A McLaren está na F1 desde 1966. Desde esse ano para cá a equipa passou por muitas fases brilhantes e por outras menos dignas de registo. São no total 8 campeonatos de constructores conquistados e 12 de pilotos. A McLaren é sem dúvida uma das grandes equipas do paddock e o seu poderio tecnológico e financeiro é inquestionável. A marca estabeleceu-se agora no mercado de carros de estrada com grande sucesso. Mas desde o inicio do novo milénio as coisas não têm corrido de feição para a equipa sediada em Woking. Em 14 anos apenas um titulo de pilotos conquistados o que é manifestamente pouco. Mas a equipa sempre habituou os fãs a presenças assíduas no pódio e a uma competitividade respeitável. Serve esta introdução para relembrar que estamos a falar de um grande do paddock da F1 e que de uma equipa com este historial e estatuto espera-se sempre muito.

2013: o princípio do descalabro

O ano de 2013 foi um dos pontos mais baixos para a McLaren. Um ano francamente abaixo das expectativas, depois de um 2012 prometedor e que apenas não resultou em títulos devido à falta de fiabilidade do motor Mercedes.

Em 2013 tudo correu mal. Um carro novo, feito de raiz, um novo conceito que não resultou. Uma dupla de pilotos muito interessante mas que não funcionou em harmonia. Um carro pouco competitivo que apenas deu um 5º lugar nos construtores, o que não é aceitável, mais ainda quando a Lotus com um orçamento claramente inferior ficou em 4º.

2013 marcou também o final da parceria com a Vodafone e o anúncio da entrada da Honda como nova fornecedora de motores. Muitas novidades a juntar à maior delas todas… o regresso do patrão. Ron Dennis deu por terminado o trabalho nos carros de estrada e considerou que a marca tem agora os alicerces necessários para prosperar e fornecer mais apoio à parte desportiva (um pouco à imagem da Ferrari). Um grupo com a McLaren quer-se sólido e agora está mais que establecido no seu novo mercado.

2014 seria portanto um ano de muitas mudanças, que forçosamente iriam afectar o rendimento da equipa. Com a preparação para a entrada da Honda, com o ingresso de novos homens fortes na estrutura, tais como Eric Boullier para novo director desportivo, ou Peter Podromou como novo chefe da aerodinâmica, além de mais nomes com muita qualidade para reforçar áreas enfraquecidas como a aerodinâmica, a equipa deu um salto qualitativo muito positivo. O trabalho de Ron Dennis está a ser feito de forma incisiva e nas áreas certas. Mas para tanta mudança há sempre um preço a pagar.

2014 é o ano da mudança lenta e penosa

A época começou de forma agradável. O carro parecia ter bom andamento na pré temporada, e vinha com inovações interessantes, tais como as barras de suspensão mais largas, que se passaram a chamar de suspensão “borboleta”, cujo objectivo era aumentar o apoio aerodinâmico na traseira do carro. A primeira corrida foi muito boa, com Magnussen a subir ao pódio logo na estreia e Button num 4º lugar que se tornaria 3º, devido a irregularidades no carro de Ricciardo.

Mas com o andar da carruagem foi-se percebendo que era sol de pouca dura. O carro tem fragilidades ao nível da aerodinâmica gritantes. Não consegue produzir apoio suficiente para garantir ao pilotos velocidade em curva, nem consegue ser rápido o suficiente em recta, não aproveitando o "super motor" da Mercedes. Ao nível da fiabilidade o MP4/29 não tem sido dos piores e talvez seja o único factor positivo a retirar deste ano, até agora. De resto o carro não apresenta capacidade para ombrear com Williams, Ferrari sendo dificil de lutar com os Red Bull. Chegar aos Mercedes é um sonho que ninguém se atreve a ter. Neste momento estão atrás da Force India o que é preocupante. Se 2013 foi mau 2014 está a ser pior.

Chegamos a esta fase do campeonato com a equipa em 6º lugar no campeonato de construtores, com os pilotos em 8º e 10º e com prestações francamente más. Ficar 1 corrida sem pontuar é algo rarríssimo na McLaren. Este ano ficaram 3 vezes seguidas fora dos pontos (Barhain, China e Espanha).

Os Pilotos: longe de serem o problema, mas sem conseguirem ser a solução

Jenson Button tem sido o melhor piloto como era de esperar. A experiência e a qualidade do britânico "safou" a McLaren de vergonhas no ano passado e este ano a fórmula mantém-se. Button não é o tipo de piloto de tirar um coelho da cartola mas é regular e muito inteligente. A sua performance foi questionada de forma injusta por Ron Dennis, que não lhe deu um carro digno desse nome. A isso Button respondeu com classe com uma excelente corrida em Silverstone. Mas comparando com outros anos, Button está de facto menos bem. O ano começou da pior forma com a morte do seu pai. O factor psicológico deve estar a pesar muito. A perda do seu maior apoio, a juntar à preocupação de tentar ser competitivo num carro fraco e no final do dia ter de ouvir constantemente boatos de possíveis nomes para o seu lugar, estará a fazer desta época uma das mais exigentes de sempre para JB. Não é de baixar os braços e com certeza irá à luta, mas sabe que o seu esforço será muito provavelmente inglório e que este deverá ser o último ano na McLaren. Injusto para um bom piloto que podia claramente ter dado um titulo à equipa em 2011, tivesse ele um carro fiável o suficiente para isso. Button é o último “gentleman racer” e merecia ter hipóteses de lutar de igual para igual pelo título, uma última vez. Não iria desiludir de certeza.

Kevin Magnussen está no seu ano de estreia a saborear o doce e o amargo da F1. Já sabe o que é estar num pódio, algo que fez questão de experimentar na primeira corrida. Desde então, o carro não tem permitido mais e o rookie tem estado mais discreto. Esperava-se muito de Magnussen e está claro que o seu talento vai dar muito que falar, mas este ano não estão reunidas as condições para se mostrar. A seu favor tem o facto de errar muito pouco, ser regular e mostrar uma velocidade apreciável para o carro que tem. Mas falta lhe ainda mostrar sangue na guelra, mais "rasgo" na hora de atacar e defender. “Kev Mag” está tímido neste primeiro ano. Mas tem o lugar assegurado na equipa e o futuro passa claramente por ele. Este é um bom ano para se ambientar e preparar-se para a próxima fase que se espera vitoriosa para ele e para a equipa. Mas é um início positivo para o jovem dinamarquês, embora não tão bom quanto se esperava.

O que esperar do resto da época?

O futuro passa agora por fazer o que se esperava desde o inicio. Experimentar, testar, organizar e preparar tudo para que 2015 possa marcar definitivamente o começo de uma nova era. A era do regresso de uma parceira que foi invencível e que marcou a F1 para sempre. A dupla McLaren Honda do final dos anos 80, agora reeditada, está a deixar muitos de água na boca. Mas ainda há muito trabalho pela frente. Muito para reorganizar na estrutura, muito para evoluir no carro, a nível aerodinâmico essencialmente. É preciso encontrar um patrocinador principal forte e é preciso escolher o Line Up para a próxima época. Muita coisa para fazer que deverá dificultar a subida de forma da McLaren. É provável que consigam melhorar mas os outros também o farão com certeza. Ultrapassar a Force India é fundamental e possível. Chegar aos Williams e Ferrari será o grande desafio.

Resumindo e concluindo

Avaliando esta primeira fase da época, a McLaren sai com nota negativa, mesmo tendo em conta as mudanças todas e as dificuldades que elas implicam. Quem tem o orçamento e a estrutura da McLaren não se pode dar ao luxo de desempenhos assim. Uma lição para reter no futuro. Ron Dennis está atento e deverá dar apenas o trabalho como concluído quando a equipa voltar a dominar a F1.

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