Raridade absoluta no futebol contemporâneo: a Rússia apresenta um lote de 23 jogadores completamente recrutado dentro de portas, na liga russa. Todos os jogadores escolhidos pelo italiano Fabio Capello actuam no campeonato russo, curiosidade que não se aplica a mais nenhuma das 31 selecções presentes no Mundial do Brasil. Ainda assim, existe uma selecção que fica muito perto de copiar o fenómeno russo: falamos da Inglaterra, que apenas tem um elemento a actuar fora das suas fronteiras. Em contramão, a Bósnia apresenta um lote de seleccionados composto exclusivamente por jogadores emigrantes. Também o Uruguai iguala a Bósnia, enquanto o Gana apresenta apenas um elemento a participar no campeonato do país de origem.

Talento dentro de portas russas

Na Rússia, três clubes detêm a maioria dos jogadores emprestados à selecção: Dinamo Moscovo com 6 activos, CSKA Moscovo com 5 e Zenit com 4. Os restantes escolhidos espalham-se por clubes como o Spartak (2 jogadores), Amkar, Anzhi, Krasnodar, Lokomotiv, Rubin Kazan eTerek Grozny. À semelhança do campeonato inglês, a liga russa demonstra, com este indicador, que o seu fulgor competitivo está melhor que nunca, já que a capacidade de manter (e até resgatar, no caso de Kerzhakov, Zhirkov ou de Arshavin, embora este não integre a lista para o Mundial) parece ser factual. Jogadores altamente promissores como o lateral Schennikov, o médio criativo Dzagoev ou o avançado Kokorin, são valores confirmados que apontam para voos gloriosos. Ainda assim, os seus clubes têm resistido à cobiça internacional, muito devido ao poder financeiro que possuem.

Premier League e Bundesliga monopolizam seleccionados 

A selecção inglesa apenas tem um emigrante, trata-se do guarda-redes Fraser Forster, que milita na divisão escocesa ao serviço do Celtic. O poderio da Premier League, a sua fama e a capacidade de que dispõe para manter o talento inglês dentro das suas fronteiras são traços característicos de um campeonato pujante, competitivo, feito de estádios cheios e receitas chorudas (apesar do encoberto endividamento dos seus clubes). O Liverpool é a formação que mais jogadores oferece à selecção orientada por Roy Hodgson, com 5 elementos, seguido do Manchester United com 4 e do Everton com 3. Depois da Inglaterra vem a Itália, com 20 elementos provenientes da Serie A: a Juventus contribui com 6 bianconeri, o Milan 3, assim como Torino e Parma. A Alemanha segue com 17 jogadores germânicos vindos da Bundesliga, com dupla dominadora Bayern/Borussia a providenciar 12 membros, 7 dos bávaros e 5 dos Die Schwarzgelben (pretos e amarelos).

Gana e Uruguai: países de emigrantes 

Em sentido contrário está, como acima referimos, a Bósnia, que é composta por 23 emigrantes, muitos deles a trilharem carreiras de pleno sucesso, como Ediz Dzeko (Manchester City), Miralem Pjanic (Roma), Emir Spahic (Bayer Leverkusen), Asmir Begovic (Stoke City), Vedad Ibisevic (Estugarda) ou o experiente Zvjezdan Misimovic (hoje no Guizhou Renhe). O Uruguai iguala a Bósnia, não tendo nenhum jogador a actuar no campeonato nacional. A qualidade de exportação do país «celeste» reflecte-se nas ligas europeias que os seus executantes povoam: Godín, José Maria Giménez e Stuani actua na Liga BBVA, Abel Hernández, Álvaro González e Diego Pérez, Gargano e Cáceres jogam na Serie A, enquanto Coates e Luis Suárez militam na afamada Premier League. Maxi Pereira e Fucile integram a Liga Zon Sagres.

A selecção do Gana apenas apresenta um elemento proveniente da liga ganesa, Stephen Adams, que joga no Aduana Stars. Todos os restantes membros da convocatória de James Appiah actuam fora de portas, muitos deles no continente europeu, onde passeiam qualidade, garra, poderio físico e golos (o caso é em tudo semelhante à Costa do Marfim). Cinco elementos fazem parte da Serie A (Asamoah, Muntari, Essien, Agyemang-Badu e Acquah). A título de curiosidade, o organizador do torneio, o Brasil, possui 4 jogadores a actuarem em solo «canarinho», 2 no Atlético Mineiro (Victor e Jô), um no Botafogo (Jefferson) e outro no Fluminense (Fred). Por seu turno, Portugal levará ao Brasil 8 jogadores que laboram na liga lusitana: Rafa, Éder e Eduardo pelo Braga, André Almeida e Amorim pelo Benfica, Patrício e William Carvalho pelas cores do Sporting, e Varela pelos «dragões».

Duas realidades opõem-se neste cenário comparativo. De um lado os campeonatos poderosos que atraem receitas, patrocinadores endinheirados, contratos publicitários avultados e financiamentos crónicos que suportam o investimento elevado, quer no reforço das equipas quer na aposta em infra-estruturas de treino e na especialização dos seus profissionais; do outro, ligas débeis, com uma economia nacional depauperada e um clima de contracção financeira (assimetrias económicas e sociais consideráveis são habituais nestes contextos), factores que obrigam à exportação da maioria dos talentos nacionais. 

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