Se é verdade que Lewis Hamilton tem sido dominante ao longo da temporada, com 10 vitórias face às quatro do companheiro Nico Rosberg, a inédita decisão da FIA para a actual temporada, de atribuir pontos a dobrar na derradeira corrida em Abu Dhabi, pode alterar a história do campeonato.

Em 2014, a F1 tem novas contas a fazer para o título

Na F1, uma vitória de corrida vale 25 pontos, enquanto o segundo lugar amealha 18. O terceiro vale 15, o quarto 12, e cada posição subsequente recebe menos dois pontos do que a anterior, com excepção do décimo posto, que recebe um.
A corrida de Abu Dhabi será excepção: com pontos a dobrar, os primeiro e segundo lugares receberão 50 e 36 pontos, respectivamente.

De momento, Hamilton lidera o campeonato com 316 pontos, mais 24 do que Rosberg. E sendo previsível que a Mercedes mantenha a sua toada vencedora, com ambos os pilotos já acostumados a terminar nos dois primeiros lugares, o título não deveria escapar ao piloto britânico. Em todo o caso, a pontuação especial de Abu Dhabi impõe a equação de uma grande multiplicidade de cenários que ainda poderão dar o campeonato ao alemão Nico Rosberg. De facto, Hamilton pode até vencer a corrida no Brasil e perder o título, se não conseguir pontuar no circuito de Yas Marina.

Uma decisão controversa em nome do espectáculo?

Para o director da Mercedes F1, Toto Wolff, os pontos a dobrar na derradeira corrida são uma medida injusta e que «tem o potencial para ensombrar a temporada. Conhecemos as suas razões (...), mas estamos agora numa situação em que podem alterar o resultado.»

A original decisão da FIA visava evitar o total domínio de uma só equipa, como vinha acontecendo com a Red Bull ao longo das últimas quatro temporadas, com o intuito de manter vivo o campeonato até ao final, e certamente também para corresponder às expectativas e investimento na F1 do bem-financiado circuito de Abu Dhabi. Os responsáveis de Yas Marina não estariam certamente felizes por ver o seu circuito pouco relevante, relegado para o final do calendário, e com as inerentes quedas no número de espectadores. E na F1, talvez mais do que em qualquer outro desporto pelas quantias muitas vezes astronómicas de que se alimentam equipas e a própria máquina da Formula One Management, os patrocinadores falam mais alto. Mas aproximando-se a hora de fazer as contas aos efeitos que Abu Dhabi poderá ter na classificação, torna-se porém claro que o provável vencedor numa época tradicional poderá não o ser este ano.

O título ainda pode sorrir a Rosberg

Coloque-se o seguinte cenário: se Hamilton vencer no Brasil e Rosberg terminar em segundo -- algo que já sucedeu por oito vezes esta temporada (num total de 17 corridas) --, os homens da Mercedes arrancam em Abu Dhabi separados por 31 pontos. Isto significaria que a Rosberg bastaria um segundo lugar (36 pontos) para alcançar o título, no caso de Hamilton abandonar ou ficar abaixo do 8º posto.

Se no Circuito de São Paulo o alemão vencer e o britânico for segundo, como aconteceu este ano no Mónaco e na Áustria, a distância entre as Flechas de Prata cai para 17 pontos. Isto significaria que Rosberg precisaria apenas de fazer 5º em Abu Dhabi, caso Hamilton falhasse em pontuar.

O cenário poderá até tornar-se mais favorável a Nico Rosberg caso Hamilton experiencie algum problema que o impeça de ter uma boa prestação no Brasil, já este fim-de-semana. De igual modo, caso Rosberg abandone, as contas do título poderão quase resolver-se a favor do inglês. Com duas corridas a restar no calendário, o certo é que muito pode ainda acontecer, sobretudo com a dupla pontuação de Abu Dhabi a baralhar e voltar a dar no que pode ser o desfecho da temporada 2014 de F1.