Tem sido uma sina que se repete até à exaustão: erros próprios, erros graves, de palmatória, muitas vezes nem sequer forçados. Este novo Porto de Julen Lopetegui não tem tido um começo feliz, pelo menos se fizermos uma análise qualitativa à consistência da equipa e à sua propensão fatal para errar onde menos o deve fazer - na zona defensiva.

O jogo da Taça de Portugal, frente ao rival Sporting, voltou a transparecer um FC Porto desconcentrado, hesitante, desligado de si mesmo e das incidências da partida - não nascesse o primeiro golo leonino de um auto-golo do central espanhol Marcano e o segundo de um infantil erro de Maicon, que repartiu com o compatriota Casemiro as responsabilidades de um tento tremendamente...oferecido - Nani, com classe e distinção, encarregou-se de punir o Dragão irresponsável.

Uma razão em forma de triângulo inoperante

Os erros defensivos do FC Porto não se resumem a essa catalogação simplista: eles são, naturalmente, erros derivados de outros problemas estruturais que grassam pela equipa de Lopetegui, portanto, falhas que resultam de outros maiores problemas dentro do sistema de jogo portista. Um dos mais óbvios problemas prende-se com o meio-campo azul e branco e a sua composição estática: Rúben Neves, Casemiro e Herrera (quando não actua Marcano no triângulo, o que ainda piora) não oferecem opções de transição viável, rápida, coordenada, capaz de estender a equipa no campo.

No triângulo portista falta um elemento que possa impulsionar o jogo do Dragão com maior eficácia, velocidade e habilidade na progressão ofensiva. A estaticidade do núcleo portista leva à má engrenagem do jogo do Porto, mas não só: implica que os seus médios mais criativos (e tecnicistas) desçam no terreno, para zonas muito recuadas, na tentativa de iniciar a fase de transição que o tridente de meio-campo não consegue desencadear. Resultado? Descoodernação táctica e posicional (estas descidas parecem voluntárias e não programadas pelo treinador) e claro, perdas de bola em zonas onde jogadores como Brahimi e Óliver não estão habituados a pisar...

Um passeio pela memória dos erros portistas

Centremo-nos nos erros que, de facto, resultaram em golo nas redes do guarda-redes portista: o passeio da memória leva-nos até ao «clássico» entre Porto e Sporting, jogado em Alvalade: passe incompreensível de Rúben Neves e bola nos pés do velocista Nani, golo leonino finalizado pela cabeça de Jonathan Silva, a passe de Carrillo. O Porto, descompensado pelo passe do jovem, foi incapaz de suster o flanqueamento, quer de Carrillo (que surgiu sozinho a cruzar) quer de Silva, que cabeceou para golo.

O segundo erro identificado ocorreu na Liga dos Campeões, no empate a dois golos com o Shakhtar Donetsk: Óliver Torres desceu no terreno para transportar jogo na ausência de maestros no triângulo, mas o resultado foi catastrófico. O médio espanhol acabou por enredar-se numa posse de bola estéril e, sem força para contar a pressão de Kucher, perdeu a bola e deu o ouro ao bandido - refira-se que os colegas pouco se mexeram para lhe oferecer opções de passe...

O terceiro erro também se deu na partida diante dos ucranianos. Maicon, bem no centro da defesa, perde a possa de bola para um adversário ucraniano: apenas com dois colegas na ilharga da bola e do raio de acção, Maicon deu o ouro ao bandido e colocou a sua equipa numa situação de total desequilíbrio estrutural, à partida com todo o meio-campo e laterais (projectados) fora da jogada.

Na partida contra o Braga, para a Liga nacional, o Porto voltou a facilitar, mostrando mais uma vez as suas deficiências estruturais na hora de pegar no jogo: quem, afinal, tem a primeira ordem para organizar o futebol portista e empurrar a formação para a frente, pensando as jogadas logo na sua nascença? Mais uma vez, um médio criativo teve de descer no relvado para pegar nessa batuta e, por outra ocasião, a perda de bola voltou a ocorrer, sem que ninguém na zona pudesse auxiliar com rapidez o jogador aflito.

Brahimi foi desarmado e a bola ficou na posse de Zé Luis, que depois concretizou o empate 1-1. À semelhança do jogo europeu com o Shakhtar, outro médio sentiu necessidade de recuar para buscar fluência e posse de bola, mas, como de novo transpareceu, tal parece não estar estudado ou programado, tal é a ineficácia e má coordenação conjunta que a formação apresenta nessas alturas - esta é outra das pechas do Porto, outra razão para o descalabro defensivo.

Clássico na Taça foi mais um retrato do mesmo Porto errático

Diante do Sporting e, quando os adeptos esperavam uma resposta visceral e carismática, o Porto retornou aos maus vícios - Marcano marcou um auto-golo muito consentido (não reparou nas suas costas...), enquanto Maicon, a meias com Casemiro, entregou de bandeja o golo ao Sporting, numa acção defensiva que pecou pela total má leitura do lance: em vez de colocar a bola fora (sob a pressão do ataque leonino) Maicon aliviou a bola para as costas da sua equipa; Casemiro ajudou e Nani marcou.

Poderá a elevada rotatividade de Lopetegui interferir com a sanidade táctica e o entrosamento entre jogadores? É, de facto, uma possibilidade forte e poderá mesmo uma das razões responsáveis pela falta de tacticismo colectivo da hora de começar a construir as jogadas. No futuro poderemos estar perante uma menor rotatividade e um triângulo munido de um jogador tecnicamente mais evoluído que possa desempenhar a função de «nº8», construtor de jogo recuado ou mesmo playmaker ofensivo? Essa será uma resposta ao mau jogo recuado do Porto (com bola), sem soluções de passe.

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