Se compararmos os estados de alma e os conteúdos das duas declarações de Cristiano Ronaldo, entre a antecâmara do início do Mundial e a actualidade, verificamos um desfasamento indisfarçável que choca de frente com a lógica - antes da partida com os germânicos, o capitão da selecção nacional antevia a bonança, prevendo o «ano de Portugal», agora, ressalva as fraquezas do colectivo, ao qual cataloga de «equipa limitadíssima».
Numa primeira instância, Ronaldo denotava confiança no discurso, até mesmo no comportamento gestual e no próprio olhar. Agora resta uma face de desilusão, resignação e frustração. Na ressaca indigesta da derrota contra a Alemanha e do empate frente aos EUA, Cristano Ronaldo confessou nunca ter pensado que Portugal era favorito, afirmando que os sinais das dificuldades foram bem patentes, quer na qualificação, quer no play-off.
«A História vai começar a mudar amanhã»...ou nem por isso
As palavras foram do capitão, na antevisão da partida com a selecção germânica. Tranquilo, confiante e aparentemente ciente do valor da equipa, Ronaldo previa no dia 15 de Junho um futuro melhor para a formação lusitana. Tal predição esteve longe de ocorrer: Portugal foi esmurrado pela Alemanha (4-0) e as críticas, ainda tímidas, cresceram de tom depois do empate contra os norte-americanos (2-2).
«Ano de Portugal» afinal tornou-se na negação do favoritismo
Viragem brusca de opinião, só assim poderá a lógica explicar a mudança radical no conteúdo do discurso do capitão das quinas. Em declarações conformadas, Ronaldo descreveu Portugal como uma «equipa média» e mitigou a euforia portuguesa, afirmando existirem «melhores selecções». Apesar disso, tal orientação de raciocínio, que muitos consideram de «humilde», nunca fora sequer aflorada...antes do descalabro acontecer - muito pelo contrário.
Discurso de Ronaldo censurado por Manuel José
O experiente treinador Manuel José foi peremptório nas críticas ao discurso de Cristiano Ronaldo. Na RTP, o prestigiado treinador atacou a flutuação da opinião de Ronaldo, afirmando que foi o próprio a criar expectativas elevadas em torno da prestação lusa na prova. Além do mais, sublinhou a «secundarização» de todo o restante plantel da selecção, ofuscado pelo mediatismo crónico do astro do Real Madrid.
«Agora quando ele falar eu vou me interrogar quando é que ele estará a falar a verdade e quando não está», comentou. «Que necessidade tem ele de dizer que 'eu gostaria de estar a 110% mas estou a 100%...depois foi jogar e estava para aí a 15%...», atirou o antigo treinador do Al-Ahly, do Egipto.
No mesmo programa, «Mundial 2014», na RTP, o treinador da Académica, Paulo Sérgio, deixou reparos às palavras de Ronaldo e recentrou o foco da discussão: «Mas que diabo...não estamos a falar de sermos campeões do mundo, estamos a falar de ganhar aos EUA», afirmou, caracterizando a posição de Ronaldo como destempada.