Favorito mas pressionado, superior mas condicionado: assim está Portugal. A selecção das quinas enfrenta esta noite (23 horas) os Estados Unidos da América, numa partida onde os lusos tudo podem ter a perder, ao contrário da armada norte-americana, que tem três pontos (fruto da vitória frente ao Gana) e mesmo perante um cenário de derrota não dirá ainda adeus à competição no Brasil. O mesmo não se aplicará a Portugal, já que em caso de derrota a selecção portuguesa fará imediatamente as malas rumo a casa. A pressão estará, portanto, do lado do favorito, que além de abatido pela derrota pesada aplicada pelos germânicos, terá ainda de lidar com as lesões que apoquentam o grupo.

Pepe, falhará o jogo por castigo, enquanto que Fábio Coentrão (já afastado da competição definitivamente), Rui Patrício, Hugo Almeida e Bruno Alves (este ainda em dúvida) padecem de maleitas físicas. O lateral do Real Madrid abandonou o Brasil ainda no decorrer da semana passada, já os restantes lesionados têm executado planos de recuperação: Patrício e Almeida foram dados como inaptos, tanto para a partida desta noite como para o terceiro jogo diante do Gana. A acrescentar às certezas, uma dúvida permanece: estará Cristiano Ronaldo realmente a 100% em termos físicos? O capitão do batalhão português passou ao lado do jogo contra a Alemanha e poderá esta noite dar uma resposta cabal quanto às suas capacidades actuais - assim esperarão os adeptos lusitanos.

Estados Unidos motivados nada têm a perder

A selecção dirigida por Jurgen Klinsmann já angariou três preciosos pontos e agora depara-se com a possibilidade de garantir o apuramento para os oitavos-de-final. Apesar de não gozarem do estatuto de favorito, os EUA chegam a Manaus prontos para surpreender sem nada terem a perder: é o adversário que tudo poderá deixar escapar, caso não consiga os três pontos, ou, pelo menos, um mero empate. Alegres pelo triunfo diante do Gana, os norte-americanos arregaçam hoje as mangas dando o queixo voluntarioso aos punhos lusitanos, os mais susceptíveis de nocautear o «Uncle Sam». Perder com Portugal estará longe de significar um embaraço - o mesmo não se poderá dizer da armada de Cristiano Ronaldo, Moutinho, Meireles, Nani e companhia.

O que favorece a posição dos EUA é precisamente a folga pontual de que dispõem. O plano estratégico de Klinsmann poderá até contemplar o risco táctico de jogar o jogo pelo jogo, na tentativa de surpreender e pressionar a selecção portuguesa, que espera um concorrente mais fechado e passivo. Em oposição, Bento e os seus pupilos trazem a bagagem vazia, sem pontos nem glória, pelo menos ainda. Qualquer erro luso pesará toneladas nas costas dos jogadores - pelo prisma estadunidense, uma derrota não será o fim, e o conjunto dos «The Stars and The Stripes» terá bem presente na mente que tal resultado não será mais que uma factualidade lógica.

Portugal remenda defesa, EUA substitui lesionado Altidore

Paulo Bento fará alinhar um quinteto defensivo constituído por Beto (ou Eduardo, subsiste a dúvida), André Almeida na esquerda, João Pereira na direita, Ricardo Costa e Neto no centro, caso Bruno Alves não recupere. Se o central que joga no futebol turco recuperar, o defesa do Zenit não será titular. No meio-campo, William Carvalho terá de continuar à espera de oportunidade, já que Bento deverá voltar a formar um triângulo com Meireles, Veloso e Moutinho. Apesar da vontade dos portugueses verem o jovem sportinguistas no lugar mais recuado do meio-campo, o seleccionador optará pela utilização do trio que tem sido totalista nos jogos anteriores. Se nas alas não ocorrerão mudanças, no ataque o nome será outro: Hélder Postiga ocupará a vaga de Almeida, Éder ficará no banco.

Na formação norte-americana, Jozy Altidore é baixa de peso. O avançado que actua na Premier League lesionou-se na partida contra o Gana e vai ficar fora do leque de opções para o jogo desta noite. Aaron Johansonn, que joga na liga holandesa, será o escolhido para tapar o buraco deixado por Altidore.

EUA protegem-se no escudo do capitão Dempsey

Dempsey é figura de charneira na formação de Klinsmann, seleccionador que esteve debaixo de fogo por abdicar de Landon Donovan, melhor marcador da História da selecção. Com o veterano fora do Mundial, o colectivo norte-americano dos «Yanks» entrou a ganhar na prova e logo a abrir, com um golo pleno de técnica - Dempsey celebrou e comandou, daí em diante, a sua equipa para a frente. Dotado de uma visão de jogo altamente perspicaz, Dempsey fareja o golo com inteligência e vale-se da experiência para ultrapassar a pressão dos oponentes. O médio do Seattle Sounders, de 31 anos, conta com 106 internacionalizações, pode jogar colado a uma faixa (esquerda, preferencialmente) ou em modo 'vagabundo', nas esquinas da área, abrindo espaços para o remate.

A selecção estadunidense deverá manter-se fiel ao sistema de jogo apresentado na primeira ronda, algo diferente daquele que fora usado em várias jogos de apuramento: Beckerman será o médio defensivo, contando com o apoio de Jermaine Jones, Bedoya será o corredor do lado direito e no lado oposto Dempsey deverá ser o trunfo escolhido. Johanssonn terá o papel de marcar golos, Bradley a tarefa de executar passes longos para as entradas dos médios alas e até mesmo do próprio avançado. Atenção aos defesas centrais dos EUA: fortes, altos e possantes, serão perigos a ter em conta (e em marcação) nas bolas paradas. Cameron tem 1,91 metros de altura, Brooks 1,93 metros.

Portugal terá de sacudir obsessão pela procura de Ronaldo

Foi visível a clara obsessão dos jogadores portugueses na procura pelo capitão Ronaldo. Sempre atentos à sua posição, os elementos da selecção das quinas mostraram uma compulsão pelo passe dirigido ao melhor jogador do mundo. Não fosse essa tendência um exagero e não estariamos a falar de um sintoma de nervosismo colectivo e de alguma incapacidade de lidar com a pressão. A verdade é que a exibição portuguesa expôs essa tendência negativa, que tanto prejudicou a equipa como Cristiano Ronaldo em particular. Por vezes inseguros de si (talvez fruto da mediatização exarcebada do capitão), os jogadores lusos procuraram endossar a bola a Ronaldo em situações onde outras opções seriam muito mais acertadas.

Onzes prováveis