Parece estar longe do fim a árdua odisseia do Benfica na busca por estabilidade e qualidade nas suas redes. Oblak rumou a Madrid na pré-temporada e não mais o Benfica suspirou de alívio, deserta que ficava, na altura, a baliza encarnada, entregue a um fantasma já proscrito das graças dos adeptos benfiquistas: o fantasma chamava-se, como ainda se chama, Artur Moraes. Júlio César chegaria na recta final de Agosto, mas as dúvidas da Águia estavam longe de serem enterradas.

Comecemos pelo primeiro capítulo: Oblak sai do Benfica numa altura em que Artur Moraes já não constava como opção credível para reapoderar-se a tempo inteiro da guarda das redes vermelhas. O Benfica sondou intensamente o mercado e nomes como Sérgio Romero, Karnezis e Karius vieram à baila - o internacional argentino recusou o convite, assim como recusara Júlio César, abordado pela direcção benfiquista na ressaca do Mundial 2014.

A contratação do novo (e previsivelmente titular, diga-se) do Benfica tardou em concretizar-se, gerando intranquilidade nas hostes encarnadas e até no próprio Artur Moraes, guarda-redes a prazo com um prazo de validade definido - o brasileiro, que fizera um pré-temporada abaixo de forma, notabilizar-se-ia no arranque da época oficial com 4 grandes penalidades defendidas. Apesar do brio, os erros repetiram-se...até que o embaraço no eterno «derby» deu o golpe final na reputação de Artur.

Se Júlio César, contratado dias antes desse mesmo «derby», era já tido como o sucessor inquestionável da baliza das «Águias», mais reforçada ficou a sua premente presença entre os postes do Benfica. Mas o internacional «canarinho» tardou em mostrar-se apto para competir, passando mais tempo em recuperações físicas que apto para ajudar a sua nova formação. Júlio apenas viria a estrear-se no dia 21 de Setembro, diante do Moreirense, na Luz.

O jogo seguinte, contra o Estoril, voltou a não encontrar Júlio César na baliza, impedido que foi de jogar devido a nova lesão: Artur foi chamado de novo a defender as redes. No segundo jogo europeu da época, Júlio regressou, frente ao Bayer Leverkusen, mostrando fragilidades que em nada acalmaram as hostes encarnadas - o frango que esteve na origem do golo inaugural comprometeu os intentos do Benfica e certamente não será bom tónico motivacional para o próprio jogador, pressionado a ser o indiscutível guardião da Luz.

Hoje, dia de jogo contra o Arouca, para a sétima jornada da Liga, será novamente Artur Moraes a desempenhar as funções de guarda-redes, uma vez que Júlio César voltou a lesionar-se (lombalgia), adensando uma rotatividade forçada na baliza das «Águias» que em nada beneficiará a consolidação dos processos defensivos em termos de comunicação de área e entrosamento técnico e táctico entre linha defensiva e guarda-redes. 

Um mês e meio depois do arranque da temporada, o Benfica ainda não conseguiu resolver um dossier que foi aberto mal Oblak viajou para Madrid para realizar testes médicos e assinar contrato com o campeão espanhol Atlético Madrid. Entre indefinições de alvos, adiamentos negociais, lesões e alternâncias forçadas, a posição de guarda-redes é ainda um ponto de interrogação nas perspectivas dos adeptos encarnados e certamente do treinador: estará Júlio César fisicamente apto a competir com a regularidade que se exige a um guarda-redes? Estará, inclusive, nas melhores condições técnicas para ser o indiscutível guardião do Benfica?

E caso ambas as respostas sejam não: estará Artur Moraes à altura de lhe ser confiado o posto, quer técnica quer psicologicamente? Confiará ainda a equipa na sua capacidade de comando e na sua operacionalidade, à imagem de Oblak? Muitas perguntas, poucas certezas. Até que ponto poderá este caso, tardiamente resolvido pela direcção e gabinete técnico, influenciar a performance do Benfica? Poder-se-á dizer que já o fez: quer no «derby» quer no duelo de Leverkusen.

Ao Benfica restam agora duas opções: esperar pela total recuperação física de Júlio César e sua consequente afirmação na baliza, ou, caso tal não se verifique...confiar em Artur Moraes para desempenhar uma função que na pré-temporada ninguém previa que fosse parar às suas...mãos.