Crónica VAVEL:

A pergunta ecoa pelo mundo sportinguista: afinal, como deverá o adepto encarar e interpretar o silêncio do Sporting sobre o feroz e inédito ataque de José Eduardo, membro do Conselho Leonino, ao treinador em vigência, Marco Silva? A questão está sem resposta, já que o universo Sporting não prestou sequer uma única palavra sobre tal avassalador e directo ataque à pessoa de Marco Silva, feito por uma personalidade da esfera de confiança de Bruno de Carvalho.

O que pensar deste ensurdecedor silêncio? Como pode o Sporting, e seus orgãos sociais, terem até agora ignorado as tremendas acusações de José Eduardo, feitas a uma peça-chave do projecto sportinguista, nada mais nada menos que o treinador, escolhido no passado defeso, aposta de futuro para os próximos quatro anos? Pergunta-se: como pode o clube e a SAD ignorarem as gravíssimas acusações imputadas a um membro da casa leonina, sem saírem a terreiro para defender a honra de um activo do Sporting, técnico da equipa principal, que foi alvo de um ataque à sua credibilidade e idoneidade? 

FOTO PAULO SPRANGER / GLOBAL IMAGENS 

Que mensagem passará o clube com tal silêncio? Como poderão tirar as suas deduções os adeptos do Sporting que ainda acreditam na firme defesa da família sportinguistas e dos seus actuais profissionais por parte da direcção de Alvalade? Este silêncio, duradouro, aniquilia por completo qualquer ideia ou vestígio dessa firme defesa, sempre apregoada pelo presidente Bruno de Carvalho, muitas vezes até servindo ela de justificação para ataques veementes a antigas glórias do clube, como Manuel Fernandes. Ora, as declarações de José Eduardo, veiculadas, quer à RTP Informação quer ao jornal «A Bola», ficaram sem resposta, pairando no vazio da comunicação leonina, agora calada.

É certo que o clube respeita actualmente o «blackout» declarado no passado dia 23, mas, esse, não foi suficiente para impedir o presidente Bruno de Carvalho de vir a público negar a saída de Marco Silva, numa altura em que a imprensa noticiava a cisão por todos já conhecida. Será o ataque de José Eduardo ao treinador do clube uma questão menor, não digna de exigir uma defesa cabal do Sporting ao seu próprio treinador? Assobiar para o lado, ou mesmo retardar uma resposta, significa isolar o treinador, desamparando-o e enfraquecendo-o, enfim, deixando-o à sorte dos ataques exteriores, das acusações de falta de profissionalismo, das imputações de «interesses obscuros» e até da falta de dignidade e de honra - Marco Silva foi acusado de boicotar e prejudicar o Sporting, e a instituição permanece calada.

Não justificaria este ataque, aliás, inédito e nunca antes visto nestes contornos, uma acção de repúdio, de defesa solidária do profissional Marco Silva? Afinal onde está o pragmatismo eloquente e acérrimo de Bruno de Carvalho que caracterizou a sua política de comunicação, na defesa do clube, dos interesses do clube e da família sportinguista? Como pode, perante todo o contexto, manter o silêncio calculado? Que condições psicológicas terá Marco Silva para exercer o seu cargo de modo sadio, sabendo que o clube não defende a honra daqueles que laboram em prol dos objectivos do próprio clube? Numa altura em que a família sportinguista mais necessita de uma cabal intervenção presidencial, esta está ausente - o silêncio chega na altura em que o mais urgente era a palavra.

Caso as acusações de José Eduardo sejam verídicas e fundamentadas, a questão transforma-se noutra: como pode, ainda, Marco Silva ser treinador do Sporting? Se as declarações do membro do Conselho Leonino forem verdadeiras, Marco Silva terá de ser alvo, natural e logicamente, de um despedimento por justa causa, por existirem gravíssimas razões mais que suficientes para que o ex-técnico do Estoril abandone o clube sem receber qualquer indemnização. Num caso ou noutro, o silêncio é ensurdecedor, não só para os tímpanos do mundo leonino mas também para a lógica de união de uma organização que se quer blindada, sólida e solidária.