Depois de uma ausência de 11 anos do calendário da F1, o circuito austríaco de Spielberg, na província da Styria, agora baptizado com o nome do seu proprietário, a Red Bull, recebe este fim-de-semana a 8ª prova do calendário 2014.

Com apenas 9 curvas e 4,326km de extensão, o Red Bull Ring é o terceiro traçado mais curto do calendário, e aquele cujo tempo por volta é o mais baixo. Michael Schumacher, pela Ferrari, detém o recorde da volta mais rápida, conseguido em 2003: 1:08,337.

O traçado austríaco sofreu, contudo, ao longo dos anos, diversas alterações à sua forma, em função de numerosos acidentes verificados em algumas das suas curvas mais famosas.

O primeiro capítulo austríaco da F1

A história do Red Bull Ring começa em 1970 (em 1964 realizara-se já um GP na Áustria, na pista irregular do aeroporto de Zeltweg, mas foi experiência isolada). Então denominado Österreichring, a bonita pista verdejante com vista para os Alpes recebia o primeiro de 18 Grandes Prémios da Áustria consecutivos. Entre 1970 e 1987, a rápida pista, tornada célebre pelas suas curvas abertas e velozes num traçado sinuoso e em algumas secções pouco mais do que estrada normal, sem protecções extra, assistiu a algumas das corridas e episódios mais emocionantes e inesperados da história da F1.

1975 dá-nos boa prova disso mesmo. Num dia muito chuvoso, o italiano Vittorio Brambilla usou das suas capacidades sobre piso molhado para subir de 8º para 1º, até que à 29ª volta os comissários lhe mostraram a bandeira axadrezada, terminando a corrida mais cedo devido às condições atmosféricas e assim dando a vitória - única de Brambilla - ao piloto da March-Ford. O italiano ficou tão surpreendido que, ao levantar um braço para festejar, perdeu o controlo do carro e se despistou contra as barreiras de protecção do circuito. Ainda assim, Brambilla levou o carro de regresso à pista para a sua volta de celebração. O GP austríaco de 1975 ficou, contudo, tristemente marcado pela morte do norte-americano Mark Donohue após acidente sofrido nos treinos, assim como de um dos funcionários do circuito, atingido no mesmo acidente.

Acidentes ditam fim do perigoso traçado

Além da morte de Donohue, o Österreichring registou outros acidentes fatais, como os do motociclista Hans-Peter Klampfer, na perigosa Bosch Kurve, e do piloto de carros de turismo Hannes Wustinger na Dr Tiroch Kurve, numa secção que já não pertence ao traçado actual. Com os motores turbo dos anos 80 e a crescente potência dos monolugares, os pilotos abordavam estas curvas perto dos 250km/h, (e em zonas sem área de desaceleração), o que constituía um grande risco, pelo stress em que colocava os monolugares.

A morte de Wustinger, em 1994, fez a contestação à segurança do circuito atingir o seu pico, e ainda que em 1995 o circuito ainda tenha sido usado (embora não pela F1, que deixou a Áustria em 1987), esse seria o último ano do traçado original austríaco.

Transformação no A1-Ring

Entre 1995 e 1996 o circuito sofreu obras de alteração ao traçado, pela mão do famoso projectista de circuitos, o alemão Hermann Tilke. Em função da maioria dos trabalhos terem sido financiados pela operadora móvel A1, o circuito foi assim baptizado. A extensão da pista foi reduzida de 5,942km para 4,326km, e as suas três curvas rápidas foram substituídas por viragens apertadas, mais seguras e proporcionando aos pilotos maiores chances de ultrapassagem. Para fazer face a estes momentos mais lentos, foram acentuadas as rectas entre elas, o que faz do circuito austríaco um dos mais velozes do campeonato.

Em 1997, e já remodelado, o GP da Áustria regressava ao calendário da F1, onde se manteve ininterruptmanete até 2003, uma vez que a dimensão comercial do campeonato e a concorrência de outros circuitos excedia já as capacidades do GP da Áustria. Em 2004, e com o objectivo de figurar novamente na rota da F1, um projecto de reconstrução e ampliação das infra-estruturas foi iniciado, mas viria a ser abortado já depois da demolição dos edifícios das boxes e de parte das bancadas, o que, mais do que impedir que a F1 regressase, tornou impossível a realização de qualquer prova de qualquer categoria em Spielberg.

Após anos de conversações, avanços e recuos, e planos nunca concretizados (Alex Wurz, ex-piloto austríaco, foi um dos nomes que afirmou desejar comprar e reabilitar o traçado, sem sucesso), foi a Red Bull, em 2008, quem reinvestiu na famosa pista e retomou a construção das suas infra-estruturas.

O renascer de um traçado: Red Bull Ring

Depois de em 2004-2005 Dietrich Mateschitz, co-fundador da Red Bull, ter afirmado que não desejava investir num circuito que dava prejuízo, a marca austríaca acabaria por mudar de ideias e investir 70 milhões no traçado, no final de 2008, dotando-o novamente de grandes conjuntos de bancadas e de um espaçoso paddock, com 32 boxes de 120m2 cada.

Como prova do bom trabalho da Red Bull em Spielberg, em 2010 os responsáveis pelo campeonato de DTM confirmaram que regressariam ao circuito em 2011, tal como aconteceu com a Fórmula 2. Depois da sua re-inauguração em 2011, a Red Bull envidou esforços, desdobrando-se em contactos com a FIA, no sentido de fazer o mítico traçado regressar ao calendário da F1, algo que foi confirmado em Dezembro de 2013, aquando da apresentação da temporada 2014.

Perfil do traçado do Red Bull Ring

Sendo um dos circuitos com menor número de curvas (tem 9, das quais 7 são à direita) e apenas 4,326km de extensão, o Red Bull Ring é o terceiro traçado mais curto do calendário, e aquele onde se esperam os tempos por volta mais baixos da temporada.

É, apesar de tudo isto, um circuito muito desafiante, destacando-se desde logo pelo desnível, que é de 60m entre o ponto mais alto e o mais baixo, com as subidas e descidas a adicionar emoção e a exigir maiores competências dos pilotos no domínio dos seus monolugares.

Desde logo, a curva 1, uma estreita e pronunciada viragem à direita que poderá causar problemas na partida (local perigoso no passado e que foi até substituído por uma chicane a dada altura), e da qual é importante sair bem no acelerador, para enfrentar a longa recta que sobe até ao gancho Remus, que substituiu a antiga e fatal curva Tiroch. Este gancho exige uma redução forte, dos 300km/h para apenas 50km/h. A curva 3 é também famosa. Baptizada Schlossgold, é outro gancho à direita, no final de uma descida que alberga a primeira zona DRS, o que a torna em grande desafio para os pilotos e exige atenção aos tempos de travagem. Este gancho substituiu a célebre curva Bosch, igualmente palco de diversos acidentes, por vezes fatais.

Além da recta descendente entre as curvas 2 e 3, a segunda zona de DRS situa-se na recta da meta. Entre elas fica, porém, uma exigente passagem entre os sectores dois e três, em torno da impressionante estátua de mil toneladas representando o toro vermelho dos novos proprietários. Numa secção descendente, com curvas e contra-curvas e sucessivas distâncias de travagem de menos de 50m entre as quais os monolugares podem atingir os 200km/h.

Nesta parte do traçado situa-se também a curva Würth, tornada polémica no início da temporada ao saber-se que a Red Bull decidira vender o nome da curva à marca germânica de ferramentas, apagando do traçado a homenagem a uma das lendas da F1, Niki Lauda, hoje nos quadros da rival Mercedes.

Para apresentar o traçado e explicar uma volta em Spielberg, o melhor será talvez recorrer à equipa da casa, a Red Bull, que neste vídeo nos leva à Áustria à boleia com Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo:

O GP da Áustria regressa já este fim-de-semana, 11 anos depois dos monolugares da categoria-rainha do desporto automóvel terem rugido pela última vez nas montanhas de Spielberg. Hoje, sexta-feira, têm os lugares as primeiras duas sessões de treinos livres.

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