Apesar de alguma infantilidade da organização do encontro particular que oporá as selecções de Argentina e Portugal, que depois de acertarem em pleno no palco para tão ilustre jogo, o ‘Teatro dos Sonhos’ Old Trafford, acabaram por ‘borrar toda a pintura’ ao agendar um encontro que se disputa em Manchester precisamente para a mesma hora em que joga… a Inglaterra, e logo num derby histórico e regional com a Escócia.

Resultado - corre-se mesmo o sério risco de se disputar perante bancadas despidas de público um encontro que também serve como mais um duelo entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi mas será ainda mais do que isso - será, caso ambas as equipas assim o queiram, um hino ao futebol espectáculo face à qualidade dos seus praticantes, e uma oportunidade para Portugal manter intacto o seu prestígio, ou até ampliá-lo ainda mais.

Ainda assim, é certo que as atenções recairão sobre CR7 depois de ter batido mais um recorde histórico. Agora também como detentor do maior somatório de tentos em qualificações, Ronaldo liderará um esquadrão luso que poderá aproveitar a oportunidade para testar a sua estratégia ofensiva que, diga-se, tem cumprido apenas com serviço mínimo, e esperava-se outro brilho a uma equipa que pretende afastar de vez os fantasmas que consigo carregam os muitos erros do passado.

Nos últimos dois encontros foram conseguidas importantes vitórias, mas não será menos verdade que ambas foram arrancadas com dificuldade e com apenas um golo marcado em cada uma das partidas. Juntando a esse pormenor a uma equipa que conta com o maior goleador dos últimos anos nas suas fileiras, é com normalidade que se crie alguma confusão, principalmente quando este elemento se encontra num tão excepcional momento de forma.

Nos últimos três encontros disputados, Portugal leva outros tantos. Sinal de que a equipa talvez esteja mais pragmática, mas de qualquer forma não deixa de constituir um risco - como tal, este encontro sem interesse competitivo surge como uma oportunidade perfeita para testar um 4x4x2 aberto nas alas, o que constituiria uma avaliação a triplicar pois envolveria três diferentes zonas do terreno.

No centro do terreno, o futebol luso parece ter um jogo em posse que parece dispensar um ’6’ posicional, o que torna cada vez mais aconselhável a implementação de um duplo pivot composto por Tiago e João Moutinho, com a salvaguarda de que no banco de suplentes, e até na equipa sub-21, se encontram muitas e boas alternativas para esse sector, mas também para praticamente todos os restantes, o que inspira confiança nesta possível aposta.

Com a divisão de tarefas entre os dois centrocampistas evitar-se-ia a necessidade extrema de se contar com ‘10’ que neste momento não existe na sua plenitude, dando lugar a uma libertação táctica, e com missão predominantemente ofensiva poderiam surgir dois jogadores em grande forma, casos de Nani e Ricardo Quaresma nas alas.

Nani é titular indiscutível

Previsão de espectáculo conjugaria a colocação de Ronaldo solto na frente de ataque

Deverá dar-se especial enfoque ao que seria uma merecida titularidade para o talentoso extremo do FC Porto que se tem enquadrado de forma excepcional no contexto desportivo tem sido uma das figuras da equipa com as suas irreverentes entradas em campo.

Tendo em conta os momentos de forma de todos os extremos lusos, e tendo em atenção que Ronaldo se trata de um atacante total, Nani e Quaresma distinguem-se dos demais e merecem actuar em simultâneo, algo que em Maio seria impossível de prever pois eram até comparados pelo seleccionador da altura, Paulo Bento.

Quaresma está de regresso à selecção

Na altura o treinador questionava “se o Quaresma esteve ano e meio sem competir e queriam que fosse seleccionado, porque razão o Nani esteve três meses sem o fazer e não hei-de esperar que esteja seleccionado” - actualmente, tudo apontaria para que fizessem parte da mesma equipa.

Na frente poderia abrir-se espaço a uma dupla atacante com Éder (ainda à procura de golos na selecção) e Cristiano Ronaldo, procurando o que melhor o actual Bola de Ouro faz no Real Madrid, um patamar acima de todos os outros, jogando solto na frente com um atacante que possa prender os defensores adversários e com o qual possa tabelar.

Com a impossibilidade de reeditar a dupla com Karim Benzema (que bom seria), o ponta-de-lança do Sp. Braga seria a escolha mais indicada especialmente quando confrontado com as alternativas existentes e vistas como possíveis para a equipa técnica nacional.

No sector mais recuado, será de acreditar que tudo se mantenha em prol de fomentar o entrosamento entre o quarteto que mereceu a confiança de Fernando Santos perante a Arménia, mantendo-se na esquerda Raphael Guerreiro no lugar que tem cabido a Fábio Coentrão e posteriormente a Eliseu, mas por seu turno na baliza perante algumas limitações físicas de Rui Patrício e o facto de não ser necessário forçar parece aconselhável a titularidade de Beto.

Em suma, as individualidades actualmente à disposição de Fernando Santos tornam possível um sucesso mesmo perante o vice-campeão mundial, até porque hoje se verifica uma equipa bem mais concentrada do que em ocasiões recentes como o Mundial, com a vantagem de a turma lusa ser liderada por um seleccionador mais consistente e experimentado.

Rival argentino consiste numa equipa completa e com poucos pontos fracos a explorar

Não parecem restar dúvidas de que Santos se vem superiorizando em termos técnicos ao homólogo argentino Gerardo Martino, o que uma vez mais atesta a valia dos técnicos portugueses em relação à concorrência.

Mesmo com um estratega menos capaz no banco de suplentes, perante a equipa nacional estará sempre um rival de classe mundial como a Argentina, um adversário incomparavelmente mais complicado em todos os aspectos do que Dinamarca e Arménia e os conjuntos europeus que têm tido pela frente.

O gigante sul-americano será liderado obviamente por um dos melhores do Mundo e da História como Messi, que no entanto nos últimos tempos tem deixado uma imagem de menor fulgor futebolístico e até uma menor frescura física depois de ter chegado à final do último Mundial.

No entanto, assenta como uma ‘luva’ ao estilo ofensivo do ‘tango’ argentino, especialmente se ao seu lado estiver uma unidade de maior rigidez posicional como Gonzalo Higuaín. Se tal acontecer e ambos alinharem em dupla na frente, serão previsíveis maiores dificuldades para o último reduto nacional, pois Messi ganha a leveza de poder jogar mais solto sobre a frente, como aliás muito aprecia.

Ao nível dos valores, como é fácil perceber, o conjunto argentino possui bem mais do que somente o craque do Barcelona em todos os sectores do terreno, começando desde logo pela defesa onde estará o bem conhecido do futebol português Ezequiel Garay.

Garay lidera o quarteto defensivo (Foto: Zimbio)

Até mesmo na baliza a equipa argentina parece bem servida apesar de o seu habitual titular, Sergio Romero, continuar a tardar em afirmar-se ao nível de clube, o que contrasta com a qualidade que demonstra pela equipa das ‘pampas’, como de resto já o havia feito no último Mundial, prova na qual foi determinante desde a fase de grupos. Provou tornar-se o típico guarda-redes especialista em jogos de selecções.

Como dinamizador entre o meio-campo e o ataque estará mais um nome familiar no nosso País, o incansável Ángel Di María, nome importantíssimo na manobra argentina. Como estes cinco nomes, outros são merecedores da maior atenção ao formarem uma equipa realmente temível também com um potencial ofensivo tremendo, um leque de escolhas bastante alargado e ainda com constantes vagas de jovens promessas à espera de uma oportunidade.

Terça-feira se verá se o espectáculo corresponde às expectativas. Para já, a imprensa desportiva nacional e internacional exulta com o encontro e os adeptos anseiam por um jogo alegre e aberto entre duas equipas que habituaram ao bem jogar, sendo que Portugal não deve assustar-se e ainda tem a responsabilidade acrescida de voltar a merecer o respeito do panorama internacional, o que conheceu alguma interrupção na estada da equipa no Brasil, onde na verdade não deixou saudades.