Em 1984, a cidade de Dallas estava nas bocas do mundo, devido a uma novela («soap opera») com o mesmo nome, onde as aventuras da familia Ewing prendiam milhões de espectadores um pouco por todo o planeta.

Ao mesmo tempo, a Formula 1, através do seu maior representante, Bernie Ecclestone, procurava implementar a competição no continente americano, tentando conseguir o grosso dos seus rendimentos a partir dali. Desde meados dos anos 70 que o calendário da Formula 1 teve sempre mais de uma corrida em solo americano, primeiro em Long Beach, depois, em 1981, na cidade de Las Vegas, e, no ano seguinte, Detroit, considerada a «capital do automóvel». Nesse ano, o calendário tinha três corridas em solo americano, em 16 totais.

Em 1983, Ecclestone viu a oportunidade de ter a competição a passar pela Times Square de Nova Iorque, e consaeguiu um acordo nesse sentido com as autoridades locais. Contudo, a meio desse ano, dificuldades em cumprir o contrato fizeram com que este fosse cancelado e se arranjasse um rapido substituto, que apareceu na forma do GP da Europa, que nesse ano foi co circuito britânico de Brands Hatch.Contudo, Ecclestone ainda pensava na América, e não perdia qualquer oportunidade de negócio. Em 1984, as corridas americanas tinham sido reduzidas para dois, pois Long Beach tinha-se decidido nesse ano pela IndyCar.

Assim sendo, surgiu a oportunidade de correr no Texas, mais concretamente nas ruas à volta de Fair Park, na cidade de Dallas. O negócio foi rapidamente assinado e a corrida colocada no calendário para o fim de semana de 7 e 8 de Julho desse ano.

Um asfalto sem condições

A corrida de Dallas iria acontecer duas semanas depois da outra corrida americana, em Detroit. Contudo, o forte verão texano era algo que a Formula 1 desconhecia e iriam saber da pior maneira possivel, na pior altura possivel: em pleno fim de semana da corrida.

Por essa altura, a Formula 1 dava às equipas um dia extra de aclimatamento a cada nova pista que eles corressem. Os pilotos elogiaram a pista, apesar de afirmarem que as chicanes poderiam ser mais estreitas. Contudo, na sexta-feira, altura da primeira sessão de trreinos, todos verificaram que o asfalto tinha dificuldades em se aguentar com os mais de 35ºC de superficie do ar e os mais de 60ºC na superficie. Com o passar das horas e a realização de corridas de suporte, o asfalto começou a desfazer-se de forma ameaçadora.

Apesar dos trabalhadores do circuito terem tentado fazer reparações no asfalto, colocando cimento nas partes criticas, as coisas no sábado tenderam a piorar, pois a temperatura se mantinha bem alta. No final dessa sessão, a Lotus monopolizava a primeira fila da grelha, com Nigel Mansell a ser o melhor (seria a sua primeira pole-position da sua carreira) sobre o seu companheiro de equipa, o italiano Elio de Angelis.

Na segunda fila estavam o Renault de Derek Warwick, ao lado do Ferrari de René Arnoux, enquanto que na terceira estavam o McLaren de Niki Lauda e o Toleman-Hart do «rookie» brasileiro Ayrton Senna. Alain Prost era o sétimo a partir, na frente do Williams-Honda de Keke Rosberg, enquanto que a fechar o "top ten" estavam o segundo Ferrari de Michele Alboreto e o segundo Renault de Patrick Tambay.

Mas no final dos treinos, a conversa do momento era saber se haveria corrida. Os rumores de cancelamento eram grandes, e sobre isso, Nelson Piquet chegou a declarar se haveria pilotos a chegar ao fim da corrida, pois duvidava que os carros e o asfalto aguentasse neste calor escaldante.

De pijama para o Grande Prémio

Para poupar o asfalto, a organização decidiu que corrida seria antecipada para as 11 da manhã locais, com a intenção de fugir ao calor, e assim sendo, o "warm-up" fora antecipado para as 7 da manhã! Isso significaria que os pilotos tinham que estar no circuito a partir das 5:45 da manhã. Ora, para pilotos como o francês Jacques Laffite, isso foi demais. Decidiu mostrar o seu protesto, chegando ao circuito... de pijama! Mais tarde, a organização decidiu cancelar o «warm up» para poupar o asfalto, que tinha sido retocado mais uma vez nessa noite.

Alguns pilotos, encabeçados pelo pilotos da McLaren Niki Lauda e Alain Prost, chegaram até a esboçar um boicote à corrida. Mas outros, como Keke Rosberg, argumentaram que isso não valia a pena. O finlandês argumentou então: «Todos nós nos queixamos das condições, mas no momento da partida, iremos para os nossos carros e correr. Com ou sem asfalto, iremos correr».

O piloto finlandês tinha razão: estavam 90 mil fãs no circuito (um deles o ex-presidente Jimmy Carter) e outros milhões no resto do mundo estavam à espera naquele momento de uma corrida, e nunca iriam perceber as razões de um cancelamento tão em cima da hora. E lá foram.

A vitória do mais resistente

A corrida começou com Larry Hagman (o J.R de Dallas) a dar a partida, e imediatamente, Mansell mantém a liderança, seguido por De Angelis e Warwick, enquanto que Arnoux ficava parado na grelha, sendo obrigado a largar das boxes. O britânico da Renault começou a pressionar o seu compatriota da Lotus, depois de passar De Angelis, que tinha problemas de motor. Contudo, na 11ª volta, ele tenta passá-lo, mas a tentativa de ultrapassagem acaba com um pião, abandonando na hora.

Assim, De Angelis herdou o segundo posto, e com ele rodavam o McLaren de Lauda, o Williams-Honda de Rosberg e o outro McLaren de Prost. Todos eles estavam em cima de Mansell, que fazia de tudo para manter a liderança. Pouco depois, na volta 14, Rosberg passou Lauda e quatro voltas mais tarde, foi a vez de passar De Angelis, ficando com o segundo posto. A seguir, passou ao ataque à liderança de Mansell, e compensou, passando ao comando depois do britânico ter cometido um erro.

Pouco depois, Mansell viu que não tinha pneus da frente e decidiu mudá-los na volta 38, regressando à pista atrás de Arnoux (que já era sexto, depois de uma grande recuperação) e Piquet. Na volta 45, aproveitou a desistência de Piquet para chegar-se mais à frente.

Entretanto, Prost - que era segundo depois de passar De Angelis e o seu companheiro Lauda - estava a pressionar Rosberg e ficar com a liderança na volta 49. Mas foi de pouca dura: na volta 57, bateu no muro e a sua corrida terminou ali, entregando a liderança ao finlandês da Williams.

Pouco depois, na volta 60, Lauda também abandona e o segundo lugar ficou nas mãos de Arnoux, mas muito longe de Rosberg para poder ameaçar a liderança. E foi assim que as coisas sucederam até à bandeira de xadrez, uma volta antes do previsto devido ao limite das duas horas. A vitória de Rosberg era a primeira em mais de um ano e a primeira da combinação Williams-Honda, com Arnoux em segundo e o Lotus-Renault de Elio de Angelis no terceiro posto.

Mas nos metros finais, mais drama: Mansell, que andava no quinto posto, bateu no muro na última curva. Apesar de ser ilegal, o "brutânico" saiu do carro e decidiu empurrá-lo, sob um sol escaldante! Só que o cansaço acumulado e o calor fez com que Mansell acabasse desmaiado ao lado do seu carro, enquanto que a multidão aplaudia aquele gesto de coragem...