Para jogar este Mundial no seu continente, a Argentina teve que disputar a difícil fase de apuramento sul-americana e teve que defrontar selecções como o Uruguai, a Colômbia e o Chile, entre outras. Numa caminhada dura e longa, os argentinos ficaram em primeiro, com 32 pontos, mais dois que a Colômbia e chegam ao Brasil com totais aspirações de almejar a conquista final. O seleccionador Alexandro Sabella tem o privilégio de ter o lote de 23 com mais soluções ofensivas, sem desguarnecer o factor quantidade/qualidade, deixando de fora, por exemplo, jogadores como Tévez ou Milito. Sendo tradicionalmente um país com atacantes absolutamente extraordinários e criativos, os albicelestes contam com uma propensão ofensiva composta por di María, Messi, Lavezzi, Higuain e Agüero fazendo tremer qualquer defesa adversária.

Máquina alucinante de ataque, rumo ao 3º Mundial

Com algumas incoerências tácticas, o selecionador Sabella utilizou, ao longo da fase de apuramento, variadíssimos jogadores no sector defensivo e de meio-campo, o que retira, para este Mundial, entrosamento ao 4x3x3 com que habitualmente compõe o sistema táctico.

O veteraníssimo guarda-redes Romero tem no carisma e no espírito de liderança, as características que o mantêm como titular, não tendo uma qualidade de craque como Neuer da Alemanha ou Casillas em Espanha. Apesar de ter rodado por inúmeras vezes o quarteto defensivo, a equipa Vavel avança com a seguinte aposta: Zabaleta a defesa direito (jogador com bom posicionamento defensivo e com propensões interessantes no ataque), Demichelis e Garay como dupla de centrais, pela sua experiência e forte jogo aéreo que, no caso do jogador do Benfica, foi ainda mais evidente ao longo desta época, com o defesa a ser decisivo a defender e forte na concretização de golos. A lateral esquerdo surge o habitual central do Sporting, Rojo que, ao serviço da selecção, tem cumprido esta função pela velocidade que consegue imprimir na ala esquerda, tanto a defender como a atacar.

No meio-campo encontramos três médios que ajudam a compor o 4x3x3, com a dúvida a subsistir, mais uma vez, de quais serão os titulares, sendo que Mascherano parece ser o único indiscutível a médio defensivo. A participação de Enzo no Mundial ainda não é certa mas avaliando a regularidade da temporada do argentino, as características do mesmo podem ser perfeitamente compatíveis com Mascherano, uma vez que o jogador do Benfica tem a extraordinária capacidade de recuperar bolas e de imediatamente lançar a equipa para o ataque.

Caso Enzo não esteja presente na convocatória deverá ser Banega a alinhar como número 8, a apoiar uma das maiores figuras do Real Madrid, di María que, esta época, alterou a sua posição de origem e tem agora uma liberdade táctica que lhe permite, com facilidade, distribuir jogo como número 10 e descair para uma das alas, por forma a surpreender os defesas contrários.

O ataque é o ponto forte desta selecção e, para dançar o “tango” fica tudo dito quando um seleccionador tem a hipótese de escolher criativos como Messi, Higuain, Agüero ou Lavezzi, para os 3 lugares da frente. Todos estes jogadores têm espírito de goleador, de velocistas, criativos que, com certeza, irão nivelar por cima, a qualidade deste Mundial 2014.

Incoerências defensivas de um seleccionador indeciso

Em 16 jogos disputados na fase de apuramento sul-americana, a Argentina sofreu 15 golos, estatística essa que, para uma selecção favorita a vencer o Mundial, não deixa de ser preocupante. Com maiores preocupações ofensivas, os albicelestes perdem rigor defensivo e aqui está uma das razões que tem deixado a Argentina fora das finais dos dois últimos Mundiais. Com um guarda-redes duvidoso em termos de qualidade e perante tanta rotatividade promovida pelo técnico no último reduto, os automatismos de uma selecção dita favorita não se ganham e não é por falta de qualidade dos jogadores.

No meio-campo, Mascherano parece ser o único jogador a equilibrar as saídas para o ataque, o que demonstra uma falta de visão técnico-táctica do seleccionador, ao não apostar num jogador como Enzo Pérez. Em suma, caso o seleccionador aproveite a plenitude das qualidades dos jogadores selecionáveis, tornaria o colectivo tão demolidor como é a sua frente de ataque.

Líder: a “pulga” Messi quer saltar bem alto

Mesmo depois de uma temporada abaixo das expectativas, ao serviço do Barcelona, onde não ganhou qualquer título, é impensável excluir o astronómico jogador do lote dos 3 melhores jogadores para este Mundial. Na selecção argentina, Messi nem sempre tem sido tão decisivo como o é no seu clube mas não deixa de ser um líder que, integrado num colectivo frágil, irá com certeza querer mostrar as credenciais que já o levaram a vencer quatro Bolas de Ouro. Com a camisola albiceleste, o mago argentino já cumpriu 84 internacionalizações, concretizando 37 festejos. Para este Mundial, o número 10 será um dos principais focos, em conjunto com Cristiano Ronaldo e é um prazer assistir às suas habilidades com a bola colada ao pé, sem que os adversários o consigam desarmar.

O ás: o supersónico Di María

A par de Messi, o jogador mais desequilibrador do conjunto argentino é indubitavelmente di María, que venceu recentemente, a sua 1ª Liga dos Campeões ao serviço do Real Madrid. Para este feito, o prodigioso atacante foi um dos jogadores mais preponderantes, pela resistência física que demonstrava ao longo dos 90 e, por vezes, 120 minutos, sempre com sprints e dribles constantes, sem esquecer uma visão de jogo e uma capacidade de passe, que fizeram os atacantes dizer, na gíria do futebol, “é só encostar”. Ao serviço da selecção, o mágico já jogou por 45 vezes, tendo balançado as redes contrárias por 9 ocasiões. Com uma técnica acima da média e depois de ter descoberto novas funções dentro das 4 linhas, a imprevisibilidade do seu futebol ganhou outra tónica e torna-o um dos jogadores mais mediáticos para esta competição.

Jogador a seguir: Agüero, o Mundial da afirmação?

Contratualmente ligado ao Manchester City, Agüero, que já brilhou no Atlético de Madrid, foi um dos melhores marcadores da Liga Inglesa e sagrou-se, a nível colectivo, campeão britânico de futebol. A actuar na selecção argentina, o extraordinário atacante tarda em afirmar-se como um verdadeiro craque mas, ainda assim, é um dos melhores finalizadores que o mundo do futebol já conheceu. Com 47 internacionalizações, o jogador de 25 anos já concretizou a média interessante de 21 golos. O forte poder de desmarcação e o repentismo em fintar qualquer defesa, poderão fazer do criativo, uma das surpresas da competição, neste que se pretende que seja o Mundial da sua afirmação.