Um jogo entre dois tristes leões: assim foi o Marítimo 0-1 Sporting de ontem. Numa partida lenta, sonolenta e sem competitividade que acordasse o mais emotivo espectador, o duelo nos Barreiros desenrolou-se a mau ritmo, entre faltas repetidas, jogadas de pura desconexão táctica e chorrilhos de erros técnicos, tanto para um lado como para o outro - enfim, um jogo pobre e sem motivos de interesse.

De um lado, um triste Marítimo, desprovido do seu treinador principal e à procura, entre trambolhões, da esperança, com o jovem técnico temporário, Ivo Vieira. Perdido no décimo lugar da tabela classificativa, o Leão da Madeira, a dez pontos da Europa, vive desorientado, longe dos lugares aos quais estava habituado nos últimos anos. A saída de Pedro Martins continua a ser um vazio por preencher no Caldeirão.

Do outro lado, um triste Sporting em crise motivacional, exibicionalmente à deriva, entre angústias auto-inflingidas, cansaço psicológico vindo de uma exigente direcção verberadora e um vazio desportivo que, a seu tempo, apenas a conquista da Taça de Portugal poderá preencher. Sem objectivos imediatos a não ser a manutenção (praticamente garantida) do terceiro lugar, o Sporting navegua no cálido mar do desinteresse competitivo.

E, com dois competidores em estado de apatia desportiva, natural seria que o Marítimo x Sporting causasse sono à maioria dos espectadores. O Marítimo jogou pessimamente mal: atitude passiva, sistema defensivo composto por valores duvidosos como o brasileiro Raul Silva (que protagonizou um dos mais ridículos e amadores penalties da temporada), um meio-campo despido de pudor técnico e um ataque entregue à verticalidade atabalhoada de Marega.

O Sporting não fez melhor, se atendermos ao facto do Leão ter uma equipa mais proficiente que os insulares. O Leão de Alvalade actuou de forma sonolenta, jogando a passo, arrastando as suas angústias desportivas pelo relvado dos Barreiros. Adrien, cronicamente esgotado, segue a passo nas quatro linhas e as pernas cansadas tolhem-lhe o tão exigido discernimento; Carrillo e Nani, em vez de magia, apenas dão a ilusão das fintas outrora mirabolantes e úteis.

No ataque, apenas cócegas: seja com o futebol apoiado de Montero, com a acutilância aérea de Slimani ou simplesmente com exotismo nipónico de Tanaka. O Sporting, que tinha na sua génese 2014/2015 muitas lacunas técnicas, tornou-se irreconhecível após o trágico e dramático empate caseiro frente ao rival Benfica - desde o golo de Jardel, não mais o Sporting se encontrou: está, ainda, perdido na dor fulminante do choque de se ver empatado à beira do sonho.

O momento, salvo as devidas diferenças contextuais e temporais, tem tremendas semelhanças com o fatídico derby de temporada 2004/2005, no qual o Sporting de José Peseiro visitou, na queima dos últimos cartuchos do campeonato, o Benfica da velha raposa Trapattoni. Motivado, o Leão carregou sobre o rival, que, amedrontado, se limitou a defender (precisando, apesar dessa atitude, dos três pontos). O golo doutro central, Luisão, estilhaçou, ao minuto 81, o sonho leonino.

Poder-se-á dizer que o golo de Jardel, compatriota de Luisão e seu actual parceiro defensivo, terá tido um efeito similar nos jovens leões de Alcochete. Um golo tardio que quebrou, em mil pedaços de frustração, o sonho e a esperança que tentavam, no «derby» de Alvalade, ganhar forma real. Resta, a este Sporting triste, a alegria da Taça de Portugal. Mas, até fim da temporada, é imperativo reagrupar as tropas e motivar as hostes - muito ainda há para jogar.