Um dos jogos de cartaz da fase de grupos do Mundial 2014 terá como protagonistas Portugal e Alemanha, que irão abrir as hostilidades no Grupo G, que é ainda composto por Estados Unidos e Gana. Esta emocionante partida tem tudo para ser empolgante e ser bem disputada e contará com estrelas como Pepe, Moutinho e Ronaldo do lado luso e Hummels, Schweinsteiger e Özil do lado germânico, que poderão representar um autêntico hino ao futebol, neste Mundial que tem sido repleto de surpresas. O encontro terá como palco o estádio Arena Fonte Nova em Salvador da Bahia, com arbitragem do sérvio Mirolad Mazic.

Alemanha esmagadora frente à selecção lusa

Ao longo dos tempos, Portugal e Alemanha enfrentaram-se por 17 ocasiões, com um parcial claramente favorável aos germânicos. Até ao momento, a Alemanha venceu por 9 vezes, tendo-se verificado 5 empates e apenas 3 triunfos portugueses. Dos 17 embates, oito encontros foram amigáveis, 4 foram disputados em fases de apuramento para mundiais, 4 em fases finais do Europeu de Futebol e apenas 1 no mundial disputado na Alemanha, na atribuição do 3º e 4º lugar. Este registo negativo da equipa portuguesa frente à Alemanha deve-se, em grande parte, à histórica dificuldade dos Lusos em se encaixarem no futebol físico e de forte pressão dos germânicos. Para este embate frente à Alemanha no Mundial do Brasil, Portugal poderá ter mais chances de disputar o resultado, uma vez que a forma de encarar a partida por parte dos alemães tem vindo a alterar-se, uma vez que têm desenvolvido mais o jogo técnico e de velocidade, o que poderá abrir espaços a uma equipa lusa que, tradicionalmente, tem dificuldades em soltar os seus alas nos embates frente aos germânicos.

Última vitória frente aos alemães remonta ao hat-trick de Sérgio Conceição

Em 2000, o campeonato europeu, organizado em solo francês, representou a última vitória portuguesa frente à Alemanha. A contar para a fase de grupos, os lusos, que disputaram ainda a passagem aos Quartos-de-Final com a Inglaterra e a Roménia, levaram de vencida os germânicos por expressivos 3-0. Frente a uma Alemanha de Kahn, Bode, Nowotny, Matthäus e Ziege, os lusos contaram com a inspiração de Fernando Couto, Rui Costa, Figo mas, sobretudo, de Sérgio Conceição que, numa noite diabólica, esmagou a armada alemã, com um hat-trick (golos aos 35’, 54’ e 71’). Este resultado serve de motivação para que esta Segunda-feira, a história se repita e Portugal possa começar o Mundial com o pé direito.

2006, 2008 e 2012: Alemanha não deu descanso à selecção das Quinas

Depois da eliminação de Portugal, na meia-final do Mundial de 2006, frente à França, os lusitanos disputaram a partida de atribuição do 3º e 4º lugar, com a anfitriã, Alemanha e, já sem chama e motivação, a selecção de todos nós começou por perder 3-0, com golos de Schweinsteiger (jogador que habitualmente marca frente à selecção portuguesa) e de Petit na própria baliza mas que viu ainda Nuno Gomes reduzir para 3-1, num jogo miserável da selecção de Figo, Deco e Ronaldo.

Dois anos depois, no Europeu da Suíça e da Áustria, Portugal apurou-se em 1º, no seu grupo e, nos Quartos-de-Final, apanhou a malapata germânica que foi em tudo superior. Os alemães bateram Portugal por 3-2. Na primeira parte, os alemães chegaram rapidamente à vantagem, pelo inevitável Schweinsteiger e o veterano Klose, com  Nuno Gomes a reduzir para 2-1, ainda antes do intervalo. O segundo tempo trouxe mais um golo da Alemanha, por intermédio de Ballack, numa eliminatória que Portugal ainda reduziu para 3-2, já perto do final, por parte de Hélder Postiga, deste que foi o último encontro de Scolari, ao comando técnico da selecção nacional.

Mais recentemente, em 2012, Portugal abriu o Europeu na Polónia e na Ucrânia, a defrontar a Alemanha, num Grupo que incluía ainda a Holanda e a Dinamarca. O jogo frente aos germânicos foi equilibrado e o resultado esperado seria o empate. No entanto, Mario Gómez gelou as aspirações portuguesas, com um cabeceamento certeiro, que ditou a derrota lusa, numa caminhada que levou a selecção de Paulo Bento, até às meias-finais, onde viria a perder com a Espanha.

Com Ronaldo, quem não sonha?

O seleccionador Paulo Bento poderá contar, ao que tudo indica com Pepe, Meireles e Ronaldo, que recuperados de lesão, oferecem maiores possibilidades de ombrear com a estrondosa selecção germânica. Apesar de Portugal entrar em campo com pouca margem de favoritismo, tem a seu favor o factor Ronaldo, que poderá influenciar a forma da Alemanha defender e, consequentemente, abrir espaços para Nani, Moutinho e Hélder Postiga.

Com o habitual 4x3x3, Paulo Bento contará na baliza com Rui Patrício, que foi o dono das redes lusas no Euro 2012 e na fase de apuramento para este Mundial. Os raçudos laterais João Pereira e Fábio Coentrão, serão os escolhidos pela entrega a defender e pela propensão ofensiva que oferecem ao ataque nacional. Estes dois atletas poderão ser uma das chaves para desequilibrar os adversários ao longo deste Mundial e, neste jogo frente à Alemanha, esperam-se jogadas de entendimento com Nani e Ronaldo, que permitam abrir brechas para cruzamentos, de forma a surpreender o último reduto germânico. No entanto, nunca poderão esquecer que a mobilidade dos jogadores da frente alemães, lhes permite penetrar no último reduto português e, aumentando as cautelas, a equipa das Quinas terá que ter cuidado com Özil, Schürrle e Mürle, que mudam de posições, com muita facilidade, dinâmica e rigor, o que poderá baralhar as marcações dos dois laterais lusitanos.

Recuperado de lesão, Pepe deverá fazer parelha com Bruno Alves, formando uma dupla forte no jogo aéreo e rápida nas antecipações. O papel de Pepe será fundamental, devido ao facto de já ter um conhecimento das movimentações dos médios e dos avançados alemães, podendo reduzir a eficácia das transições alemãs para o ataque.

No miolo surge uma das incógnitas de Paulo Bento, de qual será o médio defensivo, será Veloso ou será William? Se por um lado, Veloso oferece à equipa qualidade de passe e uma boa meia distância, por outro, William, um centro campista robusto fisicamente, com poder de choque e uma técnica acima da média que, num jogo como este, que se espera muito físico e com um ritmo alucinante, torna-o, no entender do Vavel Portugal, a opção mais credível, para o centro do terreno lusitano.

Os médios Meireles e Moutinho ganharam rotinas com Paulo Bento, ao leme da selecção nacional e deverão ser as apostas óbvias, pela organização e pela capacidade de recuperar bolas, sem nunca esquecer o repentismo que os caracteriza, em lançar a equipa para o ataque. O jogador do Mónaco é mesmo o pêndulo do meio-campo e, numa tarde inspirada, poderá até ser fundamental a actuar como falso 10, apoiando os três da frente e, noutra fase de jogo, evitar a saída de Hummels, que costuma ter liberdade para construir a primeira fase de jogo da Alemanha. O papel de William e Meireles irá requerer muito esforço físico e será fundamental para parar de raiz, as envolvências de Schweinsteiger e Özil, que costumam ter grande facilidade em servir a máquina de ataque dos três dianteiros germânicos.

Na frente, Ronaldo permitirá a Paulo Bento ensaiar, durante o próprio jogo, passar de um 4x3x3 para um 4x4x2, que fará com que CR7 fuja para perto do ponta-de-lança, por forma a furar o último reduto alemão, mostrando assim, todas as suas valências, enquanto velocista, tecnicista e goleador. Nesse flanco esquerdo, as subidas de Fábio Coentrão serão preponderantes e, como é apanágio no Real Madrid, o entendimento dos dois atletas, poderá ser demolidor para o frágil lateral alemão. O extremo do Manchester United, Nani será o outro ala, residindo ainda a dúvida em quem será o avançado. Postiga tem sido o preferido de Paulo Bento mas Hugo Almeida tem no jogo aéreo, um factor a ter em conta.

Perante isto, resta relembrar que o espírito goleador de Ronaldo será o maior trunfo de Portugal e, se Paulo Bento conseguir aliar esta pérola individual a um bom jogo colectivo, a nossa selecção tornar-se-á temível, mesmo para uma formação tão poderosa como a Alemanha.

Alemanha entra em campo com um ataque demolidor

A selecção alemã orientada pelo técnico Joachim Löw, tem sido letal nos últimos jogos particulares, com o treinador a antever, com grande expectativa, uma vitória frente a Portugal. Sem Reus na frente de ataque mas com Neuer e Schweinsteiger recuperados, o onze inicial apresentar-se-á rigoroso a nível técnico-táctico, com o habitual 4x2x3x1.

Entre os postes surge um dos melhores guarda-redes do mundo, Neuer, que tem a curiosidade de travar, frequentemente, duelos interessantes com CR7 (embates entre Real de Madrid e Bayern de Munique). O lateral direito será Boateng e é neste flanco que emergem as possibilidades de Ronaldo desequilibrar, pela fraca rotina que o defesa apresenta, quando alinha a lateral. Tal como Boateng, o lateral esquerdo Höwedes, é também uma lacuna defensiva, que Nani poderá aproveitar, com dribles e fintas constantes. O central Hummels é considerado o melhor central do mundo e é um prazer assistir à técnica e à classe, com que o defesa trava as iniciativas de ataque dos adversários (o jogador do Borussia de Dortmund é, muitas vezes, fundamental na primeira fase de construção do meio-campo). O parceiro no centro da defesa será o robusto Mertesacker que, juntos, irão compor o muro difícil de derrubar.

No centro do terreno, Schweinsteiger é o principal pilar a manobrar e a equilibrar o jogo alemão, sendo um médio que, para além da garra e da forte propensão física, tem ainda uma técnica invulgar, aliada a uma forte meia distância, que o caracteriza como um atleta completo, quase insubstituível. Lateral de raiz, mas habituado a actuar como médio defensivo, Lahm irá compor o duplo pivot com Schweinsteiger, apelando às dinâmicas que os dois ganharam, ao longo de uma década, ao alinharem pelo Bayern de Munique. O treinador Löw ensaiou esta táctica durante a semana, o que torna ainda mais pertinente a utilização de um jogador como William, por forma a bloquear as saídas portentosas dos alemães, na primeira e na segunda fase de construção.

Na frente encontraremos Özil enquanto 10, que terá tpda a liberdade para se colar às alas e até ao ponta-de-lança. O jogador do Arsenal costuma pautar os ritmos de jogo e denota habilidade e magia, com uma boa capacidade de passe e de remate. A tão falada liberdade táctica na linha de frente alemã é visível também nos extremos que deverão ser Schürrle e Müller, que têm facilidade e flexibilidade para mudar constantemente de ala, nas diferentes fases de jogo, fazendo soar o alarme de João Pereira e Coentrão, para evitar males maiores.

O avançado deverá ser a “velha raposa” Klose, que é especialista em marcar em fases finais do Mundial. A qualidade/quantidade permite ao técnico Joachim Löw moldar a equipa de forma diferente e é possível que Müller actue a falso ponta-de-lança, deixando Klose no banco, entrando assim a jovem promessa Götze, que é considerado o Messi alemão.

VAVEL Logo
Sobre o autor