
Quando, em 1966, a selecção portuguesa se desloca para terras de Sua Majestade, liderada por Otto Glória, está já a conseguir um registo histórico: nunca Portugal tinha estado presente numa fase final de um Campeonato do Mundo. E era, para além de uma novidade, o reconhecimento do bom talento que vivia no país por essa época. Eusébio, Coluna, Torres e mais três mãos cheias de talentos, constituíam uma comitiva com espírito aprendiz, mas que viria a transbordar ensinamentos para a posterioridade, ficando eternamente conhecida como Os Magriços.
Eusébio, a estrela maior da companhia
Otto Glória, conhecido como técnico intenso e apaixonado, é transportado para representar Portugal como resultado do seu trabalho de mérito à frente do Sport Lisboa e Benfica. Esta selecção é, aliás, intimamente ligada ao clube da Luz, enquanto formação que soube aproveitar o sucesso do clube na década, em que pratica um futebol arejado e de qualidade. Era a época da importação das pérolas africanas, em que o país lucrou com a colonização de atletas como Coluna e Eusébio, à qual soube aliar o reconhecimento de bons atletas nacionais, como Torres e Simões.
Mas nenhum nome soube imprimir a sua individualidade sobre o colectivo, fazendo com que esta selecção fosse para sempre a sua, como Eusébio. Sem fazer cair no buraco da História, o jeito peculiar e eficaz do avançado Torres, ou a mestria inigualável do monstro Coluna, é o Pantera Negra, na altura com 24 anos, a grande personagem deste enredo. Foi, primeiro, o melhor goleador da competição, com 9 tentos marcados. Depois, foi o comando do sonho português, na procura de vitórias, como quando chorou o seu fim, na derrota nas meias-finais.
Portugal x Coreia do Norte: jogo eterno
Três, era o número do grupo português na competição. E três foram as vitórias conseguidas, com três golos cada (Portugal x Hungria - 3-1; Portugal x Bulgária - 3-0; Portugal x Brasil - 3-1), a carimbar a passagem para os quartos-de-final. O Everton ofereceu a casa e a Coreia do norte chegou-se à frente como adversário, para protagonizar um jogo tão exemplar como mítico.
A 23 de Julho de 1966, Portugal começa por sofrer o reverso da regra dos três. No início da partida dos quartos, a Coreia mostrou-se uma equipa audaz e marcou por três vezes, sendo que o primeiro golo aconteceu aos 55 segundos e aos 25 minutos de jogo já havia conseguido o trio de tentos. Se era expectável o desânimo de uma equipa que experimenta demasiado cedo uma derrota antecipada, também é verdade que Inglaterra era o palco do sonho e Eusébio uma estrela inabalável.
Assim, o Pantera Negra ameniza a derrota passados dois minutos do 3º golo coreano, após ser assistido por Simões. Não festejou. Fez com que o jogo prosseguisse, sem demoras, e rapidamente marcou pela 2ª vez, desta feita de penalty. Depois, em 11 minutos, Portugal empata a partida, com novo golo de Eusébio, assistido novamente por Simões. O 4º tento de Eusébio, o tento da vitória e a confirmação da magia portuguesa, chegou aos 54’, com novo penalty. Fecharam-se as contas o final da partida, com o 5º golo, por José Augusto, também ele jogador de relevo nesta partida.
Inglaterra rouba o sonho português
A confiança crescia no grupo português, depois da vitória sobre o gigante Brasil, na fase de grupos, e depois da reviravolta do jogo com a Coreia do Norte. Na nova prova da competição, as meias-finais, Portugal contava com desafio igualmente duro: fazer derrubar a anfitriã Inglaterra, que havia eliminado a Argentina. Bobby Charlton vestiu a imagem de carrasco português, ao marcar dois golos na partida (aos 30' e 80'), que colocaram a Inglaterra na final que acabaria por vencer e, paralelamente, fizeram terminar o entusiástico percurso lusitano. Eusébio, que ainda apontou um golo de penalty (aos 82'), chorou, caído no relvado, protagonizando mais uma imagem emblemática.
Portugal acabou por segurar a medalha de bronze na competição, após a disputa com a União Sovietica, na qual venceu com golos de Eusébio e Torres. E se é verdade que o Mundial de 1966 mostrou, pela primeira vez, uma selecção portuguesa capaz de competir entre as maiores do mundo, também deu início à maldição que esta sofre, num passado mais recente, nas fases finais de Mundiais e Europeus: perdeu a meia-final europeia contra a França em 1998 e a final do Euro 2004 contra a Grécia; sofreu novo desaire contra os gauleses, na meia-final do Mundial 2006 e caiu com a Espanha na meia-final do Euro 2012.
