no ataque.

Koke

É o mais recente sucesso da escola de formação do Atlético de Madrid. Com apenas 22 anos, o médio ofensivo espanhol fez toda a sua aprendizagem no clube madrileno, um talento que não fugiu aos olhos de Diego Simeone. Ao longo da temporada, Koke tem feito parte de um meio-campo ofensivo sujeito a muitas rotações e alterações. Para além do espanhol, também jogadores como Arda Turan, Raúl Garcia, Diego e José Sosa têm feito parte do leque de opções do treinador argentino.

Apesar de alinhar primordialmente no flanco direito, Koke pode também surgir no flanco oposto ou até no corredor central, por forma a fazer-se valer da sua elevadíssima técnica, rapidez e dinâmica na movimentação ofensiva da equipa. Nunca se sabe por onde este jogador poderá andar, mas será sempre sinónimo de perigo para o adversário.

O médio espanhol funciona como o toque de juventude irreverente que se contrapõe à experiência da maioria dos restantes companheiros de equipa. Sem dúvida alguém com quem a defesa do Real Madrid se deve preocupar.

Arda Turan

Após toda uma história no Galatasaray, o turco chegou ao Atlético de Madrid numa altura em que o clube parecia dar mostras de recuperação depois de um período mais tumultuoso no que diz respeito a resultados nas competições internas. Com efeito, na primeira temporada, Turan conquistou a Liga Europa, tendo começado a segunda com a Supertaça Europeia.

O médio ofensivo turco encaixa que nem uma luva na ideia de jogo de Simeone; um jogador combativo e rápido, capaz de sair da sua posição para procurar outros terrenos, tornando assim mais fluído o jogo ofensivo da equipa. Com efeito, apesar do flanco esquerdo ser a posição natural de Arda Turan, este nunca perde oportunidade de procurar zonas mais centrais em busca da bola, não descurando também a finalização, Relembre-se que o turco foi quem carimbou definitivamente o passaporte do Atlético para Lisboa, ao apontar o terceiro golo da vitória por 1-3 diante do Chelsea, nas meias-finais.

Apesar da lesão sofrida no último jogo diante do Barcelona, é bem provável que o nº10 do Atlético de Madrid seja um dos onze iniciais da equipa na final da Liga dos Campeões.

Raúl Garcia

O médio espanhol passou a carreira a alternar entre Osassuna e Atlético de Madrid, acabando por se afirmar no clube madrileno. Apesar de não ser avançado, Raúl Garcia apresenta uma veia goleadora muito apurada. O médio ofensivo espanhol foi o terceiro melhor marcador da equipa no campeonato (10 golos) e o segundo melhor na Liga dos Campeões (4 golos).

A juntar aos golos, Raúl Garcia oferece ainda segurança no que toca à posse de bola, e agressividade na recuperação da mesma. A sua polivalência permite-lhe deambular entre o flanco direito e a zona central onde procura, sempre que pode, juntar-se ao avançado em zona de finalização.

A ser titular, será certamente peça fundamental na diâmica da equipa, alternando entre o apoio à zona intermediária na batalha do meio campo, e a procura de espaços e oportunidades para finalizar na zona de ataque.

David Villa

A chegada de Neymar a Barcelona obrigou David Villa a abandonar a Catalunha e juntar-se ao Atlético de Madrid. Por tuta e meia, os colchoneros contrataram um jogador que, apesar dos seus 32 anos, estava determinado em provar que ainda tinha valor. E a direcção do Atlético não viu o seu dinheiro mal empregue; o asturiano adaptou-se rapidamente à realidade do clube madrileno, servindo como o perfeito complemento a Diego Costa no ataque.

Utilizado frequentemente como segundo avançado, ou até extremo esquerdo, Villa apontou 13 golos no campeonato (segundo melhor marcador da equipa), e fez-se valer de toda a sua experiência para se tornar uma escolha frequente de Simeone para o ataque do campeão espanhol.

Apesar dos vários esforços empregues na recuperação de Diego Costa, a probabilidade do hispano-brasileiro jogar a final de Lisboa é muito ténue, razão pela qual o nº9 madrileno poderá ser a principal referência no centro do ataque.