No final de 2013, quando a Wiliams anunciou que iria ter motores Mercedes para a temporada seguinte, todos torciam para que fosse bem sucedida, para poder ultrapassar aquela que tinha sido uma das piores épocas de sempre, com apenas cinco pontos e o nono lugar no campeonato de Construtores. Um ano mais tarde, as expectativas foram largamente ultrapassadas com nove pódios, uma pole-position, uma volta mais rápida e 322 pontos, que lhe valeram o terceiro lugar no campeonato do Mundo de Construtores. E para Felipe Massa, que substituiu o venezuelano Pastor Maldonado, foi uma temporada de redenção, após os anos complicados da Ferrari.

O motor que todos queriam ter e a polémica malaia

Sabia-se desde há algum tempo que iriam ter os motores Mercedes, depois de uma temporada frustrante com os V8 da Renault. O acordo serviu como compensação pelo fato de Toto Wolff, o acionista minoritário da equipa, ter ido para a Mercedes para ser um dos diretores executivos, ao lado de Niki Lauda. A sua mulher, Susie Wolff, iria servir não só como piloto de testes da equipa, como também como seu representante numa equipa que este ano colocou outra mulher, Claire Williams, ao leme, tornando-a cada vez mais feminina.

Apesar dos testes iniciais demonstrarem esperanças, esperando que fossem a equipa que ficaria atrás da dominante Mercedes, apenas nas qualificações do primeiro Grande Prémio do ano, na Austrália, é que confirmaram isso mesmo, colocando ambos os carros na Q3. Se a corrida de Felipe Massa acabou cedo, na primeira curva da primeira volta, já Valtteri Bottas conseguiu um ótimo quinto lugar, apesar de alguma frustração por se esperar mais, nomeadamente um pódio.

Na corrida seguinte, porém, houve polémica. Em Sepang, Felipe Massa desobedeceu às ordens de equipa e impediu Valtteri Bottas de o ultrapassar na luta pelo sétimo lugar. O brasileiro, ainda traumatizado pelos eventos de quatro anos antes, em Hockenheim, decidiu “bater o pé” sobre o jovem finlandês e fazer valer o seu estatuto perante a equipa. Apesar de ter vencido dessa vez, nas corridas seguintes, Bottas fez de tudo para vulgarizar Massa, o que aconteceu ao longo do meio da temporada, chegando a cavar uma vantagem que se manteve no final do ano em 52 pontos (186 do finlandês contra os 134 do brasileiro)

O grande momento da Williams na temporada foi o fim de semana austríaco. Na casa da Red Bull, e também no regresso do circuito ao calendário, a qualificação foi uma das mais surpreendentes do ano, com a equipa de Grove a monopolizar a primeira fila da grelha, e com o veterano Massa a ser melhor do que Valtteri Bottas. Contudo, o brasileiro, apesar de ter dominado a primeira parte da corrida, teve uma paragem na boxe desastrada, que lhe não só rendeu a liderança para as Mercedes, como viu o lugar mais baixo do pódio a ser ocupado pelo seu companheiro de equipa, que lhe rendeu o seu primeiro pódio do ano.

E foi também o começo de uma boa fase para Bottas, com três pódios seguidos, dois deles dois segundos lugares na Grã-Bretanha e na Alemanha. Em contraste, Felipe Massa sofria, com duas retiradas. Só voltaria a pontuar com um quinto lugar na Hungria, numa corrida onde Valtteri Bottas foi o oitavo.

Uma grande ponta final

A partir dali, a Williams consolidou-se como a terceira força do pelotão, pois quando queria passar para o segundo posto e aproveitar dos erros da Mercedes, quem aproveitava melhor era a Red Bull, que graças a Daniel Ricciardo, conseguiu duas vitórias seguidas na Hungria e na Bélgica. Aí, Valtteri Bottas conseguiu o seu quarto pódio na temporada, antes de em Monza, Felipe Massa conseguiu por fim o seu primeiro pódio, com um terceiro lugar final.

As coisas melhoraram para a Williams na parte final da temporada. Por muito pouco, Valtteri Bottas não ficou com a pole-position na Rússia, mas compensou com novo pódio, e na parte final do ano, Felipe Massa obteve dois pódios seguidos, especialmente um segundo lugar em Abu Dhabi e a colar nos escapes de Lewis Hamilton, o vencedor e o eventual campeão do mundo. Já Valtteri Bottas conseguiu o terceiro posto, sendo a primeira e única vez em que os dois pilotos da marca ficaram com o pódio nesta temporada.

No final da temporada, o FW36 tornou-se num dos melhores chassis do pelotão, um projeto simples, mas eficaz, e nas mãos de Massa e Bottas, transformou uma equipa em notória decadência para algo com aspirações à liderança de ambos os campeonatos, já que deu a Valtteri Bottas um quarto lugar no campeonato, algo incrível para quem está apenas na sua segunda temporada.

Valtteri Bottas: uma temporada de consagração

Aos 25 anos de idade (nascido a 28 de agosto de 1989), o jovem Valtteri Bottas teve a sua melhor temporada de sempre na sua ainda curta carreira. O piloto de Nastola passou de uma temporada de 2013, onde pontuou apenas uma vez, para uma temporada de 2014 onde conseguiu seis pódios e o quarto lugar do campeonato, batendo por diversas vezes o seu companheiro de equipa bem mais experiente, o brasileiro Felipe Massa.

Apenas por uma vez Bottas não terminou a corrida, no Mónaco, e pontuou em 17 das dezanove ocasiões desta temporada, e nunca ficou mais abaixo do 11º posto na temporada. Em muitas ocasiões, era o “melhor do resto”, sendo batido apenas pelos pilotos oficiais da Mercedes.

Contudo, houve ocasiões onde esteve quase a conseguir algo mais, especialmente na Áustria e Rússia, onde pequenas saídas de pista impediu de fazer uma pole-postion que merecia. E a parte final do campeonato começou a perder vantagem sobre o seu companheiro de equipa, apesar do pódio na corrida de Abu Dhabi. Mas nesta temporada, o piloto finlandês foi considerado, a par de Daniel Ricciardo, como um dos melhores do pelotão.

Felipe Massa: a segunda vida de um piloto veterano

No final de 2013, muitos consideraram que a transferência do piloto brasileiro da Ferrari para a Williams como o último passo do piloto rumo ao final da carreira. Um ano depois, parece que Felipe Massa ganhou nova vida e os seus substitutos parece que vão ter de esperar por mais algum tempo até chegar a sua vez. Tanto que Felipe Nasr, que muitos consideravam que ficasse com o lugar dele em 2015, vai de facto se estrear… mas na Sauber.

Contudo, ao longo da temporada, foi superado pelo jovem Valtteri Bottas. A sua pole-position em Zeltweg foi das poucas coisas boas que teve, do qual contribuiu algum do seu habitual azar, especialmente nas trocas de pneus. Aliás, foi uma péssima troca que o impediu de um pódio na Austria. Outras ocasiões onde o azar bateu à porta foi no Canadá, onde foi vitima de um excesso de Sergio Perez (apesar de uma volta mais rápida) e foi por causa disso que apenas na parte final do campeonato é que revelou alguma da sua verdadeira natureza, com o terceiro lugar em Monza. Os outros dois pódios, em Interlagos e Abu Dhabi, mostraram o “lado bom” do piloto brasileiro, especialmente no primeiro caso, onde apesar de todos os azares, teve um final feliz. Quanto ao segundo caso, “faltou um bocadinho assim” para celebrar em Abu Dhabi a sua primeira vitória desde 2008.

O que se pode esperar de 2015?

Caso não haja descongelamento dos motores, pode-se prever que haverá mais domínio da Williams na próxima temporada. Ambos os pilotos se manterão por lá, com a escocesa Susie Wolff a subir no estatuto, sendo piloto de testes e terceiro piloto oficial da marca, após a partida de Felipe Nasr para a Sauber.

A grande pergunta que se pode fazer da Williams-Mercedes é será que poderá vencer corridas na próxima temporada. A Mercedes parece ser inalcançável, e só se fizerem um bom chassis é que poderá ser que haja uma aproximação. Caso a fasquia se mantenha, é bem provável que vejamos Massa e Bottas mais vezes nas primeiras filas da grelha e a lutar mais vezes pela vitória, embora possa haver mais concorrência de equipas – com ou sem motores Mercedes - como McLaren, Red Bull, Ferrari e Lotus.