No passado Sábado, antes da realização dos 90 minutos que iriam decidir o vencedor da Liga dos Campeões, a organização mundial Greenpeace iludiu as barreiras de segurança que encerravam o local da final, infiltrando-se durante dois dias na cobertura do Estádio da Luz, com intento de preparar uma acção de protesto contra a gigantesca empresa de energia russa Gazprom, a maior exportadora de gás do planeta, controlando nada mais nada menos que 15% das reservas mundiais de gás. A empresa estatal (com parcelas privatizadas) é uma das maiores patrocinadoras da UEFA Champions League e tem estado na berlinda devido às explorações de petróleo que tem efectuado no Árctico.

Cifrões na Champions à custa do ambiente

A censura da Greenpeace para com a Gazprom ressurge depois da vontade da empresa em explorar as reservas petrolíferas do Árctico. A invasão ambiental imposta pela Gazprom iniciou-se em Dezembro de 2013, sob o protesto da generalidade das organizações ambientais, que acusaram a companhia russa de desencadear um processo de destruição do ecossistema, com riscos gravíssimos para o meio ambiente. Dada o lento processo de regeneração do ecossistema do Árctico, os derretimentos de placas, derrames ocasionais e extracções intensivas (durante o Verão) serão, certamente, traduzidos num acto «criminoso», como apelida o director-executivo da Greenpeace, Kumi Naidoo: «A exploração de petróleo no Árctico não é só injusta, mas criminosa», afirma sem rodeios.

Naidoo prossegue com as críticas, alertando para os dados partilhados pela comunidade científica: «Há pesquisas em duas frentes: sobre o Ártico em si e sobre o Árctico no contexto da mudança climática. O Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU (IPCC) tornou público um relatório que reforça a visão do Greenpeace. A conclusão é a seguinte: há consenso científico de que 75% das reservas conhecidas de carvão, óleo e gás no planeta precisam ficar exactamente onde estão, se quisermos evitar uma catástrofe climática de escala planetária. Há até cientistas russos apoiando nossa posição no Ártico, ou seja, de que é preciso declarar a região santuário global, protegendo-a como se faz na região antárctica», conclui, em entrevista ao órgão comunicacional brasileiro Estadão.

Com o avanço da Gazprom no Árctico vieram as campanhas activistas da Greenpeace. Por ser uma das mais importantes patrocinadoras da UEFA Champions League, a organização ambiental escolheu os palcos da competição para dar um cartão vermelho à empresa, mostrando ao mundo inteiro a censura que deve ser feita à conduta da bilionária extractora de gás e de petróleo. A campanha «Save the Artic» foi acompanhada de lemas futebolísticos adequados como «show Gazprom the red card». As acções visam sensibilizar o mundo para a nociva conduta da Gazprom, que defrauda a ética social e ambiental ao prejudicar o ambiente, e, simultaneamente, financia a modalidade do futebol ao mais alto nível com dinheiro sujo proveniente dos malefícios do seu lucro.

«Save the Arctic» ou um apelo à ética mundial

A campanha tem marcado presença em alguns jogos da Liga dos Campeões. A surpresa mais badalada ocorreu numa partida entre o Real Madrid e os dinamarqueses do FC Copenhaga, disputada na Dinamarca, em Dezembro. Uma tarja foi pendurada como pano de fundo enquanto Pepe e Ancelotti se preparavam para discursar. «Save the Arctic, give Gazprom the red card», pôde-se ler claramente. Minutos mais tarde, a tarja foi removida. Também a Suíça foi palco dos protestos da organização, quando, num duelo entre o Basileia e o Schalke 04: «Gazprom, don't foul the Arctic», podia-se ler numa tarja gigantesca apresentada nas bancadas do estádio. Num contexto de poluição exponencial, onde o debate sobre as alterações climáticas é imperativo, poderá o Futebol (as suas instâncias máximas e os adeptos) assobiar para o lado, ignorando o flagelo e fazendo parte cooperante do processo de destruição do Árctico?

Estádio da Luz foi alvo gorado da Greenpeace

A final da Liga dos Campeões foi o último palco escolhido pela Greenpeace para manifestar-se contra a Gazprom, mas os seus intentos foram frustrados pelas autoridades de segurança. Apesar de terem logrado furar o protocolo de segurança, os activistas foram bloqueados antes de expressarem o descontentamento. Dez membros foram presos. O objectivo era o de «pedir à UEFA que rompa o contrato com a Gazprom, que não deixem sujar um espectáculo tão bonito de futebol. A Gazprom usa este contrato para limpar a sua imagem», afirmou, ao Público, Luis Ferreirim, um dos porta-vozes do organismo mundial.