«O Sporting assume-se como candidato ao título e é normal que assim seja. Depois do que fizemos o ano passado só podíamos assumir isso. E parte na pole position», foi assim que Augusto Inácio, director do futebol leonino, classificou as hipóteses do Sporting conquistar o campeonato, ainda decorria o quente mês de Julho. Agora, cinco meses passados e treze jornadas volvidas, o Sporting, a dez pontos do topo da Liga, tem praticamente descartada a chance de cortar a meta em primeiro lugar.

Dando eco às pretensões ambiciosas do presidente Bruno de Carvalho, que lançou o Sporting como forte candidato, toda a estrutura leonina focou-se na luta pelo campeonato, mas, passadas treze rondas, o clube de Alvalade vê o topo da tabela cada vez mais distante, quase como um ponto imperceptível no longínquo horizonte - o rival Benfica leva uma dezena de pontos de vantagem e o FC Porto quatro. A angústia pontual é ainda maior já que, na jornada passada, os Leões tiveram a oportunidade de reduzir o atraso (devido ao clássico Porto x Benfica) mas desperdiçaram-na, empatando 1-1 em casa, com o Moreirense.

O decorrer da época fez questão de demonstrar, claramente, que o Sporting não estava preparado para, deste modo precoce, ultimar a sua candidatura ao título como um objectivo materializável. A equipa não mostra cadência, constância, preparação técnica nem experiência para enfrentar os rivais, mais apetrechados, na luta pela consagração nacional - aliás, se há algo que a classificação reflecte é mesmo uma inexperiente equipa, ainda à mercê da adaptação de um novo treinador e de novas ideias tácticas, polvilhada com jogadores talentosos e muitos outros de valor duvidoso.

Talvez inebriada pela ilusão fantástica da época passada, a direcção sportinguista encarou esta temporada ciente de que, com os pés bem assentes no que de bom fizera a equipa na época 2013/2014, poderia prespectivar um futuro ainda mais risonho em 2014/2015. A vinda de Nani, apoteótica, aumentou a auto-estima leonina e nem mesmo a saída de Marcos Rojo (cuja ausência não foi colmatada a preceito) baixou as expectativas do Leão confiante. Uma quinzena de milhões gastos em contratações pareciam ser suficientes para dar profundidade à equipa. O novo treinador, bafejado pela glória conquistada no Estoril, o homem ideal para a empreitada venturosa.

E, pisando todo este chão a que se chamou realidade, talvez o Sporting tenha mesmo dado passos no vazio daí para a frente. Olhando-se ao espelho como um candidato tão credível e potente quantos os dois rivais, Benfica e Porto, o Sporting projectou uma ambição que viria a não poder confirmar em campo. Toldada pelo feito do segundo lugar em 2013/2014, nos escombros de uma conjectura atípica, o Sporting achou demais de si. Por ter baixado as expectativas a priori, por estar totalmente focado nas provas internas, por jogar com menos pressão que os esbanjadores Benfica e Porto, por ter encontrado rapidamente uma coesão técnico-táctica difícil de recriar e consolidar. Assim singrou o Sporting  - mas a realidade mudou.

A pressa de agradar à massa associativa, aliada à inerente e intrínseca pressão que o estatuto histórico do clube representa, fizeram o Sporting avançar firmemente para a candidatura ao título, focando a prioridade e mobilizando o clube, interna e externamente, para a luta, taco-a-taco, com os outros grandes. Mas cedo a realidade apanhou de surpresa o iludido Sporting Clube de Portugal: 13 jornadas, tantas vitórias quanto empates (6), quatro tropeções em casa e a pior defesa dos cinco primeiros classificados. Se o FC Porto tem dado os seus trambolhões (algo que foi habitual em 2013/2014), o Benfica, tranquilo, leva 11 vitórias, uma mão cheia a mais que o rival lisboeta.

Provavelmente, colocar a fasquia alta demais foi uma precipitação que o resto da época pode ainda acentuar. O Sporting, que deve orgulhar-se de estar a dar passos sólidos no projecto de formação (uma continuação do bom trabalho, reconhecido internacionalmente), talvez tenha desejado, cedo demais, algo para o para o qual não estava preparado. O clube, que tenta estabilizar-se financeiramente, dificilmente poderá, exceptuando de modo pontual, competir com a inflacionada política gastadora de Benfica e FC Porto - caso ela continue ou tenha hipóteses de continuar. A política de aproveitamento interno, apesar de ser insuficiente para lidar com o peso do investimento dos rivais, certamente será, no futuro, uma regra que colocará em igualdade os 3 grandes. Talvez seja preciso ser paciente.