A precisar de obter três vitais pontos na corrida desesperada pela esperança dos oitavos-de-final da UEFA Champions League, o Benfica deslocou-se ontem a São Petersburgo sedento de triunfos - à partida, a premissa inicial do guião dessa História nada augurava de bom. Porquê? Porque, de facto, vencer fora na Liga dos Campeões não é hábito do Benfica de Jorge Jesus.

Contra os outros e contra a sua própria incapacidade

A derrota de 1-0 frente ao Zenit, mercê de um golo de Danny, veio apenas corroborar e reforçar uma tendência factual que tem sido traço característico do Benfica dos últimos cinco anos: a formação da Luz tem uma dificuldade extrema em triunfar fora de casa em jogos da fase final da Liga dos Campeões. Nas dezassete partidas disputadas fora de casa desde 2010 até ao presente, o Benfica apenas trouxe a vitória para casa em três delas.

Ou seja, nas cinco participações do Benfica da era de Jorge Jesus na Liga dos Campeões (contando apenas as fases finais e não os apuramentos para a mesma) os encarnados apenas conseguiram triunfar em três deslocações, duas delas na mesma edição da prova, na temporada 2011/2012, naquela que foi a melhor prestação benfiquista do reinado de Jesus (atingiu os quartos-de-final).

Nessa época o Benfica bateu fora os estreantes e débeis romenos do Otelul Galati (0-1), assim como os suíços do Basileia (0-2), crónicos campeões da liga doméstica. A terceira vitória forasteira apenas chegou na temporada passada, quando os encarnados bateram, à tangente, o Anderlecht por 2-3, com um golo de Rodrigo no minuto 90. Com o fraco rácio apresentado, as probabilidades jogavam contra o Benfica, ontem, no gélido terreno de São Petersburgo.

17% de vitórias em 17 jogos jogados fora de casa

Analisando os números, verificamos que, no cômputo dos jogos disputados fora da Luz, o Benfica apresenta um índice de vitórias de apenas 17%, num universo de 17 partidas jogadas fora de casa na liga milionária desde a temporada 2010/2011 e a 2014/2015. Ao disputar ontem uma partida de cariz decisivo, o Benfica não defrontava apenas o oponente russo, mas também a sua própria, e crónica, inaptidão fora de casa em jogos da Liga dos Campeões, o primeiro patamar do futebol europeu, no qual o Benfica de Jesus se tarda em afirmar.

Potência para mais numa era de «Champions» tão impotente

Poder-se-ia dizer que o Benfica teve o azar dos sorteios trágicos mas, ao longo das temporadas, o Benfica não se pode, de facto, queixar da sorte dos potes e das bolas que ditam a constituição dos grupos da prova dos milhões. Isto, aliado aos fortes plantéis à disposição do treinador da Luz, deixa claramente um amargo de boca na ambição dos adeptos do Benfica, que esperavam mais que as ténues e tímidas prestações da sua equipa na prova europeia de topo.

Schalke 04, Lyon e Hapoel Tel-Aviv foram os primeiros adversários do Benfica na temporada inaugural de Jesus na Champions League: um grupo longe da dificuldade extrema em que um Benfica campeão (com activos como Saviola, Aimar, Cardozo, Coentrão, Javi Garcia ou David Luiz) se deixou enredar pela combatividade dos oponentes, perdendo até a deslocação ao reduto do Hapoel, por embaraçosos 3-0.

Na temporada 2012/2013 o Benfica voltou, depois do sucesso europeu de 2011/2012, a desiludir fortemente: num grupo com Barcelona, Celtic e Spartak Moscovo, o Benfica não foi além de um terceiro lugar, perdendo o acesso aos oitavos-de-final para os escoceses, tendo até perdido na deslocação à Rússia, por 2-1. Na partida final, frente a um Barcelona repleto de segundas linhas, os encarnados não foram além do frustrante 0-0.

Na temporada 2013/2014 nova desilusão benfiquista em palcos europeus da Liga dos Campeões: num grupo novamente longe do grau de dificuldade extremo, as águias voltaram a perder o acesso aos oitavos-de-final, cedendo o segundo lugar aos gregos do Olympiakos. Numa das piores exibições europeias dos últimos anos, o Benfica foi trucidado pelo PSG por 3-0, no Parque dos Princípes: o mau prenúncio estava dado.