Serei sucinto e responderei, de rajada e a abrir, à pergunta com que termina o sub-título: porque o Benfica de Jorge Jesus construíu-se tacticamente de uma forma instável, assimétrica, volátil e insuficiente. Ao longo de seis anos de pontificado, de consolidação de ideias e de aperfeiçoamento técnico-táctico, a verdade nua e crua, visível em Alvalade, é que o Benfica de Jesus ainda não está dotado, táctica e estruturalmente, de equilíbrios e harmonias estratégicas.

Deixemos a pergunta: como pode uma equipa campeã, que aspira a ser hegemónica e a substituir o dominador rival do Porto, encolher-se totalmente e alterar todo o seu código génetico e edifício táctico para defrontar o leonino Sporting? Serão essas mudanças e essa necessidade camaleónica típicas de uma equipa sólida e cimentada nas exigências do alto nível competitivo? Se Jorge Jesus muda, será certamente porque sabe que a sua táctica habitual não é a mais sustentada e equilibrada...

A prova tem sido dada, invariavelmente e de forma penosa, na Liga dos Campeões: em cinco tentativas, apenas por uma vez Jorge Jesus conseguiu ter êxito, apenas por uma vez ultrapassou a fase de grupos da liga milionária - em todas as restantes tentativas ficou atrás de clubes como Lyon, Celtic, Olympiakos...registando, nessa prova, um volume de vitórias diminuto. Porquê? Porque, quando enfrenta equipas sólidas e tacticamente competitivas, o Benfica sofre, irremediavalmente, do seu próprio desequilíbrio.

Jogando num 4-2-4 ou no híbrido e esfíngico 4-1-3-2, o Benfica idealizado ao longo de seis anos por Jorge Jesus é geneticamente coxo; desenhado para dominar avassaladoramente contra equipas medianas/fracas (90% da composição da Liga portuguesa), a formação da Luz não sabe coexistir com a ausência de posse de bola e controlo territorial do oponente, contra equipas concentradas no meio-campo e com alto ritmo competititvo. Sempre que se depara com adversários de alto calibre, o Benfica arrisca dois cenários: ou joga consoante a sua identidade e arrisca-se a descontrolar-se, ou remete-se sofregamente à defesa e acaba por correr outro tipo de riscos...

Não é por acaso que o Benfica se nega, contra clubes fortes e reputados, a jogar na plenitude da ideologia táctica de Jesus - os jogos contra o FC Porto e contra o Sporting são disso prova evidente. Em Alvalade, a estratégia (penosa e humilhante) esteve a escassos segundos de correr muito mal; o golo de Jardel salvou a face do Benfica - sem ele, o Benfica acabaria o «derby» com um registo pior que a larga maioria das equipas da Segunda Liga. O que seria da reputação de um Benfica que perdesse 1-0 sem, durante 95 minutos, ter feito um único remate enquadrado com a baliza?

A verdade é que Jorge Jesus vive um dilema que, eternamente, continua sem resposta, apesar do problema ecoar na almofada do treinador benfiquista: porque razão não consegue o seu Benfica ideal ser forte e fiável contra os mais fortes? A predilecção táctica de Jorge Jesus, leccionada e sedimentada durante seis temporadas, parece não servir para os grandes jogos e o técnico de 60 anos admite, com as suas opções particulares, que tal inferência é verdadeira. Para subsistir em Alvalade, o Benfica castrou-se e abdicou de atacar...Termino com a seguinte pergunta: mudou a táctica o Sporting quando visitou a Luz?...