Rodrigo Tello, o último grande herói

Jogava-se a 22ª jornada, o líder FC Porto recebia o Sporting com uma confortável margem de nove pontos de vantagem em relação aos leões. Os dragões tinham assim a oportunidade de, em caso de vitória, afastar definitivamente da luta pelo título um Sporting que, perante a diferença pontual, tinha no triunfo a sua única solução.

Dado este mote, as duas equipas entraram no jogo abertas e em busca do golo, criando várias oportunidades para o alcançar; contudo o único tento da partida estava reservado para os leões quando, à passagem do minuto 71, Rodrigo Tello cobrou de forma exímia um livre directo, fazendo assim o único golo da partida. Com esse triunfo, os homens de Paulo Bento quebravam eles mesmos um enguiço, já que, até àquela data, o Sporting somava nove anos sem vencer o FC Porto em casa do mesmo.

Desde essa partida, o Sporting encetou uma brilhante recuperação no campeonato, tendo ficado a apenas um ponto do dragão que, apesar desta derrota, acabaria por se sagrar campeão nacional.

Aquele atraso

Em 2007/2008 o FC Porto recebeu os leões logo à segunda jornada. Após ambas as equipas terem vencido na primeira jornada, os dragões procuravam explorar o factor "casa" para levar de vencida um Sporting que semanas antes lhe roubara a Supertaça Cândido de Oliveira.

A equipa portista entrou melhor na partida, perante um Sporting a jogar mais na expectativa e que acabou por equilibrar as operações com o desenrolar do jogo. Este equilíbrio acabou por ser quebrado com um lance polémico, mas que se revelou absolutamente decisivo para o desenlace do clássico. Passados cerca de 5 minutos de jogo no segundo tempo e Anderson Polga corta uma bola que acaba nas mãos do guardião Stojkovic; o árbitro Pedro Proença considerou atraso ao guarda-redes, assinalado o correspondente livre indirecto. Apesar da densa muralha de jogadores leoninos sob a linha de golo, Raúl Meireles acabou por ser feliz, fazendo o único golo da partida, dando assim início a um campeonato onde os dragões dominaram a toda a linha.

O Tigre caça o Leão

Depois o insípido empate a zero em 2008/2009, os golos voltaram na época seguinte. À 6ª ronda do campeonato, dragões e leões estavam com os mesmos dez pontos, a três do rival Benfica, e a cinco do líder-sensação Sporting de Braga.

Nos dragões jogava na altura um avançado de seu nome Radamel Falcao, e foi precisamente da cabeça de El Tigre que nasceu o primeiro e único golo do jogo; apenas dois minutos de jogo e um livre cobrado na direita por Belluschi encontrou a cabeça do ponta-de-lança colombiano que fuzilou Rui Patrício e deu a vitória aos dragões. O Sporting bem tentou responder, mas os leões viram a sua missão mais complicada quando viu Anderson Polga ser expulso no início da segunda parte; já em período de compensação, Miguel Veloso seguiu o "exemplo" do colega de equipa e também viu o cartão vermelho.

Campeão não facilita

No Dragão a temporada 2010/2011 é daquelas que permanece na memória colectiva dos adeptos portistas como uma das mais bem sucedidas da sua história. Para além do título - conquistado em pleno Estádio da Luz - a equipa de André Villas-Boas conquistou também a Liga Europa e a Taça de Portugal.

O Sporting visitou o Dragão nessa época na jornada 27, altura em que os azuis-e-brancos já eram os novos campeões nacionais; já o Sporting lutava ainda pelo terceiro posto com o Sporting de Braga. Apesar desta conjuntura, os dragões não facilitaram a vida à formação leonina, acabando por vencer por 3-2. Curiosamente foi o Sporting que entrou melhor no encontro, inaugurando o marcador à passagem do minuto 11, graças ao golo de André Santos; o remate do médio leonino sofreu um desvio, acabando por trair Hélton.

Apesar de já campeão, os dragões não facilitaram e partiram em busca do empate, criando várias oportunidades; de tanto procurar o FC Porto chegou mesmo ao golo; 26 minutos jogados e um cruzamento da esquerda encontrou a cabeça de Falcao que não deu hipóteses a Patrício. Os mesmos protagonistas estariam presentes no segundo golo portista. Aos 5 minutos da segunda parte, Moutinho escapou-se pela direita e serviu o colombiano que novamente de cabeça bisou na partida, dando a cambalhota no marcador.

Quase sempre por cima no encontro, o FC Porto aumentou a vantagem aos 86 minutos, com Walter a aproveitar uma desatenção da defesa leonina para fazer o terceiro já dentro da grande área. Mas quando se pensava que a vitória seria tranquila, o Sporting respondeu quase de imediato; jogada pela esquerda e Matías Fernández, já dentro da área portista a rematar forte para o 3-2 final.

Vira o disco e toca o mesmo

Os contornos do clássico na temporada 2011/2012 eram em tudo idênticos aos da época passada. Com efeito, o FC Porto recebia o Sporting já com o título nacional no bolso, enquanto que os leões continuavam na luta pelo terceiro lugar...com o Sporting de Braga.

E se o contexto era o mesmo, o desfecho revelou seguir a mesma lógica, o FC Porto acabou por vencer, mas com os golos portistas a chegarem já bem perto do final. O jogo desenrolou-se a baixo ritmo com o FC Porto aparentemente a comandar as operações; as ocasiões de golo foram escassas, tendo a melhor pertencido ao Sporting graças a um míssil de Anderson Polga que esbarrou no poste da baliza de Hélton.

Foi apenas quando se viu com mais um jogador, após a expulsão de Onyewu, que os dragões chegaram ao golo; minuto 82 e Polga a derrbuar James Rodríguez na grande área, uma falta que valeu o penalty para a equipa da casa e também o segundo amarelo ao central leonino. Da marca dos onze metros o inevitável Hulk não teve problemas em fazer o primeiro da partida, enganando Rui Patrício. O "Incrível" acabaria por bisar já aos 90 minutos; com todo o espaço do mundo, o brasileiro arrancou fulgurante do meio-campo, contornando Patrício e empurrando para a baliza deserta.

Da Colômbia com amor

A temporada 2012/2013 fica registada como a pior da história do Sporting. Num ano com mudanças de treinador e de direcção, tudo correu mal à equipa de Alvalade e a deslocação ao Dragão não foi excepção. Jogava-se a jornada 6 do campeonato e a diferença pontual entre dragões e leões já se cifrava nos oito pontos.

O FC Porto dominou por completo a partida, adiantando-se no marcador nos momentos iniciais; 9 minutos volvidos e uma iniciativa de Danilo encontrou Jackson Martínez no coração da área que, com um belo toque de calcanhar, fez o primeiro da partida. Os azuis-e-brancos continuaram a controlar a partida e a criar as melhores oportunidades para marcar, perante um Sporting inofensivo.

No segundo tempo os portistas continuaram a dominar e podiam ter feito o segundo golo logo aos 10 minutos da etapa complementar; mão de Cédric Soares dentro da área e Pedro Proença a assinalar uma grande penalidade que Lucho González não foi capaz de transformar em golo. Contudo o segundo tento dos dragões acabaria por chegar aos 83 minutos; Jackson foi derrbuado na área por Boulahrouz e desta vez foi James Rodríguez que se encarregou de cobrar o castigo máximo, fazendo desta forma o 2-0 final.

Leão lutou mas o dragão foi feliz

A época 2013/2014 trouxe muitas novidades no reino do leão; nova direcção, nova equipa técnica, e novos jogadores num renascer leonino que, chegando à oitava jornada, dava ideia de ganhar contornos reais; o Sporting chegava ao clássico a apenas dois pontos do líder FC Porto, tendo assim oportunidade de assumir a liderança do campeonato em caso de vitória.

Cedo na partida se denotou o equilíbrio entre ambas as formações, num início de jogo muito disputado a meio-campo. Como normalmente acontece em jogos equilibrados, o segredo está no aproveitar dos erros alheios, algo que os dragões fizeram aos onze minutos. Num lance que parecia controlado, Maurício acabou por derrubar Varela dentro da área; Artur Soares Dias assinalou uma grande penalidade devidamente convertida por Josué.

Apesar da vantagem azul-e-branca, os leões não se desorganizaram e partiram em busca do empate, isto apesar de não criar grandes ocasiões na primeira parte. O tento leonino chegou no segundo tempo; à passagem dos 60 minutos, William Carvalho aproveitou uma bola perdida na área portista para fazer golo da igualdade.

Contudo a alegria sportinguista durou pouco tempo, já que o dragão voltou a aproveitar um erro do adversário e, praticamente na jogada seguinte, Danilo entrou na área e fuzilou Rui Patrício para um grande golo. O Sporting voltou a procurar o empate, agora com algum perigo, mas foi novamente a equipa de Paulo Fonseca a demonstrar mais eficácia ao fazer o 3-1; jogada de contra-ataque portista e Lucho a matar o jogo, dando mais uma vitória aos azuis-e-brancos diante do Sporting.

Apesar de já ter vencido esta temporada no Dragão para a Taça de Portugal, o Sporting apresenta um histórico negativo no que a partidas do campeonato diz respeito. Sete anos é muito tempo sem vencer na Invicta, e se dizem que os campeonatos não se decidem contra os "grandes", a verdade é que o resultado de um clássico acaba por ter um peso maior na moral e comportamento das equipas nos jogos seguintes. Veremos se os leões conseguem quebrar a malapata ou se, por outro lado, a tradição mantém-se.