Julen Lopetegui e Jorge Jesus defrontam-se pela primeira vez no próximo domingo, no clássico que opõe FC Porto e Benfica. Dois passados diferentes que se encontram este fim-de-semana no Estádio do Dragão, palco onde se discute a liderança da liga.

Chegar, ver e inventar

Depois de uma época muito aquém do esperado, o FC Porto entrou na temporada 2014/2015 com um investimento inédito na equipa de futebol, e um novo treinador, Julen Lopetegui. Com tanta quantidade e qualidade no plantel portista, seria de esperar que o antigo campeão europeu de sub-19 e sub-21, demorasse algum tempo até encontrar um onze-base onde pudesse implementar a sua ideia de jogo, tirando assim o máximo partido do enorme potencial dos jogadores ao seu dispor. (foto: rtp.pt)

De acordo com a História, é tradição para os lados do Dragão haver uma forte resposta a uma época menos conseguida, uma entrada a todo o gás que permita recolocar os azuis-e-brancos novamente no topo, não deixando qualquer margem para os adversários. Contudo, não foi bem o caso de Lopetegui. Apesar da natural qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões, e das três vitórias consecutivas nas três primeiras jornadas do campeonato, os adeptos portistas demoravam em compreender e aceitar Lopetegui como um treinador «à Porto». Os resultados apareciam, mas as exibições não convenciam, e os três empates consecutivos na liga, juntamente com a eliminação da Taça de Portugal em casa, diante do Sporting, elevavam as críticas ao técnico basco a um nível pouco normal para início de época.

Grande parte da contestação a Lopetegui assentava na sua política de rotatividade do onze inicial, não criando uma equipa-base que criasse rotinas e dinâmicas próprias. A verdade é que, até hoje, o treinador dos dragões nunca repetiu um onze em duas partidas consecutivas. Se este fenómeno não pode ser considerado de anormal no futebol, a verdade é que a implementação desta política logo no arranque da época foi vista com desconfiança por parte dos adeptos portistas. Se uma ou duas mudanças pontuais podem ser vistas como normais, tendo em vista o binómico campeonato/champions, o mesmo já não se pode dizer das constantes alterações de vários jogadores do onze inicial. Independentemente do valor dos jogadores, a verdade é que as entradas ocasionais de Andrés Fernandez, Marcano, José Angél, Adrián, Quintero ou Evandro acabavam por interromper a construção de uma identidade e ideia de jogo da equipa portista. (foto: fpf.pt)

Azuis-e-brancos com ideias...rojas

Baseado num 4-3-3 já hoje considerado como «clássico» (triângulo no meio-campo com pivot defensivo), Lopetegui suporta a sua ideia de jogo na posse de bola e consequente circulação da mesma, uma ideia que o basco traz da escola espanhola, e do seu estilo de jogo desenvolvido mormente no início do século XXI. Para a aplicação deste estilo de jogo, o técnico azul-e-branco aposta num meio-campo lutador, capaz de recuperar a bola rapidamente e servir de forma eficaz um trio de ataque em constante movimento. (foto: zerozero.pt)

Para que a pressão, e consequente recuperação da bola seja feita de modo mais eficaz, o basco adianta a linha defensiva procurando, por um lado, a rápida retoma do esférico, e por outro, a imediata neutralização da iniciativa atacante do adversário. Esta aproximação de linhas varia, obviamente, de acordo com o adversário e com as circunstâncias da partida. Perante um adversário como o Benfica, é de esperar que Lopetegui tenha um pouco mais de cautelas a este nível, contudo, o factor «casa» e a vontade de vencer e subir ao primeiro lugar da Liga, e a própria postura habitual da equipa portista não permitirão excessivas preocupações defensivas.

Cinco anos é muito tempo

A disputar a sexta temporada consecutiva ao serviço do Benfica, o treinador Jorge Jesus veio interromper a tradição do clube encarnado em não segurar um treinador durante um período considerável de tempo. Na Luz desde 2009/2010, o técnico português tem deixado uma marca no clube encarnado que nem a passagem do tempo poderá apagar, tendo já conquistado um considerável rol de troféus nacionais, assim como duas presenças na final da Liga Europa. (foto: desporto.sapo.pt)

Com adeptos e críticos do seu estilo bem particular, o treinador das águias tem conseguido manter a sua equipa ao mais alto nível em termos internos, isto apesar das adaptações que tem vindo a ser obrigado a fazer, em muito devido à cruel lei do mercado e consequente saída de jogadores influentes.

Jesus chegou ao Benfica com um sistema de jogo suportado por um 4-4-2 losango onde figuravam nomes como os de David Luiz, Ramires, Aimar ou Saviola; uma equipa verdadeiramente demolidora e que dominou a liga portuguesa a seu bel-prazer, de tal forma que foi baptizada de "rolo compressor", tal era a pressão e o domínio exercido perante o adversário. (foto: apostax.blogspot.com)

Três anos volvidos, Jesus volta a ser campeão nacional, mas agora num 4-4-2 mais clássico. No miolo estavam Matic e Enzo Pérez que, apesar de não jogarem a par, complementavam-se quer a defender quer a atacar; nos flancos estavam (e ainda estão) Salvio e Gaitán que atribuiam largura e velocidade ao jogo encarnado, jogando quase de olhos fechados com a dupla ofensiva Lima/Rodrigo, dois irrequietos que, ora abriam espaços para os colegas, ora finalizavam, na maior parte das vezes, com êxito. (foto: publico.pt)

Com a saída de alguns jogadores durante o defeso, Jesus viu-se na obrigação de mudar ligeiramente o seu sistema tático. Com efeito, o sistema actual dos encarnados apresenta apenas uma referência atacante, apoiada de perto por um médio ofensivo (normalmente Talisca) e pelos dois extremos. No meio-campo é Samaris quem tem as maiores despesas defensivas, apoiado, como sempre, por Enzo Pérez, o pêndulo da equipa.

Apesar de todas estas alterações de sistema, o espírito e as ideias de jogo de Jorge Jesus mantêm-se: pressão alta, recuperação pronta da bola, transições rápidas, tudo isto apoiado pela garra e espírito de luta que o treinador encarnado procura incutir nos seus jogadores.

Para além de ser um dos grandes clássicos do futebol português, o FC Porto x Benfica do próximo domingo marca também o primeiro encontro entre Lopetegui e Jorge Jesus, o primeiro encontro entre o novato e o mestre. Duas equipas, duas ideias, duas identidades de jogo em confronto sobre o relvado do Dragão, veremos quem leva a melhor.