Tudo parecia se encaminhar para mais um jogo vitorioso da selecção espanhola, a detentora do título de Campeã do Mundo: aos 27 minutos, Diego Costa caiu na área e o juiz da partida, erroneamente, assinalou o castigo máximo - Xabi Alonso converteu. A formação treinada por Del Bosque estava longe de imaginar o descalabro que iria ter pela frente neste primeiro desafio do grupo B. O passe milimétrico de Blind descobriu, aos 44 minutos, um Van Persie desmarcado...poderá o leitor não acreditar mas o que se vai narrar a seguir são eventos baseados numa história verídica...

Holandês voador descolou para a goleada

Espanha com mais bola em seus pés, passes de ligação, movimentações características e um golo para alegrar os aficionados. Tudo estava, portanto, a decorrer como previsto. O passe longo (e teleguiado) do lateral Daley Blind descobriu Robin Van Persie, que furou por entre os centrais e mergulhou de modo sublime para executar de cabeça um golo absolutamente genial, apenas ao alcance de poucos. De repente, numa fracção de segundo que parece ter demorado horas - tal o épico e belo salto de Persie - o jogo passou a soprar a favor da Holanda: o descalabro não demoraria muito a ter lugar.

Robben trocou as cabeças de Ramos e Piqué

Com o empate se saiu para o interregno, ao empate não mais se voltou depois do regresso ao estádio Arena Fonte Nova. Isto porque o velocista Robben, solicitado por novo passe preciso de Blind, correu que nem uma flecha, puxando da manga um truque que desmontou os centrais espanhóis - o nó cego dado a Piqué, já no coração da área, foi particularmente embaraçoso. O remate selou a excelente jogada da «Laranja Mecânica», que dava assim a volta ao texto. O 1-3 seguir-se-ia dentro de breves momentos, depois de uma infracção não assinalada sobre Iker Casillas - De Vrij marcou de cabeça na sequência de um livre bombeado para a área espanhola.

Casillas armou a tenda para dar barraca

Não contente com a amadora exibição dos centrais Sergio Ramos e Piqué, o guardião do Real Madrid resolveu, aos 72 minutos, ajudar à festa trágico do descalabro: depois de receber a bola no pé, vinda de Ramos, Casillas inventou e perdeu a bola para Persie, que marcou perante o embaraço do «keeper» espanhol. Estocada mortal com bis do avançado do Manchester United. Um erro crasso de Casillas, que não conseguiu esconder a desilusão por ter cometido tamanha infantilidade. A goleada, no entanto, não se iria compadecer com tristezas adversárias.

Robben colocou a cereja no topo da humilhação

Endiabrado e consciente da insegurança vivida pela defesa espanhola, Arjen Robben meteu a sexta (80 minutos) e passou, melhor, voou, por Ramos, deixando-lhe apenas um aroma do seu futebol no ar. Com o central do Real para trás, Robben contornou um assarapolhado Casillas, que se arrastou pelo relvado numa busca inglória pela bola. O pontapé de Robben empurrou a bola para o fundo das redes, onde, em cima da linha, Alba e Ramos tentavam imitar dois pinos de bowling. Casillas, largado no relvado, assistia à concretização da «manita».

Holanda arranca em êxtase

Cinco golos, reviravolta assombrosa, golos de bandeira e uma afirmação mundial logo diante do campeão do mundo: a «Laranja Mecânica» está oleada e pronta a discutir a competição. Van Gaal, seleccionador laranja, realçou a categoria dos seus pupilos: «Deve-se à estratégia e à dedicação dos jogadores, que executaram o esquema táctico com convicção», explicou, na análise ao jogo. Autor de um golo abismal, Van Persie elogiou a vertente táctica apresentada: «É mérito da táctica delineada. Fizemos o 1-1 num momento ideal e o 2-1 também foi fundamental. (...) É inexplicável como este tipo de vitórias acontecem mas, quando chegam, são fantásticas».

Campeã de azia depois de laranja indigesta

Nada fazia prever, depois dos festejos de Xabi Alonso, uma goleada plena de sofrimento e embaraços vários. Ferida no orgulho e dorida do soco laranja, a Espanha tem dois jogos para recuperar a motivação e garantir a passagem à fase seguinte. Vicente Del Bosque reconheceu que o momento está longe de ser positivo: «Quando eles se colocaram na frente a euforia tomou conta do seu jogo enquanto nós ficámos deprimidos. É um momento muito delicado mas entre nós temos de tentar arranjar solução», concluiu.

Casillas afasta dramatismos

O experiente guardião do Real Madrid reconheceu a má exibição do colectivo, sublinhando igualmente a sua fraca prestação, apesar de ainda ter feito um par de defesas cruciais: «A Holanda fez um jogo fenomenal e nós não. Também não estive muito bem e aconteceu o que aconteceu», admitiu sem sombra para dúvidas. Apesar da noite aziaga, Casillas deixou um aviso à navegação: «Não podemos dramatizar. Somos os campeões do mundo, somos maduros e sabemos como aguentar as críticas. É normal. Temos de aguentar, trabalhar e preparar o jogo com o Chile», afirmou.

O jogo com o Chile será importantíssimo para a Espanha. Os chilenos bateram por 3-1 a Austrália e vão para o embate com a campeã do mundo com a barriga cheia, enquanto «La Roja» terá de se reerguer do descalabro e aguentar firmemente a pressão que agora cai sobre os seus ombros. «Contra o Chile jogamos a vida. Ainda há possibilidades. Não podemos perder a esperança. O sucesso desta seleção é levantar-se em momentos difíceis», realçou Sergio Ramos.