Após grande exibição frente ao Gil Vicente, com três assistências para golo, João Mário anda nas bocas dos sportinguistas nas conversas do clássico desta sexta-feira, frente ao FC Porto. A ascensão do médio ao onze titular de Marco Silva é de certa forma surpreendente mas não pode de maneira nenhuma ser catalogada de «meteórica»: até chegar à equipa principal do Sporting, o internacional sub-21 português teve de «penar» para merecer uma oportunidade. 

Marinar em Setúbal para ferver em Alvalade

Há várias épocas apontado como uma das maiores promessas leoninas, João Mário iniciou nos últimos dois/três anos um processo de desenvolvimento competitivo que lhe conferisse o nível de exigência necessário para chegar à equipa principal do Sporting

Num percurso nem sempre bem aceite pelos adeptos e pelos próprios jogadores, desejosos de saltar para outro patamar nas suas carreiras, João Mário passou as duas últimas temporadas ao serviço da equipa B dos leões e os últimos seis meses num empréstimo ao Vitória de Setúbal.

Seria depois a excelente resposta dada pelo jogador na experiência em Setúbal a convencer os responsáveis leoninos a incorporá-lo no plantel principal do Sporting, onde cedo se pensou que agarraria com facilidade um lugar no onze titular.

Mas a boa pré-temporada protagonizada por André Martins afastou-o das escolhas iniciais de Marco Silva e do trio do meio-campo verde e branco composto por William Carvalho, Adrien Silva e o número 28 dos leões. 

Apagamento de Martins entrega batuta ao «Maestro da Academia»

Com André Martins longe da forma exibida na pré-época, e os resultados periclitantes da equipa a preocupar, Marco Silva viu-se obrigado a promover alterações no seu onze base, no qual nunca mexeu nos primeiros jogos da temporada.

Após o empate chocante com o Maribor, na Liga dos Campeões, o técnico colocou João Mário na equipa inicial que se apresentou em Barcelos e que levou de vencida a formação do Gil Vicente (4-0). Depois de vários jogos em que inclusivamente foi relegado para a bancada pelo treinador do Sporting, João Mário respondeu com uma exibição convicente e assistências para três dos quatro golos marcados à equipa orientada por José Mota.

Finalmente, a tão ansiada batuta era então entregue ao médio leonino, naquela que era uma das maiores reinvindicações dos adeptos verde e brancos após o desaire na Eslovénia.

Entre a «posição 8» e a «10», que tipo de médio é João Mário?

Apesar da vocação de organizador de jogo, João Mário não é o típico «10» de que os sócios do Sporting podem eventualmente estar à espera. Aliás, as características do médio leonino, para quem não acompanhou a sua carreira em Alvalade, estão bem patentes no seu contributo às selecções de sub-20 e sub-21 onde tem sido protagonista como médio interior. 

E mesmo não sendo esse 10 puro, virado única e exclusivamente para o jogo ofensivo, João Mário também não pode ser visto marcadamente como um 8, apesar dos terrenos que pisa o direccionarem mais para esse perfil. Apesar da sua propensão natural para a distribuição de jogo, João Mário, pela sua qualidade técnico-táctica, é acima de tudo um centro-campista com uma presença muito mais efectiva no centro do terreno do que André Martins.

Não sendo um jogador de risco constante e confrontos permanentes com os defesas adversários, o número 17 dos leões tem uma capacidade de produção de jogo ofensivo incomparavelmente superior à de André Martins, como de resto ficou visível na partida de Barcelos. Com mais habilidade na manutenção da posse de bola, mais fluidez na sua condução e maior iniciativa na ligação com o sector atacante, João Mário constitui-se como um claro «upgrade» no conjunto de Marco Silva e um parceiro de outro quilate para Adrien Silva, até aqui esgotado na missão de equilíbrio que o défice provocado por André Martins gerava no meio-campo leonino.

A maior criatividade de João Mário pode por isso revelar-se decisiva no duelo desta sexta-feira com o FC Porto. Um combate entre trios de centro-campistas que exigirá ao irmão de Wilson Eduardo uma resposta igualmente positiva após a estreia a titular no campeonato, e frente à equipa que abandonou quando tinha 12 anos, precisamente para representar o clube do coração da sua mãe, o Sporting.