Qualquer adepto do futebol nacional e até muitos dos seguidores da modalidade que se encontram espalhados pelo Mundo fora saberão da rivalidade entre FC Porto e Benfica e o facto de cada encontro entre os dois conjuntos ser algo de imprevisível e de impossível adivinhação quanto ao vencedor face ao equilíbrio histórico e estatístico entre ambos.

No entanto, e por mais estranho que possa parecer face à semelhança de forças entre ambos os clubes, nos últimos 40 anos as estatísticas têm sido tudo menos equilibradas no que diz respeito a partidas entre dragões e águias tanto nas Antas como no Dragão a contar para o Campeonato Nacional ou Liga portuguesa, verificando-se que desde 1978 o Benfica apenas logrou vencer no terreno do seu grande rival por tão somente… duas ocasiões!

É certo que a supremacia dos azuis-e-brancos nas últimas décadas tem sido grande - aliás, baseia-se mesmo neste período o grande crescimento do clube da Invicta como uma referência do futebol nacional com gerações de jogadores que marcaram a própria Selecção Nacional e até o futebol internacional, fixando-se depois nas maiores Ligas e clubes à escala global, e obviamente tal contribuiu para grande parte das vitórias do FC Porto sobre o rival lisboeta.

No entanto, tal não explica tudo, pois nesse período foram também várias as equipas de qualidade apresentadas pelo Benfica, pelo que pode explorar-se um certo insucesso ao nível da confiança sempre que o palco é a casa do dragão, uma espécie de ‘bloqueio mental’ que o clube da Luz, em especial o seu técnico, Jorge Jesus, que poderá também ver muito do seu futuro jogado neste encontro, esperará agora ultrapassar em definitivo.

Vencer no Dragão poderá ser para o Benfica um verdadeiro passo em frente pela revalidação do título nacional principalmente numa época de eliminação precoce das competições europeias que poderá vir a ter repercussões num eventual enfraquecimento do plantel já em Janeiro, pelo que será de todas as formas aconselháveis aumentar o ‘fosso’ para o grande rival. Mesmo sem essas contingências actuais, vencer na Invicta é também pontapear a História…

Para quem conhece o longo historial do Benfica, será difícil explicar como desde 1978 a equipa encarnada apenas venceu no Dragão (ou Antas) apenas por duas vezes para a Liga, um somatório de resultados extremamente negativo; desta forma, deitando o passado para ‘trás das costas’, as águias abordarão este encontro com a apreensão habitual mas desta feita como preparação minuciosa para uma eventual vitória que apenas se obtém com muita consistência defensiva.

Para que em 2014 o Benfica contrarie a tendência dos números, a competência em sectores mais recuados será determinante, dependendo em boa parte da segurança da sua baliza, no que Júlio César venha a evidenciar, ou em alternativa Artur Moraes, já habituado a este tipo de encontros mas também com más memórias nestes confrontos em particular, em especial pelo seu específico problema no jogo com os pés e neste momento pouco utilizado.

Vários FC Porto - Benfica têm sido determinantes para a resolução do título

Existirão outras dúvidas tais como a lateral esquerda adaptada desde que o seu habitual titular, Eliseu, contraiu um problema físico, mais concretamente uma fractura num pé da qual se encontra ainda a recuperar, e que terá de manter bem elevada a sua concentração no jogador que vier a ocupar a posição, quase certamente André Almeida.



Serão essas duas premissas a ter em conta pela turma benfiquista de forma a que a defesa não se tornar um ponto a explorar em especial pela dinâmica asa direita portista. Voltando a ter o passado em atenção, devem recordar-se vários resultados históricos do FC Porto sobre o seu arqui-rival, começando por 1988.

Esse foi um ano em que os dragões se impuseram com um claro 3-0, golos de Jaime Pacheco e Rui Barros, numa última jornada que fechou a época com a conquista de mais um título nacional e uma vantagem de 15 pontos para o Benfica, segundo classificado.

Com a última vitória na cidade do Porto a datar-se em 1977, o Benfica apenas voltaria a vencer no Norte em 1991, e logo por confortáveis 0-2 num bis de César Brito que se revelou determinante para a conquista do título nacional para os encarnados tendo em conta que apenas dois pontos separaram os dois rivais no término dessa temporada.

Quatro anos volvidos o dragão voltou a impor-se de forma categórica, desta feita com novo 3-0 obtido a partir de dois tentos de Domingos Paciência e ainda mais um tento de Peter Lipcsei e que voltava a traduzir nova superioridade azul-e-branca nessa época que terminaria com 14 pontos de avanço sobre o rival, novamente segundo.

Não ficariam por 1991 os triunfos favoráveis ao Benfica na casa do dragão, tendo no entanto esse regresso aos sucessos sucedido em 2005, já com o Estádio das Antas demolido e no actual Dragão, num bis de Nuno Gomes que no entanto pouco valeu às águias, que nessa temporada ficariam inclusivamente atrás do Sporting e distanciados por 12 pontos de um Porto novamente campeão…

Cinco anos depois, mais do que não ter evitado novo Campeonato para o dragão, o Benfica foi ainda humilhado na casa do seu adversário; já com Jorge Jesus ao comando e numa estratégia completamente equivocada que levou à colocação de David Luiz como lateral esquerdo e a inclusão de Sidnei no centro da defesa tendo apenas tido um encontro referente à extinta Liga Intercalar como preparação, os números chegaram mesmo a impensáveis 5-0.

Números não mentem: duas vitórias da águia desde 1977 para a Liga, e o ‘borrego’ é já bem ‘gordo’

Há duas épocas, e embora a derrota tenha sido tangencial, acabou mesmo por valer nova perda de Campeonato: alguém esquece o fatídico minuto 90+2 marcado pelo protagonismo dos menos utilizados, Liedson a assistir Kelvin para este se escapar em velocidade a Roderick Miranda para a obtenção de um golo que valia uma Liga?

Na actualidade não se esperam também que as facilidades aumentem para os actuais campeões nacionais, bastando para tal perceber a grande aposta feita pelos portistas no reforço do seu plantel que possui agora muitas e boas opções, especialmente no seu meio-campo ofensivo.

Neste momento torna-se até complicado prever qual será o alinhamento titular da equipa da casa visto que Hector Herrera e Oliver Torres têm dado conta do recado, mas à espreita existem sempre jogadores como Juan Quintero, um jogador ainda inconstante mas indiscutivelmente talentoso…

«O pior que pode acontecer no Dragão é sair de lá alguém morto,» afirmou há algumas semanas o presidente do Sporting, Bruno de Carvalho. Não levando essa expressão completamente à letra, certo é que o ambiente criado nas bancadas do Dragão torna-se alucinante e até intimidatório e por isso muito difícil de suportar, e tem sido também esse uma das oposições às quais as águias não têm conseguido fazer face.

No entanto, nos anos mais recentes a hegemonia portista tem sido colocada em causa como bem atestam os vários títulos nacionais conquistados pelas águias, o que tem permitido intercalar com o grande rival no lote de vencedores em Portugal.

Renovar o título nacional poderá mesmo significar um fim de era, razão pela qual o presidente portista, Pinto da Costa, apostou forte para que possa fazer jus às suas palavras, ainda que num outro contexto, que registam que «o filme é sempre o mesmo,» pelo que em oposição caberá ao FC Porto evitar que a superioridade benfiquista comece a ganhar expressão. Poderá jogar com a História a seu favor: normalmente quando o dragão vence o rival de sempre, acaba campeão…

Depois de na época passada terem sido várias as noites negras para o FC Porto contra o Benfica, nem mesmo assim as águias, que até lograram chegar a uma final europeia, lograram vencer no terreno azul-e-branco, tendo sido derrotadas pela Liga e Taça de Portugal e alcançado um empate que soube a vitória pela Taça da Liga face ao triunfo através da marca de grande penalidade. Até por aí pode perceber-se que o borrego começa a ser bem gordo…