O sempre muito esperado e mítico GP do Mónaco é um evento que qualquer fã de desportos motorizados quer assistir. E este ano havia muito para ver. Havia a curiosidade para ver como os novos carros se iam comportar (apenas desiludiram no som, mais uma vez), a reacção de Kimi às suas ultimas más prestações, se os Red Bull conseguiram dar um passo em frente e chegar-se aos Mercedes e por fim a luta entre Hamilton e Rosberg. Durante o fim de semana pudemos ter resposta a estas questões todas e ainda tivemos um ingrediente extra, que apimentou a contenda. A luta no seio da Mercedes deixou a fase de “guerra fria” para se assumir oficialmente como “guerra aberta”.

Mercedes

Podia ter sido mais um fim de semana perfeito para os «Silver Arrows». Domínio nos treinos, pole position e mais uma vitória com dobradinha. Mas o ambiente que se vive agora na box é mais tenso. O suposto erro de Rosberg, que obrigou o alemão a ficar numa escapatória, provocando bandeiras amarelas e deitando por terra as hipóteses de Hamilton melhorar o seu tempo, provocou mal estar entre os dois pilotos. Rosberg foi politicamente correcto mas Hamilton não teve problemas em mostrar publicamente o seu descontentamento.

Durante a corrida o britânico tentou passar Rosberg mas sem sucesso, vendo a sua frustração aumentar quando o estratega beneficiou o jogo de equipa não fazendo entrar logo Hamilton depois do acidente de Sutil. No final ainda suou para segurar Ricciardo, enquanto Rosberg ficava demasiado longe. Tudo isto somado deu mais uma vitória merecida para Rosberg, a vitória que Hamilton tanto queria. Tudo o resto é jogo psicológico. A afirmação de que «ia lutar como Senna fez» pode ter sido dita a quente, mas pode servir para a guerra psicologica que se vai instalar entre os dois. Uma coisa é certa, Hamilton quer vencer mais que nunca e fará tudo para que isso acontença. Esta luta vai dar ainda muito que falar.

Red Bull

Era a oportunidade ideal para os Bulls tentarem a sua primeira vitória. O circuito pouco exigente ao nível da potência dos motores e que beneficia chassis bem construídos, como é o caso do brilhante chassis do RB10, era o local ideal para colocarem um travão na sequência imparável da Mercedes. Mas a tentativa saiu frustrada. Vettel continua com azar. Problemas no ERS prejudicaram o alemão na qualificação e em corrida o resultado não foi melhor, sendo obrigado a desistir. O campeão em titulo explodiu no rádio, ele que tem mantido a postura, mesmo não disfarçando a insatisfação. O azar que acompanhava Webber no ano passado ficou para atormentar Vettel.

Quem continua a sorrir é Ricciardo. Mais uma prestação muito competente do australiano, que consegue mais um pódio (2º oficial) e se assume como o melhor piloto da Red Bull neste momento, cenário impensável há uns meses atrás. Mas a qualidade que tem mostrado em todos os fins de semana merece de facto que suba ao pódio. A forma como voou para se chegar a Hamilton nas últimas voltas é brilhante e mostra bem do que ele é capaz. E será talvez essa a maior dor de cabeça de Vettel. Ele que é o nº1, tem sido sistematicamente ultrapassado pelo australiano, que supostamente vinha desempenhar o mesmo papel de Webber. Mas Ricciardo tem mostrado fibra para se bater com Vettel e até almejar algo mais.

Ferrari

Outra equipa que podia ter agarrado a oportunidade de brilhar. Alonso passou discreto pelo Principado, embora tenha conseguido mais um bom resultado, dada a situação da scuderia. O espanhol continua a fazer omeletes sem ovos. Se Ron Dennis conseguir de facto levar o espanhol para a McLaren, a Ferrari vai sentir muitas saudades de Alonso. Mesmo sem brilhar não compromete. Quem continua em baixo é Räikkönen. Depois de mais uma vez ter ficado atrás do seu companheiro de equipa na qualificação, o finlandês arrancou com vontade de brilhar. A sua largada foi espantosa e parecia que tínhamos de volta o velho Kimi, mas o azar ainda não o largou. Teve um furo durante o período de Safety Car, que o obrigou a regressar às boxes e que o atirou para 13º, deixando o 3º lugar a Ricciardo, arruinando uma corrida em que tinha tudo para subir ao pódio.

Como se isso não bastasse, o finlandês recuperou até a 8ª posição e quando tentou passar Magnussen no gancho do Grand Hotel, falhou a travagem e levou ambos contra a barreira, obrigando-o a contentar-se com o 12º posto. Não está a ser nada feliz o regresso de Kimi à scuderia. E logo neste fim de semana em que parecia regressar com mais força. Kimi ainda não se encontrou este ano e tem acusado a pressão. Chegou ao Mónaco decidido a mostrar o seu valor e isso notou-se na sua postura, mas não foi ainda o suficiente.

Force India

O fim de semana começou discreto para a Force, que depois de um início de época excelente mostrou alguns sinais de baixa de forma no último GP. Conseguiram 10º e 11º na qualificação, o que não pode ser considerado positivo, dado que se trata de uma pista onde é difícil ultrapassar. Perez repetiu a receita do ano passado, cometendo um erro que o fez desistir. O mexicano distraiu-se e não viu o McLaren de Button, fechando em demasia a trajectória, o que originou um toque que atirou o Force India para as barreiras na Mirabeau. Perez, que tem tudo para ser grande, continua a não capitalizar o talento que tem. A sua irregularidade tem, aliás, prejudicado o mexicano, que já mostrou ser capaz de fazer coisas fantásticas em pista.

Hulkenberg fez mais uma excelente corrida. Largando de 11º foi acabar em 5º. O alemão tem sido de uma regularidade a toda a prova. Tem pontuado em todas as provas e continua a mostrar que deve ingressar numa equipa de topo. A ultrapassagem que fez em Portier é fenomenal e é candidata a ultrapassagem do ano. É um piloto elegante e eficiente, cuja postura dentro e fora de pista agrada a muitos. Talvez lhe falte ser mais aguerrido em alguns casos para de facto se mostrar. Mas é excelente, este alemão.

Williams

O mesmo registo do inicio da época. Muita promessa, muita expectativa, mas há sempre algo que impede a equipa de realmente brilhar. Bottas, que até estava a ter uma boa prestação, foi obrigado a desistir com problemas no motor, e Massa executou uma boa recuperação, subindo de 16º para 7º. Massa definitivamente não tem sorte no Mónaco. No ano passado despistou-se duas vezes no mesmo sítio, e este ano, quando tinha tudo para fazer um bom resultado, ficou na Q1 devido a um Ericsson trapalhão. Fica sempre, contudo, a sensação de que a Williams pode fazer mais.

McLaren

Depois de 3 corridas sem pontuar, Button e Magnussen voltaram a somar pontos preciosos. Os carros ainda estão longe do que devem fazer e a sua performance fica mascarada pela especificidade do circuito do Mónaco. Magnussen claudicou no final, sendo passado por Button, e o acidente com Räikkonen fê-lo descer até ao 10º. Embora nos pontos, tem motivos para ficar descontente. Mas chamar velho a Kimi… é preciso ter coragem. Não foi elegante da parte do dinamarquês, mas a F1 precisa de mais acção e menos elegância. Se o dinamarquês está disposto a travar essa luta e se se sente capaz, só tem de o provar na pista. Button esteve ao seu nível. Depois de ter falhado na qualificação onde admitiu que não tinha estado bem, fez 6º e terá recuperado alguma moral para enfrentar o próximo GP. Button, que também está na corda bamba na equipa e com o seu futuro pouco definido, precisa de bons resultados, mas infelizmente o carro não lhe permite muito mais.

Lotus

Mais uma excelente corrida de Grosjean. O francês esteve na boca do mundo na última semana, havendo rumores que apontavam para a sua saída da Lotus. A verdade é que já ninguém se lembra do Grosjean "Kamikaze". Está agora um piloto maduro, inteligente e capaz de levar a equipa a bom porto. A sua velocidade sempre foi prejudicada pela sua inconsistência. Tratado esse problema, Grosjean pode sonhar com algo mais para si. Já Maldonado teve um fim de semana péssimo. 15º na qualificação e uma desistência na corrida. Se não é ele a fazer asneira é o carro que não o ajuda. A situação não está fácil para o venezuelano, somando-se os rumores de que poderá ficar sem financiamento.

Marussia

Bianchi finalmente chegou ao primeiro ponto na F1. Mais do que merecido. O francês tem um talento inegável e está a construir passo a passo uma caminhada primissora na F1. O protegido da Ferrari levou a Marussia aos primeiros pontos. Foi graças a ele que no ano passado a equipa ficou em 10º. E este ano a filosofia «fazer simples, barato e fé em Bianchi» parece ter resultado outra vez. Chilton ocupou o lugar a que está mais habituado… último.

Caterham

Ericsson surpreendeu toda a gente com um 11º. Ficou perto do tão desejado ponto que Tony Fernandes quer, mas não foi suficiente. Kobayashi ficou em 13º, ele que não teve também uma tarde muito feliz. O anúncio da mais que possível venda da equipa não estará por certo a ajudar no que diz respeito à pressão sobre os pilotos. Tony Fernandes foi muito injusto ao colocar a fasquia tão alta neste ano tão especifico. A F1 não é futebol.

Sauber

Mais um fim de semana horrível, com os dois carros a desistirem novamente. Sutil perdeu o controlo do seu monolugar na saída do túnel e Gutierrez cometeu um erro crasso ao tocar nas barreiras em La Rascasse. Dois erros que custaram muito caro a uma equipa que precisa desesperadamente de bons resultados. O carro não evoluiu nada e as melhorias revelaram-se infrutíferas. Ficam na retina as ultrapassagens de Sutil e pouco mais.

Toro Rosso

Se apostou que os Toro Rosso iam fazer um bom resultado este fim de semana, pode culpar a Renault por isso não ter sido possível. Duas desistências por falhas mecânicas, numa corrida que tinha tudo para ser excelente para a equipa. Na qualificação, Vergne 7º e Kvyat 9º, e tudo apontava para mais uma boa colheita de pontos. Infelizmente, isso não foi possível. A equipa vive de um chassis surpreendentemente bem concebido e que ainda não recebeu qualquer melhoria e que ainda assim serve para as necessidades. Até quando poderá a boa forma manter-se?

Com o campeonato a ficar cada vez mais interessante, a caravana da F1 segue para o circuito Gilles Villeneuve no Canadá, conhecido pela sua exigência para com os motores e pelos elevados consumos. A luta Hamilton - Rosberg atingiu este fim de semana outro patamar e Lewis quererá vingar-se, mostrando que de facto não é amigo de Rosberg.

O GP do Mónaco em números

61º GP da era da F1.

17º pódio de Rosberg

5ª dobradinha consecutiva da Mercedes igualando o record da Ferrari em 52 e em 2002.

Marussia é a 64ª equipa a marcar um ponto na modalidade.

10ª dobradinha da Mercedes.

105ª vitória de motores Mercedes.