A ano de 2014 viu o Boavista, clube de gente aguerrida, rejubilar com a ascensão, administrativa, à Primeira Liga, sendo o clube nortenho devolvido ao convívio dos melhores de Portugal, algo que não acontecia desde 2008. O clube campeão nacional em 2000/2001 regressou aos palcos grandes do futebol, subindo do Campeonato Nacional de Séniores até à Primeira Liga: a subida, íngreme, colocava obrigatoriamente a questão - seria o Boavista capaz de debater-se com o poderio de uma Liga para a qual parecia não estar, naturalmente, preparado?

Endividado e respirando com dificuldade, o Boavista aceitou o hercúleo desafio de investir numa formação capaz de combater pela manutenção na Primeira Liga, aposta arriscada que poderia, em caso de descida, significar o hipotecamento total do clube, a braços com um contexto financeiro complicado. Mas, até agora, a tarefa árdua tem sido bem sucedida: o clube axadrezado coloca-se na 12º posição da tabela, com parcos 13 pontos, suficientes, no entanto, para manter uma distância de 7 pontos para o Gil «lanterna vermelha» Vicente.

A vertiginosa subida obrigou a direcção do clube a buscar, inventivamente, soluções para reforçar a equipa e, de facto, o Boavista, sem deslumbrar nem encantar, tem levado, vagarosamente, a água a seu moinho: com um onze débil, Petit tem espremido o parco potencial da equipa, conseguindo amelhar 13 pontos, numa primeira metade de campeonato que até viu os axadrezados baralharem as contas ao FC Porto (0-0) e deixarem a cabeça dos benfiquistas em água (0-1). 

Apesar de não ser alumiado pela vermelha luz do último classificado, o Boavista está longe de se sentir confortável, pois a sua pontuação ainda reflecte a sua dificuldade global em termos competitivos, não fosse a vantagem para o penúltimo classificado ser apenas de 3 pontos. A grande vitória deste Boavista resume-se à sua capacidade para contrariar as iniciais probabilidades que conotovam os axadrezados como principal candidato à despromoção: tal não se verifica actualmente, estando esse posto preenchido pelo fraco Gil Vicente, que a prática provou ser o mais forte candidato à descida.

Esta primeira batalha vencida - 14 jornadas escapando aos lugares de despromoção - é também consequência da lacuna competitiva de que padece a orgânica do futebol português. Numa liga débil em termos competitivos, jogada a 18 equipas, descerem apenas duas formações é, declaradamente, uma ataque frontal à qualidade da prova. Abundam as equipas ténues, curtas na qualidade e exauridas na potencialidade, enquanto uma minoria compete a um nível indubitavelmente superior, facto que torna os jogos aborrecidos, previsíveis e sem o tempero da sadia competitividade. Há que encare o quadro desta forma: o mérito das fracas equipas chama-se nivelamento por baixo.

Tendo marcado apenas 9 golos e concedido 26 (uma das piores defesas da Liga, apenas superada pelo Penafiel), o Boavista conta com os portugueses Tengarrinha, João Dias, Zé Manuel e Mika, todos eles habituais peças-chave do xadrez do técnico da casa, Petit. O cabo-verdiano Brito é outro dos talismãs do clube, que conta também com a experiência internacional do médio hondurenho Beckeles. Lucas Rocha e Philipe Sampaio são outros dos titulares regulares de Petit: ambos alinharam em 11 jogos nesta temporada, sem esquecer o senegalês Idris Mandiang.

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