No reinado de Pinto da Costa, o FC Porto habituou os seus adeptos a ser ágil e astuto no mercado de transferências. As políticas e apostas, normalmente, são certeiras e reflectem o estatuto actual do clube.

Por exemplo, raramente os azuis e brancos apostam em treinadores estrangeiros. Por norma apostam em jovens nacionais em ascensão ou comandantes menos dispendiosos, principalmente quando estão em maré de vitórias. A fase menos positiva leva à busca por nomes mais consagrados e foi a quase derrota do título de 2012/13 que fez com que Mano Menezes – acabado de abandonar a selecção brasileira – tivesse firmado um pré-acordo para ser o sucessor de Vítor Pereira. Kelvin mudou até o destino do conterrâneo brasileiro – como Menezes assumiu publicamente – e o investimento de peso deu lugar a Paulo Fonseca e a modestas compras internas.

Pinto da Costa e a sua trupe, quando sentem que a hegemonia pode ser quebrada investem a sério para voltar a reinar e essencialmente para evitar qualquer tipo de novo domínio no futebol português.

De Mourinho a Paulo Fonseca...

No início dos anos 2000 foi assim que Mourinho aterrou nas Antas varrendo todos os bons valores da liga nacional e ganhando a corrida aos rivais por estrangeiros valiosos como McCarthy, Jankauskas e Carlos Alberto.

O primeiro título de Jesus à frente do Benfica era o momento ideal para os encarnados definitivamente regressarem à liderança do futebol nacional. O que se viu depois foi um filme repetido.

Quaresma regressou ao Porto em Janeiro 2014 (in Sapo Desporto).

Mesmo afastado da Liga dos Campeões o FC Porto de André Villas-Boas investiu fundos e mundos, formou um super plantel e conquistou Campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa. Mais de 30 milhões gastos em Otamendi, João Moutinho, James, Walter e Souza que surpreenderam o país - pela ausência da liga milionária - mas que encerraram a reação benfiquista, já que nem na época de vacas magras de Vítor Pereira os encarnados obtiveram sucesso.

Na última temporada confiando no sucesso dos investimentos cirúrgicos – mas dispendiosos – e no mercado interno, o Porto de Paulo Fonseca repetiu os erros que obrigaram Vítor Pereira a reciclar veteranos como Lucho Gonzalez, Izmailov e Liedson. A equipa iniciou a época desperdiçando o talento de Kelvin e Iturbe, ignorando a ausência de alternativas aos laterais e em janeiro foi obrigada a resgatar um esquecido Quaresma.

... e à Era Lopetegui

Este ano a banda – leia-se direcção – é a mesma mas a música é outra. Os dragões estão rápidos, vivos no mercado e a compor um plantel desportivamente incrível. Em termos financeiros os negócios portistas estão longe de ser positivos mas a é inegável a qualidade dos elementos que chegam. Apostas para compor plantel como Ricardo, Evandro, Opare e Sami dão qualidade a baixo custo a um banco de suplentes que na temporada passada penou com apostas furadas como Licá e Josué.

Pinto da Costa não quer perder o comboio da frente para o campeão Benfica e o renascido Sporting e decidiu investir todas as fichas em nomes de qualidade mesmo sem a certeza de garantir os milhões da Champions.

Não se discute a enorme mais-valia de Oliver, Casemiro, Tello, e Adrian mas a forma como estas contratações se processaram denota uma fragilidade financeira e alguma inabilidade negocial, nada usual no emblema azul e branco.

Oliver ao chegar sem opção de compra pode brilhar intensamente e no final da época regressar a Madrid sem qualquer retorno financeiro para o FC Porto que é obrigado a regressar ao mercado. Casemiro e Tello apesar de terem opção de compra são empréstimos muito dispendiosos que podem não dar em nada caso os clubes de origem decidam resgatá-los para integrá-los nos quadros ou vendê-los a terceiros de forma muito lucrativa. O caso do jovem espanhol que aufere cerca de 3 milhões de euros por época, é particularmente descabido do ponto de vista financeiro. Pelas duas épocas de cedência, os azuis pagam 4 milhões de euros e ficam com uma cláusula de opção de 8 milhões de euros. Até aqui tudo normal, não fosse o facto do Barcelona poder resgatar o jogador sem pagar nada ao Porto anulando ainda a clausula de opção portista. Ou seja o clube de Pinto da Costa está a valorizar jogadores dos quais pode ter retorno financeiro zero.

O negócio Adrian tem questões muito discutíveis. Os azuis e brancos pagaram 11 milhões de euros por apenas 60% do passe do atleta, segundo esta avaliação o internacional espanhol vale neste momento 20 milhões de euros, o que convenhamos não corresponde à realidade. Com este custo elevado e prestes a fazer 27 anos, será muito complicado ao FC Porto rentabilizar esta contratação.

A chegada do internacional holandês Bruno Martins Indi foge a esta lógica e é um negócio que do ponto de vista desportivo e financeiro tem tudo para dar certo. O FC Porto gastou 7,7 milhões por todo o passe do defesa central e sendo ainda um jovem valor, tem condições para oferecer mais-valias aos cofres azuis.

Para além destas contratações falta confirmar a chegada do argelino Brahimi – num negócio de aproximadamente 8,5 milhões de euros - e possivelmente do defesa espanhol Ivan Marcano.

Com opções como Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Oliver, Adrian, Tello e Jackson com Brahimi e Quintero à espreita o Porto apresenta um plantel fortíssimo e com as opções que faltaram aos últimos plantéis. Será interessante perceber o papel de elementos até aqui indiscutíveis como Quaresma ou Varela.

Em resumo, de forma rápida e com diversos jogadores muito acima da média, o FC Porto praticamente fechou o plantel dando tempo a Lopetegui de incutir as suas ideias num grupo versátil e talentoso. Se financeiramente os negócios são demasiado discutíveis – até pela incerteza quanto à presença na Liga dos Campeões – desportivamente os azuis e brancos, em termos de reforços, estão vários passos à frente dos rivais de Lisboa.

Veremos como será a nova época azul e branca, mas uma coisa é indesmentível: em mais um momento de possível ascensão de um rival, o FC Porto – como manda a sua tradição - investiu pesado para regressar ao topo do futebol português.