Foi com muita surpresa que fiquei a par da chegada de Kevin Friesenbichler ao SL Benfica, um avançado possante e sem qualquer tipo de experiência em palcos reconhecidos. É bom dizer que os indicadores não são os melhores: um avançado com um tipo de jogo que não entra no esquema actual do Benfica; um avançado com registos modestos nas camadas jovens da selecção austríaca; um avançado que jogava na equipa B do FC Bayern que, ao contrário de cá, não disputa o segundo escalão mas sim uma divisão regional da Baviera. Com o tempo veremos se sai daqui surpresa das boas.

O que mais me deixou com a ‘pulga atrás da orelha’ foi a forma quase que contrastante entre a forma como Friesenbichler se apresentou e Jorge Jesus o apresentou. O jovem austríaco veio a público assegurar que vinha para a equipa principal do Benfica. Já o técnico dos encarnados, em entrevista recente, parece ter apontado Kevin (foi desta forma que evitou o impronunciável apelido do atacante) à equipa B, embora não tenha sido claro nesse ponto. A confirmar-se, há aqui alguém enganado. O elo mais fraco, claro, como de costume.

Tem-se tornado um (triste) hábito este, o dos jogadores enquanto elo mais fraco do futebol. São cada vez mais um utensilio para vários fins (entre ganhar competições e ganhar dinheiro), uma mercadoria como já neste espaço escrevi. E incomoda-me muito ver clubes (como o Benfica) onde essa política tem imperado. O caso do engano a Kevin Friesenbichler, a confirmar-se é só mais um entre vários recentes. Quem não se lembra da ‘luta’ que Rodrigo Mora teve com o Defensor Sporting para se desvincular e assinar pelo Benfica, perdendo meses de competição por castigo? O que teve Rodrigo Mora em troca do clube encarnado? Absolutamente nada. Fez a pré-temporada, marcou golos, e acabou emprestado (que é o mesmo que dizer que acabou dispensado).

Quem não se lembra também do caso de Urreta, que nas poucas vezes que foi chamado correspondeu com incrível acerto e acabou sempre levando um chuto no rabo como recompensa (não joga desde a excelente exibição contra o Nacional!). E quem não se lembra dos inúmeros casos de jogadores portugueses que ousaram um dia aspirar vestir a camisola do maior clube português e acabaram por não ter uma única oportunidade (ou poucas)? Hugo Vieira ou Nuno Coelho são casos recentes de jogadores portugueses que chegaram com tanta ilusão quanto a desilusão com que saíram. E Djaniny, lembram-se?

Esta forma de estar incomoda-me por várias razões. A primeira de todas pelo simples facto de não gostar de ver o meu clube tratar mal os seus jogadores, por muito pouca qualidade que venham a mostrar. Cai sempre mal quando leio ex-jogadores falarem com mágoa e às vezes com uma certa raiva sobre a passagem pelo clube. Mas também é um problema porque pode começar a afastar jogadores do clube, dados os exemplos cada vez mais frequentes. É que não duvido que alguns desses mesmos jogadores não tenham dúvidas na escolha entre Benfica e FC Porto (só como exemplo) numa eventualidade futura. Já para não falar de jogadores de outras equipas, com perfis semelhantes, que podem começar a ficar com o pé atrás quando surge a possibilidade (tão fascinante mas tão perigosa) de entrar no Benfica.

É tempo de acabar com o entreposto no Benfica, como em todos os clubes, de acabar com este jogo do vale-tudo. Porque é o nome do clube que sai manchado. Desejo a Kevin Friesenbichler a maior sorte no Benfica e que consiga cumprir o sonho de representar o clube encarnado. Mas esta é uma novela que todos já conhecemos