Chegou ao fim a época 2014 de F1, uma época atribulada pelas alterações de regulamentos respeitantes às unidades motrizes, o debate sobre a falta de potência e ruído dos monolugares, a polémica dos pontos duplos, a discussão sobre tectos orçamentais, o infeliz e crítico acidente de Jules Bianchi no GP do Japão, e ainda a ausência de Marussia e Caterham de alguns GPs por questões financeiras. Da época, ficará sobretudo o domínio da Mercedes, com Lewis Hamilton a sorrir mais do que o colega Nico Rosberg no derradeiro cruzar de meta na temporada.

Mercedes

A época foi quase perfeita. O carro foi de longe o melhor, os pilotos estiveram em grande e apenas os problemas de fiabilidade poderiam retirar algum brilho à época tremenda da Mercedes. Infelizmente, foi isso que aconteceu. Uma luta que se esperava intensa e emocionante não aconteceu porque o carro de Rosberg “resolveu” dificultar a vida ao alemão. Uma falha no ERS privou o alemão de 160Cv de potência, vendo-se assim impedido de lutar pelo título. Rosberg começou a cair na classificação, mas nem assim perdeu a compostura e lutou até ao fim. Nas últimas voltas a equipa disse-lhe para regressar às boxes, mas Rosberg pediu para se manter em pista até ao fim. Caiu de pé. Mostrou como manter a compostura num momento difícil e lutou como pôde. Merecia mais. Do outro lado da garagem o sentimento era de festa. Hamilton conquistou o tão desejado campeonato. Um prémio merecido para um piloto que venceu 11 corridas em 19. Hamilton foi grande este ano. Lutou contra as adversidades e mostrou uma força que até agora parecia escondida. Na corrida teve um arranque fenomenal (provavelmente o melhor arranque de que nos lembramos) e depois disso limitou-se a gerir a corrida, sem pressão. Hamilton merece inteiramente este título.

Williams

A melhor forma de encerrar a época. Dois carros no pódio é certamente uma prenda bem saborosa para toda a equipa. Depois de um ano de 2013 francamente mau, Claire Williams e Pat Symonds colocaram a equipa nos trilhos da vitória. Uma época excelente para a equipa e para os pilotos. Bottas mostrou que tem potencial para ser campeão e Massa voltou a ser Massa. Depois de tanto tempo a ser “moço de recados” da Ferrari, Massa voltou a mostrar que a luta pelo título em 2008 não foi um acaso. Na corrida de ontem, Massa viu a vitória perto, mas um problema nas baterias impediu-o de pressionar Hamilton no final. Mais um desempenho brilhante dos pilotos e da equipa. Bottas não teve uma corrida limpa mas ainda assim foi o suficiente para ser 3º. Para o ano queremos mais.

Red Bull

Depois da penalização no final da qualificação, onde as asas dianteiras foram consideradas ilegais por serem demasiado flexíveis, Vettel e Ricciardo foram obrigados a largar das boxes. Se Vettel teve mais problemas com o “trânsito”, Ricciardo não se importou com isso. O australiano fez mais uma corrida espectacular e mais um par de ultrapassagens para o álbum de recordações. O nível que Ricciardo mostrou este ano é de campeão. Não teve um carro à altura para lutar com os Mercedes, mas foi o único que se impôs contra o domínio germânico. Se o título de campeão vai directo para Hamilton sem contestação, a votação do melhor piloto do ano terá de contar com Ricciardo. Tem um talento tão grande quanto o seu sorriso. Vettel não teve tanta sorte mas também não esteve ao nível de “Ric”. A última corrida pela Red Bull não correu como por certo desejaria, mas deixa uma história bonita e que será recordada por muitos anos. A cabeça já está na Ferrari e a corrida de ontem era mais uma formalidade. O Vettel deste ano está a anos luz do que já fez. Tem de provar que é melhor.

McLaren

A equipa que pior tem tratado os pilotos neste final de época. A indecisão sobre quem manter na equipa é um factor de pressão extra, que a equipa deveria ter tratado atempadamente. A decisão é difícil, mas ficar até Dezembro sem saber qual será o futuro, é ainda mais difícil para os pilotos. Button esteve em grande e tirou tudo o que podia do carro. Apenas se pode apontar um erro, quando estava na luta com Alonso. De resto esteve impecável. E foi graças a ele que a equipa manteve o 5º lugar no campeonato de construtores, poupando vários milhões de euros à equipa. Magnussen teve um final de época muito discreto. Tem um potencial enorme mas foi apanhado numa situação pouco confortável logo no seu primeiro ano na F1. E agora as dúvidas começam a ser cada vez maiores. Magnussen fez 55 pontos contra os 126 de Button. Qual será o escolhido? Qualquer que seja a decisão, haverá sempre um sentimento de injustiça, mas mais injusto será se quem ficar de fora ficar sem assento para 2015. Ron Dennis esteve muito mal na gestão deste caso.

Force India

De volta às boas exibições e aos bons resultados. Tanto Hulkenberg como Perez deixaram o melhor para o fim e os 6º e 7º lugares são um bom prémio para a equipa que teve momentos de indefinição a meio da época. Guardaram para a última corrida o ataque ao 5º lugar, mas Button defendeu a McLaren. Ainda assim estão de parabéns os dois pilotos e a Force India pela época e pela evolução que mostraram. Esperemos que essa evolução seja para manter. O line Up mantém-se para 2015 o que já é excelente, pois é das melhores duplas de pilotos do grid. Será a equipa capaz de atrair investimento suficiente para crescer ainda mais? Vemos potencial nesta equipa, mas tem de entrar dinheiro para não acontecer como sempre acontece... Começar bem, e a meio da época desistir do esforço.

Ferrari

Um final de ano em baixa. 9º e 10º não é aceitável para quem quer lutar pelo título e para quem investe tanto. Alonso mais uma vez tentou e lutou como pôde para conseguir um resultado melhor mas o esforço foi em vão. Já Räikkönen passou outra vez ao lado da corrida. Um ano completamente atípico para o finlandês. O futuro da Ferrari começa a definir-se. Mattiacci saiu da liderança da equipa para dar lugar a Arrivabene. Muitas entradas nos quadros técnicos com engenheiros da McLaren, Mercedes e Red Bull contratados pela Scuderia. Vettel é o homem que se segue para acompanhar Kimi e fala-se num regresso de Ross Brawn para a estrutura, fazendo recordar os tempos em que um tal de Schumacher se juntou a Brawn para tornar a Ferrari numa equipa invencível. É o tudo ou nada da Scuderia.

Toro Rosso

Kvyat foi obrigado a desistir cedo, pois o carro perdeu potência e simplesmente deixou de responder. Já Vergne fez uma corrida fraca, se calhar reflexo das notícias que o colocam definitivamente fora da equipa para 2015. Sainz Jr. é o candidato mais provável ao seu lugar, mas nada está certo ainda. O futuro do francês poderá passar pela Williams, como 3º piloto, esperando que o lugar de Massa fique livre em breve. Foi mais um ano à imagem da Toro Rosso. Objectivos cumpridos, mas sem o brilhantismo que se deseja. Uma equipa de serviços mínimos que alterna entre o bom e o mau. É uma equipa sem sal, e que poderia fazer mais.

Lotus

Acabou finalmente 2014 para a Lotus. E notava-se um certo alívio pelo final do calvário. Mesmo quando o carro de Maldonado se incendiou, as gargalhadas na box da equipa mostravam que a cabeça está já em 2015, com os motores Mercedes a caminho. Grosjean fez por “agradecer” a confiança depositada pela equipa com a renovação e fez um 13º. Pouco, é certo, mas a quem dá o que tem, mais não se pode exigir. Muitas lições a serem aprendidas com os desaires de 2014. Esperemos que a Lotus de 2012 e 2013 esteja de volta para o ano.

Sauber

É oficial: 2014 foi mesmo o pior ano da equipa. Nem com a Marussia fora de jogo conseguiram marcar os pontos necessários para sair do 10º lugar. Nada correu bem este ano e 2015 é ainda uma grande interrogação. Os pilotos também não ajudaram muito. Sutil e Gutierrez não acrescentaram (nem acrescentam) nada à equipa, e a corrida de ontem foi reflexo disso mesmo. A revolução no line up da Sauber é, portanto, compreensível. Que 2015 seja melhor. A equipa tem argumentos para muito mais.

Caterham

Conseguiram miraculosamente fundos para correr a última prova do ano, apenas com o objectivo de publicitar a equipa a possíveis investidores. Kobayashi voltou a não ter a sorte do seu lado, desistindo mais cedo, e Stevens manteve-se fora de problemas. Do jovem estreante não se esperava nada mais que isso. Ainda incomodou Alonso, que perguntou quem era o novo piloto da Caterham. Mas o último lugar era a posição esperada. Ter acabado a corrida não foi mau. E para a equipa ter colocado tudo pronto a tempo, e ter conseguido que um carro conseguisse acabar a corrida, é um enorme feito.

Amanhã começa a época de 2015, com os testes de final de época a decorrer em Abu Dhabi. As equipas começarão a testar o futuro durante dois dias. A McLaren vai começar a testar os motores Honda a sério, no que se espera seja o início de uma nova era. Haverá muita gente nova ao volante dos monolugares. 2015 começa já amanhã.

Estes são os pilotos escolhidos pelas equipas

Red Bull: Terça: Carlos Sainz; Quarta: Daniel Ricciardo.

Mercedes: Terça: Nico Rosberg; Quarta: Pascal Wehrlein.

Ferrari: Terça: Kimi Raikkonen; Quarta: Raffaele Marciello.

Lotus: Esteban Ocon.

McLaren: Terça e quarta: Stoffel Vandoorne.

Force India: Terça: Jolyon Palmer; Quarta: Spike Goddard.

Sauber: Terça e quarta: Marcus Ericsson.

Toro Rosso: Terça e quarta: Max Verstappen.

Williams: Terça: Valtteri Bottas; Quarta: Felipe Nasr.

Caterham: Terça e quarta: Will Stevens.

A Red Bull não permitiu que Vettel fosse dispensado mais cedo, impedindo o alemão de pilotar o Ferrari já esta semana, como era pretendido pela Scuderia.

Acabou, assim, mais uma época que foi recheada de emoção. 2014 foi uma boa colheita e o vencedor é justo. Agora as agulhas apontam para 2015, num desporto que nunca pára. Mas para quem teve tanto medo da nova era, podemos dizer que não foi nada mau e que o futuro poderá ser risonho, caso quem mande comece de uma vez por todas a pensar mais na F1 e menos no dinheiro. Já temos saudades.

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