Aos 29 anos de idade, pode-se dizer que Lewis Hamilton alcançou o topo: para além de ser campeão do mundo, é um dos pilotos mais bem pagos do pelotão, tem uma namorada famosa (a "pussycat doll" Nicole Scherzinger) e é adorado pelos fãs como o melhor piloto inglês da atualidade. Neste domingo, a primeira pessoa que lhe deu os parabéns foi o Príncipe Harry, o terceiro pretendente ao trono britânico, mostrando que o seu título era bem aguardado no Reino Unido, cinco anos depois de Jenson Button ter dado o último título mundial ao país. E Hamilton comemorou com algo hoje em dia raro: pegando na bandeira britânica, a «Union Jack», e levando-a para a pista, recordando os tempos de Nigel Mansell.

Mas quem é este piloto que agora chega ao que aparenta ser o auge da sua carreira?

Um talento natural

Lewis Carl Davidson Hamilton nasceu em Stevenage, no Hertfordshire inglês, a 7 de janeiro de 1985, filho de Anthony Hamilton e de Carmen Larbalseiter. Descendente de emigrantes da ilha de Grenada, que se estableceram em solo inglês na déacda de 50 do século passado.

O primeiro contacto com o automobilismo veio aos seis anos de idade, quando o pai lhe comprou um kart pelo Natal. Aos oito anos, em 1993, começou a competir em campeonatos, onde começou a ascender, com vitórias e títulos, o primeiro dos quais de Cadete. Aos dez anos, em 1995, numa cerimónia de entrega de prémios, abordou Ron Dennis no intuito de lhe pedir um autógrafo, e ter-lhe-á dito: «Olá, sou o Lewis Hamilton, ganhei o campeonato inglês e quero um dia conduzir para si», ao que o homem forte da McLaren respondeu com um «Liga-me daqui a nove anos; poderemos arranjar algo». Três anos mais tarde, em 1998, depois de ter vencido o campeonato Junior A, Dennis chamou-o para que assinasse um contrato profissional, sendo o mais jovem piloto até então a assinar pela McLaren, um recorde que se mantêm desde então.

Em 2000, torna-se campeão europeu de karting Formula A, com o máximo número de pontos, continuando em 2001. Por essa altura tinha conhecido e feito amizade com mais dois pilotos: o polaco Robert Kubica e o alemão Nico Rosberg, filho do campeão do mundo de 1982, o finlandês Keke Rosberg.

A veloz ascensão à Fórmula 1

Em 2002, dá o salto para os monolugares, na Formula Renault britânica, onde se torna campeão no ano seguinte, ao serviço da Manor Racing. Em 2004, passa para a Formula 3 europeia, sempre ao serviço da Manor, onde acabou no quinto lugar no campeonato, mas no ano seguinte acabou por ser campeão, para além de ter vencido o Masters de Formula 3, em Zandvoort. É nessa altura que começa a ter duelos em pista com outro jovem alemão, Sebastian Vettel.

Em 2006 passa para a GP2, ao serviço da ART Grand Prix, e foi demolidor, vencendo cinco corridas e tornando-se campeão com 114 pontos, bantendo o brasileiro Nelson Piquet Jr. Por essa altura, falou-se na possibilidade de se estrear na Fórmula 1 a meio desse ano, substituindo o colombiano Juan Pablo Montoya, que tinha saído da equipa. No final, decidiu-se que era melhor concentrar-se na GP2, sendo o lugar de Montoya ocupado pelo espanhol Pedro de la Rosa.

Um enorme impacto

Em 2007, Hamilton têm por fim a sua estreia na Fórmula 1, ao lado do espanhol Fernando Alonso, então campeão do mundo, e que ia para a McLaren, após dois campeonatos bem sucedidos pela Renault. Pensava-se que seria uma temporada de aprendizagem e o piloto espanhol iria ser superior ao britânico, mas logo na primeira corrida, na Austrália, Hamilton mostrou que não iria ser assim. Um terceiro lugar colocou-o no estrito lote de pilotos que conseguiu um pódio na sua estreia na Fórmula 1. Sete corridas depois, no Canadá, alcançava a sua primeira vitória, repetida na corrida seguinte, em Indianápolis, depois de ultrapassar Alonso na primeira volta. A meio do ano, tinha conseguido nove pódios consecutivos e era o melhor «rookie» britânico desde Jackie Stewart, em 1965.

Mas esse talento incomodava Fernando Alonso, que julgava estar a ser preterido por Hamilton, devido à sua relação com Ron Dennis. Para piorar as coisas, a McLaren era acusada de espionagem à Ferrari, e rumores surgiram de que Alonso tinha sido um dos culpados. No final, a equipa de Woking foi desclassificada do Mundial de Construtores, mas os seus pilotos podiam ainda competir para o título de pilotos. Hamilton tinha vencido por mais duas vezes, na Hungria e no Japão, mas erros na China e no Brasil fizeram-no perder a oportunidade de ser campeão logo no seu ano de estreia.

Com Alonso de fora em 2008, Hamilton ficou com o estatuto de primeiro piloto, ao lado do finlandês Heiki Kovalainen, onde lutou pelo título com o Ferrari de Felipe Massa. A luta foi intensa, com o inglês a vencer na primeira corrida do ano, na Austrália, e em mais quatro provas, contra as seis vitórias do piloto brasileiro. Mas pelo meio cometeu erros, entre os quais no Canadá, onde inexplicavelmente bateu na traseira do Ferrari de Kimi Räikkönen, e na Bélgica, onde foi penalizado por ter cortado a chicane no duelo com o piloto finlandês, dando a vitória ao piloto brasileiro.

Na corrida final, em Interlagos, o britânico tinha uma vantagem de sete pontos sobre Massa. Tinha acabo de vencer na corrida anterior, em Xangai, e para ser campeão teria de acabar no quinto lugar, mesmo que o seu rival vencesse a corrida. Massa fez a pole-position, com Hamilton a fazer o quarto melhor tempo, mas no dia da corrida, a chuva fazia a sua aparição e as condições estavam complicadas. Massa fez uma corrida irrepreensível na liderança, enquanto que as coisas para Hamilton se complicavam, permanecendo no meio do pelotão. Na volta 68, tudo piorou quando o britânico saiu largo de uma curva e foi ultrapassado pelo Toro Rosso de Sebastian Vettel. Nesse momento, Hamilton era sexto classificado, e o campeão era Massa.

Mas na última volta, na zona da curva do Café, o Toyota de Timo Glock, que tinha pneus intermédios, saiu largo e perdeu posições para Vettel e Hamilton. Foi mais do que suficiente para que o inglês conseguisse o mínimo para ser campeão do mundo, por um ponto apenas (98 contra 97) quando nas tribunas já se comemorava o título mundial de Felipe Massa...

Um balde de água fria para os brasileiros, o êxtase para Hamilton, que aos 23 anos era campeão do mundo pela primeira vez.

 O corte do cordão umbilical

Em 2009, as regras mudaram e a McLaren começou a sofrer com a ascensão dsa Brawn GP e da Red Bull. Com uma primeira parte da temporada para esquecer, Hamilton voltou às vitórias na Hungria, para voltar a repetir em Singapura. Mas apenas conseguiu o quinto lugar no campeonato, a sua pior classificação até então.

Em 2010, teve um novo companheiro de equipa, o britânico Jenson Button, campeão do mundo pela Brawn GP. O duelo foi equilibrado, mas em 2011 e 2012, apesar de Hamilton ter vencido corridas, Button tinha sido o melhor em termos de pontos e classificação final.

Por essa altura, Hamilton procurava um lugar melhor, porque sabia que a McLaren começava a não oferecer as garantias que queria para lutar pelo titulo mundial. A Mercedes começava a concentrar as suas atenções na sua prória equipa e a McLaren era apenas mais um cliente. Em meados de 2012, a equipa contactou o inglês para correr no lugar do veterano Michael Schumacher, e depois de negociações decidiu ir para o lugar a partir da temporada de 2013. O cordão umbilical era cortado e Hamilton ia para Brackley, para correr ao lado de Nico Rosberg.

A primeira temporada da Mercedes não foi fácil, com apenas uma vitória na Hungria e mais quatro pódios. Foi apenas a regularidade que lhe permitiu bater por pouco o seu companheiro de equipa. No final, acabou no quarto lugar da classificação geral.

O ano da nova consagração

Contudo, este ano, havia um novo regime de motores, os V6 Turbo, e sabia-se desde há algum tempo que os motores Mercedes eram os melhores do que a concorrência. E logo na primeira corrida do ano, esse domínio ficou patente perante toda a gente... menos para o próprio Hamilton, que nessa corrida teve um problema na unidade motriz e acabou por abandonar, beneficiando Nico Rosberg.

A partir da corrida seguinte, porém, na Malásia, Hamilton começou uma sequência vitoriosa: uma delas, no Bahrein, resultou após uma épica - e limpa - batalha com o seu companheiro de equipa. A meio do ano, um período de quatro corridas sem ganhar beneficiou Rosberg, e apenas a vitória na Grã-Bretanha compensou.

O auge desse mau período foi Spa-Francochamps, palco do GP da Bélgica, quando Rosberg toca em Hamilton na curva Les Combes, causando-lhe um furo e consequente abandono. A relação de longa amizade entre ambos ficou afectada, e a Mercedes censurou Rosberg pelo seu comportamento em pista.

Mas foi a partir desse momento baixo que Hamilton se tornou imparável, vencendo seis das últimas sete corridas, e com algumas demonstrações de supeioridade, principalmente em corridas como as de Monza (beneficiando dos despistes de Rosberg) e Austin. E poderia ter vencido sté em Interlagos, caso ele não se tivesse despistado no meio da corrida, atrasando-se na classificação.

A corrida de Abu Dhabi foi de consagração, apesar de não ter conseguido a pole-position. A partida impecável e o domínio na corrida constrastaram com os problemas que o piloto alemão teve com o seu motor e dispositivo de energia, acabando fora dos pontos. Na corrida onde os pontos eram a dobrar, o inglês foi imperial, demonstrando a razão porque foi ele o melhor nesta temporada, e porque mereceu plenamente o seu segundo título mundial.