Mais uma equipa europeia que sucumbe ante o futebol sul-americano. O desfecho bem que poderia ter sido outro, com base na exibição aguerrida de uma Suiça que extrapolou as fronteiras do seu futebol e tentou, com todos os recursos, impedir a organização do ataque argentino. Conseguiu montar a barreira defensiva capaz de travar a criatividade de Lionel Messi ou Angel Di María, mas foi mais além. Criou oportunidades de golo e tornou este jogo dos oitavos-de-final como um dos mais equilibrados tacticamente. No final, cada uma das selecções mostrou o que tem de melhor. A força e liberdade do ataque argentino contra a coesão colectiva suíça. Di María foi o vector de desequilíbrio, a fazer cumprir o critério do favoritismo.

Brigada vermelha protege-se dos inspirados

O pontapé de saída dado pela Argentina foi como que uma cordialidade, a fazer mostrar quem deveria sair no ataque e procurar o golo. Como reflexo, os comandados de Alejandro Sabella, entre os quais não constava Aguero, entraram no jogo de postura pressionante, bem organizados tacticamente. E, paralelamente, conseguiram, durante os primeiros minutos, impor à Suíça a sua rendição do ataque, não permitindo que subissem no terreno. Porém, se a defesa helvética era a protagonista, revelou um trabalho exemplar, ao impedir que Di María percorresse o corredor que havia sido estudado como caminho para o ataque argentino.

Depois, e de forma consequente, também Messi se via impedido de ganhar bolas em frente à baliza, acabando por demonstrar, durante toda a partida, mais uma capacidade criativa na construção de jogadas, do que o simples posicionamento para esperar o centro ou o passe acertados.

Até ao relógio contar os 26 minutos de jogo, marcados pela primeira grande oportunidade de golo protagonizada pela Suiça, o encontro prosseguia numa sucessão de tentativas de cruzamentos falhados. Ora Messi centrava e Di María não chegava; ora Di María conseguia o cruzamento mas não encontrava Messi.

Como Di María contornou as regras da defesa helvética

Muita da ineficácia do ataque argentino, quando estava em posição dominante e de recursos frescos no início de jogo, se deve a uma tentativa inteligente de Hitzfeld para travar Di María, antevendo que seria por ele que passaria o ataque mais rápido e desconcertante para a sua formação. O seleccionador helvético compôs um trio defensivo a reprimir o argentino, de forma que nas suas primeiras incursões pelo corredor esquerdo, Di María encontrava um verdadeiro triangulo das bermudas.

Não resignado, o jogador decidiu baralhar o sistema imposto por Hitzfeld e começou a aparecer no centro e, tendencionalmente, no corredor contrário ao previsto inicialmente. Resultado: um ataque mais versátil e, sobretudo, eficaz da formação sul-americana. Com a transacção de Di María, que ficou mais solto, a Argentina começou a construir mais oportunidades.

Ainda assim, no final do primeiro tempo, as duas grandes oportunidades de golo tinham sido europeias, a contrariar a atitude mais pressionante argentina, que precisava de encontrar rapidez para furar a defesa oponente.

Segunda parte descai balança para o lado argentino

Embora sem nunca se deter numa posição de desvantagem, a Suiça permitiu à Argentina que tivesse um papel ascendente no segundo tempo de jogo. Criaram-se mais e sólidas oportunidades, sendo que o facto de Messi ter de vir buscar o jogo em posição mais recuada no terreno, deixou de ser uma desvantagem e passou a ser revelador de inspiração criativa. Foi, de facto, a Suiça que o permitiu, ao tornar o seu sector defensivo menos fechado. A barreira dilatou-se e a procura do golo europeu permitiu o avanço da albiceleste. Benaglio impediu por três vezes o golo, em remates de Rojo, Higuaín e Messi.

Quando aos 66’, Messi saca um tiro por cima da baliza adversária, as estatísticas de jogo revelavam a disparidade na posse de bola, que se começava a denotar no terreno: 62% para 38% dos helvéticos e um total de 325 passes concretizados em pés argentinos, contra apenas 166 em chuteiras europeias.

Nota para a falta de Rojo sobre Rodriguez ao cair dos 90’, que lhe valeu o cartão amarelo que o impedirá de disputar os quartos-de-final.

Carrascos Messi e Di María roubam a lotaria das penalidades

Depois de jogados 118 minutos de jogo, e praticamente esgotado o tempo de prolongamento, que deixava jogadores e adeptos a rezar pela sorte na decisão das grande penalidades, Di María decidiu jogar pelo seguro e facturou o ansiado golo argentino aos 118 minutos. Jogada inspirada nos pés de Messi (que garantiu o prémio de Homem do Jogo), com cruzamento certeiro. Uma dedicatória dos dois melhores representantes da magia argentina durante a partida, que fazem prosseguir o sonho pela conquista do 3º Campeonato do Mundo.

Louvor também para a Suiça, que três minutos depois de sofrer o decisivo golo, ainda procurou o empate que adiaria a decisão. Dzemaili atirou de cabeça à trave e transpôs a derrota para critérios de sorte e azar. Últimos destaques de mérito para o lateral-esquerdo de 21 anos, Rodriguez, em exibição cheia e consistente a travar Messi, e para Shaqiri, que surgiu em todos os espaços, na procura da passagem suíça à próxima fase.

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