Benfica: no topo para ficar

Claramente a turma encarnada é o grande destaque destas primeiras 17 jornadas da Liga portuguesa. Não só por liderar o campeonato de forma isolada mas também por ter demonstrado, pelo caminho, uma forte constância em termos exibicionais e uma solidez colectiva assinalável, tudo virtudes que permitiram às águias manterem-se no topo sem contestação. Derrotados apenas por uma vez (na Pedreira, frente ao Braga) o Benfica apenas cedeu quatro pontos nesta primeira volta (empatou em casa com o Sporting) e a categoria dos últimos resultados transparece um Benfica confiante e tranquilo na liderança.

Dono do melhor registo defensivo destas primeiras 17 rondas (apenas 7 golos sofridos) e do segundo melhor ataque (apenas a um golo do FC Porto), o Benfica atingiu o fim da primeira ronda da Primeira Liga esgotando adjectivos para caracterizar o permanente domínio em 2014/2015. Desde 1983/1984, com Eriksson aos comandos, que os encarnados não completavam uma primeira volta tão eficaz e fiável - e, nos últimos 30 anos, foi a terceira vez que o Benfica foi vencer ao reduto portista, em jogos da Liga.

Talisca deslumbrou no arraque, Salvio foi omnipresente

Anderson Talisca foi, sem margem para pontos de interrogação, a grande revelação encarnada do campeonato: ascendeu à condição de titular e desatou a marcar golos, decidindo partidas atadas e até rubricando, com classe, um «hat-trick». Com 9 golos na Liga, nada mais nada menos que o melhor marcador do Benfica na prova, Talisca termina a primeira ronda actuando numa posição mais recuada, derivação causada pela saída de Enzo. Apesar da excelente abertura, Talisca tem vindo a viver um abrandamento de fulgor, flutuação natural dos seus ainda tenros 20 anos de idade.

Mas se Talisca ascendeu aos píncaros mas de lá desceu, homem houve que lá continua: Salvio merece destaque pela forma ininterrupta como tem ajudado o Benfica, quer com assistência quer com golos. No seu estilo aguerrido e incansável, o argentino tem sido um autêntico martelo pneumático que fustiga as defesas contrárias sem dar descanso. Sempre pronto a furar a linha defensiva adversária, Salvio conta com 11 golos em todas as provas, sendo presentemente o melhor marcador do plantel do Benfica - ainda nos Barreiros mostrou com se bisa.

FC Porto: melhor ataque por entre toda a rotatividade

O FC Porto pode ainda não ter convencido todos os seus adeptos quanto à sua capacidade global para atacar títulos, mas a verdade é que os pupilos do novato Julen Lopetegui possuem o melhor ataque da Liga (42 golos marcados) e a segunda melhor defesa da prova. A rotatividade imposta pelo basco, muito criticada à partida, está hoje mitigada por uma maior consistêntica colectiva, dentro de campo mas também no raciocínio de Lopetegui, que hoje valoriza mais a regularidade nas escolhas do seu onze preferido.

Lopetegui gozou de forte investimento no plantel (Foto: SAPO Desporto)

Mesmo com flutuações no onze inicial, o Porto não fugiu à qualidade imensa do seu plantel e, após um começo nervoso, consolidou na Liga a sua posição de credível perseguidor do rival e líder Benfica. Com quatro empates e uma derrota (diante do líder encarnado, em casa) os Dragões isolaram-se na perseguição às Águias, terminando a primeira ronda qual abutre oportuno que anseia pelo tropeção de quem vai à frente.

Jackson Martínez é abono da família portista

Não poderia haver outro destaque primordial na formação portista que não tivesse o nome do colombiano Jackson Martínez: o avançado é já o rei dos golos na História do Estádio do Dragão e conta com 14 tentos assinados em 17 partidas da Primeira Liga, sendo, sem sombra de dúvida, o grande goleador deste campeonato. A sua veia de hitman tem pulsado com vibração e nenhuma defesa fica indiferente ao poder de fogo do colombiano, que além de marcar farta-se de laborar em prol do colectivo portista.

Jackson lidera lista de artilheiros

Mas Jackson não joga sozinho: outro dos destaques do FC Porto é Yacine Brahimi, o reforço vindo do Granada no Verão. Virtuoso, dançarino de bola colada no pé e dono de uma forte apetência para finalizar, o internacional argelino dá magia aos flancos mas mostra igual brilhantismo quando colado ao centro do terreno. Rápido como uma seta, tem sido um dos grandes municiadores do ataque portista.

Sporting: tropeçar muito valeu o título nacional

Podemos ter cautela perante o futuro mas a previsibilidade matemática das probabilidades já deixou o Sporting fora da corrida ao título, e, num campeonato nivelado por baixo, com muitas equipas a jogar por favor na Liga, dificilmente o Leão irá cavar de volta toda a terra que agora o impede de estar próximo dos rivais Benfica e Porto. O Sporting entrou em falso na Liga, cedendo pontos em Coimbra: o mote para uma primeira metade trémula voltou a ser dado com o tropeção em casa, frente ao Belenenses - com aversão a jogar perante o seu público, o Sporting caiu com estrondo fora, em Guimarães, e deixou-se para trás.

Apesar de apenas ter perdido uma partida, os Leões são reis do empate (apenas duas formações na Liga têm mais empates que o Sporting) e de igualdade em igualdade (6) foram perdendo de vista o líder Benfica, contra o qual até deram boa réplica, em pleno abrigo das águias, logo na terceira jornada. Munido de talentos jovens da cantera, um investimento significativamente mais baixo que os rivais e um novo treinador, não surpreende que o Sporting seja terceiro - a habilidade existe e o futuro tratará de a potenciar.

Marco Silva é o timoneiro leonino (Foto via: Record.pt)

Nani é o deus Sol de Alvalade

Todo o planeta táctico do Sporting gira à volta de Nani, o sol que ilumina Alvalade e permite que o Sporting combata as trevas oponentes. Vindo por empréstimo, o extremo internacional rapidamente mostrou que a sua tarimba é superior e que as suas acções em campo permitem à equipa tornar-se mais perigosa, mais sólida e mais fluente. Dono de uma velocidade de processos enorme, Nani flexibiliza o pensamento ofensivo dos Leões e dá novos caminhos para se chegar à baliza adversária - sem ele, tudo se tornar mais espinhoso, com ele toda a gente brilha mais intensamente.

Nani em destaque (Foto via: Observador.pt)

João Mário é outro dos destaques de uma equipa que coloca, habitualmente, sete portugueses em campo. O jovem convenceu Marco Silva e finalmente é jogador de craveira de um Sporting que não tem medo em apostar na sua formação. Paulo Oliveira também fez a diferença: desde que se tornou titular, o sector defensivo do Sporting ganhou uma estabilidade exibicional que antes não demonstrara.

Vitória Sport Clube: no carrossel de saídas mantém-se o trabalho da consolidação

Rui Vitória encabeça com estilo um Vitória de Guimarães que vive num permanente carrossel de saídas que, apesar de nunca parar, nunca foi obstáculo para a crescente consolidação de uma equipa séria, estável, dona de processos de jogo bem aprendidos e de uma competitividade acima da média portuguesa. O Vitória SC realizou uma primeira ronda extremamente positiva, tendo sido o feliz ocupante do terceiro lugar durante várias jornadas. Roubou pontos ao FC Porto e bateu com mestria o Sporting, afirmando-se como quarta força desta primeira metade.

Perder vários jogadores importantes parece não incomodar o excelente trabalho de consolidação feito pela equipa técnica de Rui Vitória e apenas deixa antever que o português terá talento para subir de patamar e liderar um grande do futebol nacional. O Vitória debateu-se com a subida de forma do rival Braga mas acabou por terminar a primeira ronda à frente dos arsenalistas, com mais 3 pontos.

Enquanto André André pensa, João Afonso faz de escudo

No meio-campo desta Liga, um nome luso ecoa na mente dos amantes do futebol: André André, organizador de jogo vitoriano, tem sido o grande destaque da formação do Castelo, não só pela regularidade das suas exibições mas também pela mestria das suas sinapses, impulsionadoras do raciocínio do Vitória SC durante as partidas. Passa como poucos, assiste com finesse e ainda sabe marcar golos - é o único médio centro puro a realizar um «hat-trick» na Liga.

Mas, para que o meio-campo vimaranense faça o que lhe é pedido, é preciso que as anti-aéreas dos «Conquistadores» estejam a monitorizar o raio de acção de Guimarães - é aí que entra outra das revelações da Liga, o central João Afonso. Vindo directamente do Benfica de Castelo Branco, João Afonso deu um salto gigante em termos de competitividade e não abanou: é o líder da defesa vimaranense e nem parece ser o seu primeiro ano na Primeira Liga.

Outros destaques da Primeira Liga

Não poderiamos terminar este artigo de périplo retrospectivo pela primeira metade desta Liga 2014/2015 sem mencionar muitos outros destaques que deram cor ao campeonato. A consistente actuação do Moreirense, recém-promovido, é de salutar: o clube de Moreira de Cónegos vai de vento em popa, surpreendendo pela sobriedade do seu jogo e pelos 24 pontos ganhos por Miguel Leal e companhia. Também o Belenenses tem mostrado qualidades que o distinguem dos demais: sexto lugar, bem acima das passadas realidades do Restelo, traduzem o bom trabalho de Lito Vidigal e dos executantes Miguel Rosa e Deyverson, principalmente.

Maazou é outro dos jogadores em destaque, com 9 golos marcados ao serviço do Marítimo, assim como Hassan, avançado do Rio Ave, que soma oito tentos certeiros. De não deixar em claro é também a boa prestação do central Aderlan Santos, do SC Braga, e de Pardo, colombiano dos arsenalistas. Hernani e Bernard merecem igualmente elogios, já que dão pujança a um Vitória de Guimarães atrevido.