Efectivamente as curiosidades fazem parte da ordem do dia em futebol e os ‘grandes’ do nosso futebol contribuem com a sua ‘quota-parte’, uma delas será visível já a partir de Janeiro e nessa altura passará de um mero facto curioso a um problema que, ver-se-á poderá até vir a tornar-se algo de bicudo. Tudo isto pela realização da Taça das Nações Africanas, vulgarmente conhecida como CAN.

Poucos pensariam que uma parte do eventual sucesso ou falta dele nas temporadas de FC Porto e Sporting residiria em países como a Argélia, onde alinham o portista Yacine Brahimi e o sportinguista Islam Slimani, ainda para mais quando são dois jogadores altamente influentes na manobra de uma equipa que foi sabendo corrigir as suas dificuldades defensivas ao mesmo tempo que manteve um dos sectores ofensivos mais respeitáveis do futebol africano, e na exótica Guiné Equatorial.

Esse local no qual se realizará a já acima mencionada CAN poderá marcar um impacto imediato dependendo de como dragões e leões venham a lidar com as ausências dos dois jogadores, ainda mais quando à primeira vista se poderá esperar uma longa ausência em virtude de a equipa magrebina ser dotada de atacantes de craveira.

Nomes como El-Arabi Soudani, Sofiane Feghouli ou Abdelmoumene Djabou para além dos ‘portugueses’ Slimani, a figura maior no eixo do ataque, e Brahimi, poderão marcar uma participação de excelência da Argélia na CAN, o que implica um longo afastamento dos dois atletas do futebol português.

Tendo em conta a importância directa que Yacine Brahimi possui neste momento na estratégia atacante do FC Porto, as alterações que a sua ausência poderá acarretar pode até em último caso levar a um reajustamento no mercado, podendo levar à chegada de um ponta-de-lança de forma a permitir que o concorrente de Jackson Martinez para esse lugar, Adrián Lopez, possa ser adaptado a um dos flancos até porque outra alternativa possível, Vincent Aboubakar, também disputará a CAN.

Outra solução poderia passar pelo recrutamento de mais um médio, o que permitiria a adaptação de um dos criativos da equipa, como Oliver Torres ou Juan Quintero, ao lugar do argelino; caso a SAD dos dragões entenda não dar continuidade ao elevado investimento realizado no início da época, entre os atletas emprestados encontram-se também algumas hipóteses interessantes como Kléber.

Cedido ao Estoril, este atacante poderia dar azo à mencionada alternativa relacionada com a adaptação de Adrián, existindo outra saída com o retorno de Carlos Eduardo. Neste caso, o médio que se encontra no Nice seria difícil de resgatar pois encontra-se seguro no emblema francês com uma cláusula de compra. Desta forma, parece mesmo que o mais natural, e provável, seja mesmo o lançamento definitivo de Ricardo Quaresma.

Nas últimas semanas o Mustang tem provado que nem de perto nem de longe possui alguma incompatibilidade futebolística com Cristiano Ronaldo, muito pelo contrário, encontrando-se em excelente momento, pelo que será merecedor desta oportunidade dourada que se prenderá numa importante vaga na equipa titular.

Ausência de Brahimi ao serviço da Argélia pode trazer dissabores ao FC Porto

Como é bem conhecido o constante esforço da crítica azul-e-branca no sentido de não se atrasar, seja em que aspecto for, para os mais directos rivais, a forma como Julen Lopetegui e os restantes responsáveis pelo FC Porto lidarão com a perda de Brahimi terá de ser cirúrgica - afinal, estamos a falar de um titular indiscutível e provavelmente o jogador em melhor estado de forma em todo o plantel.

Como tal, o apoio à equipa deverá partir da própria Direcção, não existindo qualquer surpresa se nas próximas semanas o próprio Presidente, Pinto da Costa, surja em público com votos de confiança em relação ao plantel portista e até mesmo presenças em alguns treinos, como já sucedeu no decorrer desta mesma época.

Brahimi é neste momento uma peça fulcral num FC Porto que parece completamente antagónico quando comparado com a época passada, altura em que o dragão possuía uma equipa apenas para ‘consumo interno’ e mesmo assim apenas concluiu a Liga no terceiro posto; nesta época, e também muito devido à entrada deste jogador criativo, os azuis-e-brancos tornaram-se uma equipa de ‘montra’, claramente apontada à Europa.

“Para bem do futebol português é importante que o FC Porto esteja na Liga dos Campeões,” descreveu no início da época o ex-treinador dos dragões e actual técnjco do Paços de Ferreira, Paulo Fonseca, uma frase à qual agora Brahimi ficará associado pois muito depende dos seus préstimos a continuidade do sonho europeu do dragão e qual a sua disponibilidade quando regressar do compromisso ao serviço do seu país.

Sporting terá de confiar nas restantes opções de ataque para colmatar a baixa de Slimani

No caso do Sporting, dificilmente levará a grandes investimentos, até porque dinheiro, como se sabe, é algo que não abunda por Alvalade, pelo que a contenção poderá obrigar a uma ligeira modificação ao nível do estilo de jogo, passando por um reforço ao nível do meio-campo e a obrigação de ter uma equipa equilibrada tacticamente e menos permeável defensivamente com uma defesa à altura dos pergaminhos de um clube como os leões, liderada pelo seu guarda-redes, Rui Patrício.

Isto porque os últimos tempos têm até exibido um Fredy Montero em grande forma e um sério candidato à titularidade sem Slimani… ou com ele á disposição. Montero pode mesmo ser primeira escolha na frente de ataque leonina, tabelando com companheiros que o acompanhem a partir de zonas mais recuadas.

Como tal, sem Slimani o Sporting parece ter um plano B que já por diversas vezes foi colocado em acção sempre que o ponta-de-lança não esteve disponível, podendo ser levado a cabo com eficácia desde que o meio-campo esteja mais sólido e os extremos que apoiam Montero tenham também ‘golo’.

Desta forma, será determinante para os verde-e-brancos segurarem Nani nesta reabertura do mercado, um jogador que ainda esta semana provou em Old Trafford frente à Argentina ser um jogador quase imune à pressão - precisamente o que necessita o leão.

A juntar ao reforço de expectativas sobre Nani, uma situação que já sucede no momento, o Sporting pode sempre tornar ainda mais efectivo o seu banco de suplentes, apostando com maior regularidade nas alternativas existentes para as suas posições ofensivas assim como deve testar os jovens do Sporting B que evoluem nesses lugares, embora nenhum deles se trate de um ponta-de-lança.

Tornar talentos como Iuri Medeiros e Daniel Podence em alternativas directas para a equipa seria juntar dois reforços a umas alas sportinguistas já em si bem compostas, o que permitiria muitas vezes aos leões jogar sem referência atacante, uma opção a ter em conta sempre que Montero não revele a mesma disponibilidade ou se a situação o sugerir, até porque apenas Slimani e as suas características de ’target man’ obrigam à utilização de um verdadeiro ponta-de-lança.

Esse novo figurino pode até vir a ser experimentado ainda antes de Janeiro em jogos de exigência máxima como a visita a Stamford Bridge, onde a velocidade de manobra dos atacantes leoninos terá de ser absoluta e Slimani parece mais habilitado a entrar como unidade de combate no decorrer do encontro, o que indicia a titularidade de Montero ou em alternativa o lançamento de um trio de unidades móveis sem um verdadeiro avançado.

Para trás, indubitavelmente, ficará a oportunidade de passar a jogar com uma linha avançada de dois homens como alguns defendem, até porque não existem opções suficientes para colocar tal iniciativa em prática apesar de esta ser possivelmente a estratégia territorial que mais se adaptará às características de Montero.

A boa forma do colombiano parece descansar o seu treinador, que ainda na jornada passada da Primeira Liga terá observado com agrado o grande golo que o seu pupilo apontou na reacção à desvantagem no marcador, evitando assim o que seria um péssimo desaire caseiro ante o Paços de Ferreira.

A falta de um elemento de cariz ofensivo será ao mesmo tempo um desafio acrescido para Marco Silva, que terá de gerir da melhor forma uma frente de ataque mais ‘despida’ que apenas contará com Montero e Junya Tanaka como opções de raiz para conseguir pelo menos repetir os resultados de Leonardo Jardim na Liga e nas Taças podendo ainda ter uma prova europeia como mais uma preocupação… e um aliciante pessoal.

Até mesmo para Bruno de Carvalho, que ao manter nesse período a equipa na rota de uma ou mais conquistas estará a levar a bom porto a sua ‘cruzada‘ inclusivamente contra a Liga dos Clubes e especialmente quem a gere, poderá sair a ganhar com mais esta limitação. Pelo contrário, se optar por não mexer no mercado e a temporada não trouxer os resultados desejados, pode iniciar-se uma perigosa contestação…

Como irão FC Porto e Sporting debater-se com as ausências temporárias de Brahimi e Slimani na CAN dependerá de todos os factores acima referidos. De qualquer forma, graças ao exótico futebol do continente negro o panorama nacional torna-se ainda mais interessante, ou não tivesse lançado mais um obstáculo a dois dos candidatos.