Portugal está definitivamente fora do Mundial 2014, a comitiva lusa está de malas aviadas do Brasil, regressando a casa com 4 pontos numa bagagem plena de más memórias. A selecção nacional venceu esta tarde o Gana por 2-1 no estádio Nacional, em Brasília, mas faltaram mais golos para apurar a turma de Paulo Bento. O apuramento para os oitavos-de-final ficou a três golos de distância; Alemanha e EUA, os carrascos de Portugal, avançam ambos para a fase seguinte.

Apesar da maior dinâmica apresentada dentro das quatro linhas, Portugal não conseguiu ser táctica e tecnicamente assertivo o suficiente para superar avassaladoramente uma selecção ganesa débil defensivamente. Apesar das prendas oferecidas pelo quinteto ganês, Portugal ficou aquém do brilho que se exigia. Perdulário no ataque e sem fulgor manipulativo no meio-campo, Portugal disfarçou as suas insuficiências tácticas e físicas aproveitando a clara ineficiência defensiva dos ganeses.

Amorim e William deram ímpeto central

Paulo Bento colocou, finalmente, William Carvalho no vértice recuado do meio-campo, puxando Veloso para a lateral esquerda da linha defensiva e posicionando Amorim ao lado do organizador Moutinho. Neste figurino sem Meireles e Veloso no miolo, Portugal logrou ostentar uma capacidade de pressão maior - apesar dessa disponibilidade, o índice de movimentos de pressão baixou drasticamente a meio da primeira parte. 

Jogo exterior não foi eficaz

Sabendo de antemão da necessidade de exteriorizar o jogo devido à forma unida como o Gana preenche o interior da sua estrutura táctica, Bento manteve os extremos Nani e Cristiano Ronaldo, esperando basculações que permitissem arredar e abanar o bloco ganês, para, num segundo momento, disparar movimentações interiores perto da área adversária. Nani, apagado, não conseguiu desequilibrar, Ronaldo, vários furos abaixo da sua habitual forma, foi o elemento mais perdulário em campo.

Atabalhoamento defensivo do Gana jogou a favor de Portugal

O primeiro golo da partida foi, à semelhança do contra os EUA, uma oferenda dos deuses: cruzamento de Veloso e corte defeituoso de Boye, auto-golo da esperança aos 31 minutos de jogo. Por entre ansiedades, remates falhados e chances perdidas, o segundo golo lusitano apenas chegou aos 80 minutos: corte novamente deficiente da defensiva africana, completado com uma sapatada falhada do guardião Dauda, que colocou a bola nos pés de Ronaldo. O capitão marcou o seu único golo do Mundial.

Ansiedade e ineficácia

O caudal ofensivo de Portugal foi suficiente para marcar mais golos mas a direcção dos disparos lusos não foi a mais certeira. Que o diga Ronaldo. Logo aos 6 minutos o capitão avisou Dauda com um remate no qual tentou surpreender o guarda-redes ganês - a bola beijou a barra e os primeiros suspiros ouviram-se nas bancadas. Aos 19 minutos surgiu o primeiro falhanço português: a um centro meticuloso, Ronaldo respondeu com uma cabeçada à figura de Dauta, que mostou reflexos apurados.

Amorim, aos 34 minutos, voltou a ameaçar as redes ganesas, Dauta viu a bola passar ao lado do poste. Dois minutos antes já Ronaldo tentara a sorte mas o guardião ganês respondeu à altura do desafio. Aos 83 minutos, nova falha do capitão, Dauda de novo na mó de cima, afastando a bola para canto. Seguiram-se mais duas ocasiões de golo eminente (aos 91 e 92) mas Ronaldo apenas levaria um golo de Brasília.

Jogo aéreo português comprometeu novamente

O quarteto defensivo luso voltou a não mostrar solidez e coordenação na altura de defender cruzamentos feitos pelo ar. Quer Pepe quer Bruno Alves voltaram a mostrar uma latente incapacidade de executar marcações correctas no jogo aéreo, libertando os opositores em plena área. O golo ganês surge de um cruzamento que apanha Gyan totalmente isolado: só Veloso estava nas imediações mas, no entanto, completamente fora da jogada.

Na jogada em foco, tudo começa com um grave desequilibrio de João Pereira, que descompensa a equipa depois de uma subida falhada pelo flanco direito. Fora da jogada, deixou o corredor destapado, obrigando a uma cobertura (falhada) de Amorim e Carvalho. Pepe foi obrigado a fechar o flanco e Veloso foi lento a acompanhar Gyan: golo do empate aos 57 minutos.

Aos 61 minutos, nova investida lateral da selecção do Gana, novo cruzamento, novo desposicionamento do quarteto defensivo, com Waris a cabecear totalmente à vontade, sem marcação alguma, quer de Pepe quer de Bruno Alves. O jogador ganês nem precisou de saltar, valeu a Portugal o falhanço do jogador ganês. A debilidade das zonas laterais da defesa lusa foi visível durante a partida, faltou também à zona média maior coordenação nas acções de cobertura.

Alemanha e EUA foram os carrascos de Portugal

Obtida a vitória no último jogo do grupo G, os três pontos ganhos foram insuficientes para a dura matemática que os portugueses tinham pela frente. O adeus lusitano começou na goleada sofrida diante dos alemães e terminou no desastroso empate contra os EUA: esta tarde, frente ao Gana, apenas circustâncias especiais poderiam jogar a favor de Portugal. A simples vitória nunca seria bastante.

Portugal, no fundo, foi presa da sua própria inabilidade durante os primeiros dois jogos. Fracos fisicamente, desconcentrados (expulsão de Pepe espelhou isso) e desgarrados, os elementos portugueses carimbaram o precoce regresso nessas duas jornadas, incapazes que foram de largar a calculadora e a fé no alheio. A Alemanha acabou por bater os norte-americanos, apurando-se em primeiro lugar do grupo, seguidos dos EUA, sem segundo. Portugal diz adeus ao Mundial e apenas pode culpar-se a si mesmo.

«Tivemos o que merecemos» disse Bento

«O balanço é negativo, porque não conseguimos alcançar o primeiro objectivo que tínhamos. Pelo que foram estes três jogos penso que tivemos o que merecemos. Quem passou, mereceu passar», declarou Paulo Bento no rescaldo da partida desta tarde. 

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