É notícia esta sexta-feira em praticamente toda a imprensa italiana e em Portugal VAVEL está em condições de confirmar a veracidade destes relatos: a Sampdoria, actualmente 5.ª classificada da Serie A, está em vias de assumir o controlo maioritário do Sporting Clube Olhanense, fazendo da formação algarvia, por estes dias a disputar a II Liga do futebol português, uma espécie de equipa satélite do clube da capital da Ligúria.

Dizem diversas fontes sediadas em Itália que na origem do interesse da Sampdoria pelo clube português está um mega projecto desenvolvido pela sociedade presidida por Massimo Ferrero de recrutamento de jovens jogadores, e que passará pela aquisição de posições maioritárias de diversos clubes europeus estrategicamente escolhidos. Para lá do Olhanense, a Sampdoria estará perto de fechar parcerias com mais dois clubes na Croácia e na Eslováquia.

Nem dois anos depois, Campedelli estará de saída

A abertura do Olhanense a capital estrangeiro não foi portanto o conto de fadas que se esperaria, mas que eventualmente já não surpreende tendo em conta o registo de situações similares no futebol português.

Das permanentes alterações na estrutura do clube algarvio ao mais recente colapso financeiro, com uma descida à II divisão pelo meio, os accionistas maioritários da SAD dos rubroneros, liderados por Igor Campedelli, preparam-se agora para trespassar a parte adquirida há sensivelmente ano e meio a novos proprietários, depois de uma gestão muito criticada pela massa associativa do clube Olhão e cujos resultados mais visíveis se traduzem no actual 19.º lugar na divisão secundária do futebol português.

Campedelli, ex-Presidente do Cesena investigado em Itália por crimes de fraude fiscal, conforme divulgado em exclusivo por VAVEL, poderá entregar o clube algarvio aos novos proprietários numa situação de incumprimento, dado a existência (que é pública) de vários meses de ordenados em atraso aos jogadores do plantel rubronegro.

Mas porquê o Olhanense?

Não será pelo Algarve se tratar propriamente de um «viveiro» de talento no futebol protuguês que a Sampdoria terá escolhido o clube de Olhão como clube privilegiado para escoar e desenvolver vários dos seus jogadores, mas sobretudo o facto de a lei fiscal portuguesa ser manifestamente mais vantagosa para o futebol quando comparada com a italiana.

Para além disso, o grupo de investidores com ligações a este importante clube italiano considera também que o facto de o Olhanense estar a disputar a II Liga é interessante do ponto de vista do desenvolvimento de jovens jogadores, que na sua grande maioria iniciam as suas carreiras de profissionais neste patamar intermédio de competitividade.

Por último, mas não menos importante, a possibilidade de em Portugal se poder integrar um maior número de jogadores extra-comunitários comparativamente com o território italiano, o que coloca o Olhanense, numa posição geográfica cujo clima se constitui como mais um factor favorável e de atracção de jovens jogadores, num clube altamente aliciante para os principais clubes europeus.

Por estas e outras razões a formação portuguesa se encontra à beira de ser então adquirida pelo clube genovês, numa parceria que já esta época levou Martin Simões e Andrés Ponce para Olhão e que nos próximos dias poderá inclusive levar à substituição de Jorge Paixão por um treinador com ligações à Samp.

Grandes europeus atentos aos pequenos portugueses

Este «súbito interesse» dos grandes tubarões protugueses por clubes de menor expressão competitiva em Portugal já não é novidade. Nas últimas semanas foi de resto notícia um alegado interesse da Juventus e do Manchester City pelo Belenenses, numa operação similar a esta que se prepara para ser feita no Olhanense.

Em Itália a situação da Udinese, com participações no Watford (Inglaterra) e no Granada (Espanha), é mais um exemplo paralelo ao caso da Sampdoria, mas um pouco por todo o Mundo proliferam exemplos deste tipo, num modelo de gestão que continua a dar muito que falar.

É que apesar da «multipropriedade» estar regularmente proibida na maioria dos países, e portanto não poder haver interferência directa na gestão desportiva de dois clubes em simultâneo, as possibilidades de contornar a lei são infinitas.

Por aí passará precisamente o futuro do Olhanense, cujo controlo desportivo deverá acabar por passar pelas mãos da Sampdoria. Em comum, pouco ou nada até aos dias de hoje, desde a história às cores dos equipamentos, e quanto aos seus efeitos práticos só lá mais para a frente se saberá quem mais irá beneficiar com esta parceria.