Não são precisas vestes de cartomante, para saber que no final do Mundial do Brasil, quando se rezarem as estórias, os resultados e as aparições da competição, se concluirá com amargura que não voltaremos a vislumbrar Andrea Pirlo com o número 21 da azzurra. Porque ver Pirlo jogar é como assistir à exibição de uma lenda viva. Com a classe e a mestria de que só se fazem os grandes. É, por isso, e justamente, considerado um dos melhores jogadores italianos de sempre.

Pirlo é a personificação do charmoso futebol italiano, aliado à eficácia de um bom médio. Mestre das bolas paradas, ressalta técnica na forma como se posiciona em campo, quer pela precisão do seu drible e do seu passe curto, quer seja pelo meio poderoso com que assiste os da frente. Antes, é preciso na recuperação de bolas e na leitura de jogo, sempre aparentemente calma e segura, com a movimentação certa. O mundo do futebol não consegue ficar indiferente ao italiano e, prova disso, é a acumulação de distinções no seu currículo profissional com 22 anos: já foi considerado por diversas vezes melhor jogador da Série A, melhor médio do mundo por 3 vezes (2006,2008 e 2011) e esteve na Equipa do Ano da UEFA por seis anos (2003,2004,2005,2006,2007 e 2012).

Embora tenha iniciado a sua incursão como futebolista na posição de avançado, em 1992 ao serviço do Brescia, foi a sua eficaz performance a meio-campo que o tornou como referência para a posterioridade. Isso, devemos à adaptação levada a cabo pelo AC Milan, clube que representou por uma década (2001-2011) e o consolidou como futebolista. Reflexo, é o palmarés conquistado, entre o qual se erguem duas Ligas dos Campeões e dois campeonatos italianos. Paralelamente, é enquanto jogador do Milan que, em 2006, Pirlo e a sua Itália fazem a campanha vitoriosa no Mundial, na Alemanha.

Da rejeição no Inter à ressurreição na Juventus

A estreia na série A fez-se, precocemente, dois dias após ter completado 16 anos, num jogo do Brescia contra o Regina, na temporada de 1994/95. O seu papel na frente do terreno captou a atenção do Inter, que o contratou em 1998. Ainda assim, o salto para um dos grandes emblemas italianos não foi feito com o sucesso esperado, o que o levou ao empréstimo ao Regina e, mais tarde, ao Brescia. Curiosamente, os dois clubes que protagonizaram a sua estreia, anos antes.

Mas, na falta de aproveitamento do talento de Pirlo por parte do Inter, surgiu, em 2001, a confirmação deste por parte do rival Milan, que o fixou por 18 milhões de euros. O valor foi reflectido em 401 jogos oficiais e em 41 tentos marcados, bem como numa década de prestações preciosas. Ainda assim, o fim da representação foi marcado por lesões que fizeram decair o seu rendimento.

Em 2011, numa aposta arriscada e envolta em grande expectativa, Pirlo assinou, a custo zero, um contrato de quatro épocas com a Juventus, clube onde se mantém. Juntamente com Buffon, é um representante sagrado da equipa de Turim, na qual se sagrou campeão nas suas três épocas ao serviço. Pode afirmar-se que Pirlo e Juventus têm caminhado, lado a lado, na ressurreição.

Duas décadas pela azzurra

Representante italiano desde 1994, Pirlo estreou-se na selecção A pela mão de Trapattoni, em 2002. A consagração vestida de azul chegou em 2006, no Campeonato do Mundo na Alemanha, sob o comando de Marcello Lippi. A Itália festejou o seu 4º título mundial, com uma excelente campanha do seu 21, considerado o 3º melhor jogador da prova e o melhor em campo em 3 partidas. No Euro 2012, foi considerado o 2º da competição e foi, igualmente, o melhor em campo em 3 dos 6 jogos disputados pelos italianos.

A par do seu companheiro da Juventus, Buffon, tem sido, na última década, um dos estandartes da Itália, pela consistência e, sobretudo, pela experiência que empresta a uma bandeira que é sempre uma tradicional candidata. Após representar por 108 jogos a Selecção A, e depois de carimbado o apuramento para o Mundial, Andrea Pirlo anunciou, a 2 de Maio de 2013, que esta será a sua última competição pela azzurra.